Já nos aconteceu a todas: em períodos de maior suscetibilidade emocional, muitas de nós duvidamos das nossas capacidades e entramos numa espiral (nada saudável) de autocrítica.
Sentir que podíamos ter feito um pouco mais ou dado algo mais de nós em determinada tarefa é normal. Mas há uma linha muito ténue que separa o que é normal do que pode ser um sinal de alarme.
Estivemos à conversa com Cátia Cerqueira, psicóloga no Hospital CUF Descobertas, e partilhamos consigo tudo o que aprendemos sobre a Síndrome do Impostor.
Afinal, o que é a Síndrome do Impostor?
Esta Síndrome manifesta-se através de uma “alteração ao nível da perceção” que a pessoa tem de si, existindo um sentimento constante de que o sucesso não é merecido e se deve a fatores externos e não à sua inteligência ou competência.
Quem tem Síndrome do Impostor tende a desvalorizar as suas próprias capacidades e a construir a “convicção de estar a enganar os outros, por sentir que aparenta ser o que não é e pelo medo de ser desmascarado, com receio de que percebam que não é assim tão competente, apesar de o ser”.
A psicóloga explica que, ainda que essa pessoa possua competências adequadas, “a tendência é a de não reconhecer as suas conquistas, permanecendo convicta de que não merece tais resultados”.
Atribuem-se, assim, essas mesmas conquistas à sorte, acaso ou a meras coincidências, sentindo que se “engana” quem as elogia ou valoriza.
Como posso saber se sou afetada por esta Síndrome?
Se não lida bem com o seu sucesso ou sente que não é merecedora das suas vitórias, devido à perceção negativa que tem de si, pode ter Síndrome do Impostor.
A especialista diz que, apesar de não ser uma doença, a Síndrome do Impostor apresenta-se com “fortes convicções negativas acerca de nós próprias, que podem gerar ansiedade e preocupação, assim como manifestações de tristeza e desânimo, sendo comum o desenvolvimento de sintomas de ansiedade e depressão”.
Outras manifestações possíveis são:
• apatia;
• perda de interesses;
• irritabilidade;
• alterações das funções cognitivas;
• alteração do sono;
• alteração do apetite;
• alterações psicomotoras;
• disfunção sexual.
Como sei se o meu amigo/familiar/parceiro tem Síndrome do Impostor?
Existem alguns sinais a que deve estar alerta. Demonstrar dificuldade em aceitar que é um ser humano com valor e ter “pouca flexibilidade de pensamento face a experiências e situações de vida” são algumas delas.
Para além disso, é importante estar atenta a “alterações de humor” e à expressão de pensamentos negativos “de auto-depreciação, baixa autoestima, insegurança e pessimismo”.
As pessoas que se encontram “fragilizadas emocionalmente” correm um maior risco de vir a ter esta Síndrome, pois tendem a ter convicções negativas muito enraizadas e dificilmente demovíveis.
O que posso fazer para lutar contra esta Síndrome?
A psicóloga refere que a chave é ajustar os pensamentos que temos em relação a nós e às situações em que nos encontramos.
Os sentimentos e emoções que sentimos são ativados pelos nossos pensamentos. Por isso, em teoria, a solução é tão simples como esta: pensar de forma diferente, para nos sentirmos de forma diferente.
Parece simples, certo? No entanto, na prática, lutar contra a Síndrome do Impostor pode não ser assim tão fácil, já que as nossas crenças tendem a estar profundamente enraizadas.
É importante “compreender e aceitar que todos somos feitos de falhas e sucessos, de coisas boas e más, e que só assim nos tornamos completos e poderemos alcançar a felicidade”.
Se nos vemos como um fracasso, mais cedo ou mais tarde, a ansiedade e tristeza chegarão. Cabe-nos a nós alterar a nossa visão de nós próprias e do que nos rodeia.
No entanto, a psicóloga alerta para a importância de recorrer a ajuda profissional caso estes sentimentos negativos persistam, já que a saúde mental e, consequentemente, a qualidade de vida, podem ser afetadas.
É possível superar por completo esta Síndrome?
A resposta curta é sim. Estas sensações negativas são superáveis a partir do momento em que “estabelecer um bom contacto interior consigo mesma”. Aceitar as suas falhas e erros como partes normais (e necessárias) de si é vital.
Isto porque, de acordo com a especialista, “a nossa felicidade não provém de acontecimentos externos, mas sim do bem-estar que podemos sentir na nossa própria pele, da harmonia que encontramos entre o que somos e o que a vida nos propicia”.