As ofensas verbais já eram recorrentes, mas tudo começou a piorar quando Mallory, uma ginasta de Nova Jersey, entrou para o ensino médio (equivalente ao nosso 2.º ciclo do ensino básico).
Os colegas “tiravam-lhe fotografias sem que ela tivesse conhecimento e, de seguida, publicavam-nas na Internet, acompanhadas de textos muito cruéis. Diziam-lhe que não tinha amigos e questionavam-na sobre quando é que se mataria”, disse Dianne Grossman, mãe de Mallory, ao jornal The New York Times.
Esta é mais uma das histórias que, infelizmente, se repete com alguma regularidade nos Estados Unidos. Mallory, de 12 anos, acabou por se suicidar, mesmo depois de a mãe ter alertado a comunidade escolar para o problema. O cyberbullying é um fenómeno mais complexo do que o bullying offline por ter características mais difíceis de controlar.
“A intenção de provocar danos é imediatamente intensificada, repetida e partilhada e tudo é exponenciado pelas condições de anonimato e maior sensação de impunidade associada”, diz Rita Fonseca de Castro.
Prevenir é melhor do que remediar
A melhor forma de evitar uma situação de bullying é preparar as crianças e adolescentes para a situação. Os pais “devem criar e manter um clima de abertura de diálogo com a criança, de comunicação saudável e confiança, validando e trabalhando emoções e o impacto destas na própria e nos outros. Estas são ferramentas fundamentais para preparar a criança para uma eventual situação de bullying e potenciar que esta a partilhe com os pais”, explica o psicólogo clínico Tiago Fonseca.
Caso a criança não se mostre disponível para conversar, “é importante não insistir no desabafo, sendo fundamental articular-se com o estabelecimento educativo, através de um interlocutor privilegiado, e procurar soluções conjuntas”, acrescenta Rita Fonseca de Castro, psicóloga clínica e terapeuta familiar.
Em relação ao cyberbullying, “é urgente diminuir a importância das tecnologias na vida dos mais jovens. Da mesma forma que na comunicação entre pessoas o uso de tecnologia deve ter um conjunto de regras de atuação que permitam a livre expressão, mas que potenciem o respeito mútuo, ao invés de serem plataformas mais difíceis de fiscalização por parte dos educadores e pais”, diz-nos Tiago Fonseca.
Controlo digital
Os pais têm um papel muito importante na prevenção de situações como o bullying e o cyberbullying. Embora este seja um tema controverso, o uso de aplicações de controlo parental é uma ótima solução para que casos como estes sejam detetados a tempo.
“A fiscalização da comunicação é mais difícil nas tecnologias, pois é mais difusa e ocorre de formas muito díspares entre aplicações e formatos. As aplicações de controlo parental podem permitir uma maior atenção por parte dos pais e algum acompanhamento de situações mais limítrofes de comunicação entre o seu filho e outras crianças”, explica Tiago Fonseca.
Mas, então, como sabemos que estamos a ultrapassar os limites da ética? Quando percebe “que se está a consultar a atividade da criança ou jovem na Internet por curiosidade e não para assegurar a sua segurança e proteção. Por exemplo, quando se lê uma conversa com um amigo em que predomina um tom próximo e de confiança, sem qualquer conteúdo ameaçador”, acrescenta Rita Fonseca de Castro.
Como combater o cyberbullying
A psicóloga clínica Rita Fonseca Castro aponta seis soluções práticas para lutar contra este tipo de violência.
1. Primeiramente, explique à criança o que é o cyberbullying e, se for necessário, simule uma situação hipotética para que possa saber como reagir.
2. Estabeleça, negoceie regras e fale sobre os perigos da Internet – podem ser usados exemplos concretos, retirados das notícias, por exemplo.
3. Fale sobre privacidade e estabeleça regras sobre o que a criança deve ou não fazer e que ligações deve estabelecer na Internet.
Os pais devem ser vigilantes em relação à ‘navegação’ na Internet, podendo ver o histórico de sites visitados – com conhecimento dos filhos – e questionando-os sobre o que consultaram.
4. Ensine e discuta sobre os comportamentos aceitáveis nas interações humanas. Fale sobre os direitos humanos e promova o respeito pelo outro e pela diferença.
5. Evite o uso isolado de computadores e outros dispositivos com acesso à Internet, colocando-os em locais de acesso comum. Além disso, partilhe as palavras-passe das redes sociais.
Neste âmbito, deverão ter cuidados especiais, como por exemplo, definir regras restritas para o uso de webcams.
6. Nos casos em que se comprove a existência de cyberbullying, deverão ser alterados elementos como o número de telemóvel, e-mail e palavras-passe.