Primeiro disseram-nos que tínhamos de viver de acordo com o hygge dinamarquês para sermos mais felizes, depois, que encontraríamos o equilíbrio no lagom sueco e, agora, que vamos ganhar coragem se seguirmos o sisu finlandês.
Dos dois primeiros já deve ter ouvido falar, do último talvez não, até porque tem sido o segredo mais bem guardado pelos finlandeses, mas com a ajuda da escritora e fotógrafa Joanna Nylund, vamos desvendar-lhe tudo sobre este conceito, virado para a ação e que tem muito a ver com enfrentar desafios com uma coragem e determinação estoicas.
Sisu, o que é e de onde vem
“Não se consegue traduzir sisu com apenas uma palavra. É um conceito que significa coragem, resiliência, tenacidade e força interior. É algo que que faz com que tenhamos uma dose de combustível extra quando a vida nos coloca dificuldades. É a força que nos puxa quando estamos a ponto de desistir”, explica Joanna Nylund, autora do livro Sisu – A Arte Finlandesa de Viver com Coragem, o primeiro sobre este tema há décadas.
Na sociedade finlandesa, o sisu está presente em todo o lado e, desde muito cedo, é incutido nas crianças. Como nos diz a escritora, “os pais incentivam os filhos a encontrarem o seu sisu quando estão prestes a fazer uma coisa que os amedronta, como uma corrida ou um exame.
Se alguém nos diz que temos sisu, é um grande elogio, significa que temos coragem interior e força de caráter”. O sisu faz também com que os erros dos mais pequenos sejam vistos como uma forma de aprendizagem e de evoluir. (Saiba ainda porque é que os seus filhos podem e devem errar).
A palavra em si, sublinha Joanna Nylund, “vem de um termo antigo que significa ‘entranhas’ e da crença que a nossa força vem do estômago”, que tem mais de 500 anos, mas que só se tornou popular a partir de 1920. Então, por que é que só agora os estrangeiros começam a olhar para este conceito? “Os finlandeses são muito modestos. Não gostamos de nos gabar de nada do que temos ou fazemos. Mas acho que chegou a hora de partilharmos o sisu com o mundo, até porque não é algo exclusivo dos finlandeses, cada pessoa tem o seu, só tem de encontrá-lo”, assegura a escritora.
Desafios diários
Uma das grandes bases do sisu é desafiarmo-nos e sairmos da nossa zona de conforto, ou seja, na Finlândia incentiva-se a descoberta do prazer do desconforto. “São os desafios que nos ajudam a crescer e o sisu dá-nos foco e paz interior, e daí advém a força para mudar as circunstâncias”.
Mas como é que isso se faz? Os finlandeses fazem-no em silêncio e em contacto com a natureza. “É importante termos um tempo, idealmente todos os dias, para nos encontrarmos”, diz Joanna Nylund, que aconselha “a estar em contacto com a natureza durante 20 minutos ou passar dez minutos em casa em silêncio, sem telefones, sem música. Depois observe como se sente e quais os pensamentos e sentimentos que lhe passam pela cabeça. Só alcançamos aquela força interior, que sempre esteve lá, quando paramos de fugir de nós próprios. Não se deixe levar pela corrente das redes sociais. Retome o controlo da sua vida e vai encontrar a sua força e foco”.
O sisu ajuda-nos, então, a atingir objetivos, mas também a tonarmo-nos mais independentes nos nossos pensamentos e ações. “Viver uma vida sisu significa respeitarmo-nos a nós e às pessoas que nos rodeiam. Hoje, muitos anseiam por um mundo mais íntegro e corajoso. Precisamos de defender aqueles que são mais fracos e precisamos de ser mais honestos e atenciosos na forma como comunicamos. O sisu, mais do que um estilo de vida, é uma atitude em relação à vida que podemos aplicar a quase a tudo”.
Faz a felicidade
Será então o sisu o ‘culpado’ pela Finlândia ter atingido o topo do ranking do Relatório da Felicidade Mundial das Nações Unidas de 2018? “Penso que tem o seu papel nisso. Acreditamos que a sociedade é tão forte quanto o seu elo mais fraco”, realça a escritora, exemplificando as suas palavras: “Construímos a nossa nação juntos e cuidamos uns dos outros. A Finlândia não é perfeita e ainda há muito trabalho a fazer, mas na nossa sociedade todas as pessoas têm oportunidade de fazer algo de si mesmas. Não importa se se é rico ou pobre e a educação é gratuita. Se se está doente, acontece o mesmo: todos têm o melhor atendimento médico mesmo que não tenham dinheiro. Trabalhamos muito para criar uma sociedade segura que valorize todos da mesma forma. Acho que é isso que nos torna felizes. Afinal, o que é a felicidade senão viver a vida que queremos?”.
Voltemos, então, ao início do artigo: o que distingue o hygge, o lagom e o sisu? Para Joana Nylund, são três conceitos diferentes, mas não se excluem uns aos outros. “As pessoas tendem a compará-los porque são oriundos do Norte da Europa, mas, por outro lado, os países nórdicos têm muitas coisas em comum. Partilhamos os mesmos valores, as mesmas ideias sobre o que faz uma sociedade ser bem-sucedida. Acho que são diferentes lados de uma mesma coisa: saber viver uma vida de boas escolhas para cada indivíduo e para a sociedade que o rodeia.”
Por onde começar
Dê início a uma vida sisu com pequenos passos, que tanto vão fazer por si.
1. Faça uma caminhada na natureza. Respire, pare e atreva-se a passar algum tempo consigo mesma.
2. Tenha aquela conversa que tem andado a adiar de forma direta e sincera.
3. Faça uma excursão com os miúdos. Vistam-se adequadamente e não ceda a qualquer tipo de queixas sobre o tempo. Aproveite esta atividade para encontrar a sua criança interior.
4. Defina um objetivo de boa forma física. Não tem de impressionar ninguém, o sisu é simplesmente fazer algo para si.
5. Reveja como comunica online. Dispense o anonimato venenoso e desenvolva a integridade e a amabilidade.
Fonte: Adaptado do livro Sisu, Joanna Nylynd, Nascente
Já tinha ouvido falar do Sisu? Gostava de aplicá-lo no dia a dia?