Sociedade

Crónica. Ser mulher: desafios e o que não pode descurar

Ser mulher pode ser sinónimo de abraçar o mundo esquecendo-se de si mesma. Com frequência, chegam-me mulheres exaustas à consulta de Psicologia, por isso, quero deixar algumas sugestões para que consiga tomar decisões mais saudáveis e equilibradas.

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Crónica. Ser mulher: desafios e o que não pode descurar Crónica. Ser mulher: desafios e o que não pode descurar
© Unsplash
Catarina Canelas Martins
Escrito por
Mar. 23, 2021

Ser mulher está frequentemente associado a viver mil e um papéis. Até há quem diga que as mulheres são multitaskers por natureza. O que é facto é que assumir todas essas valências pode levar a um grande desgaste e até ao esgotamento.

Em média, a mulher trabalha mais horas, comparativamente com o homem, assume papéis diversos fazendo malabarismo entre várias áreas da vida, tentando chegar a todas da melhor forma.

Essa divisão entre tantos papéis contribui para um enorme cansaço do qual a mulher muitas vezes não consegue fugir, visto que socialmente continua a esperar-se que seja capaz de assumi-los com sucesso, mantendo-se num ciclo sufocante do qual muitas não conseguem sair, por medo, vergonha ou até culpa.

Por vários motivos, a mulher acaba por estar mais vulnerável física e psicologicamente. Assim, é importante que a mulher se conheça para que possa colocar limites, tomar decisões e cuidar-se no sentido de proteger a sua saúde.

6 dicas para ser uma mulher empoderada

1. Conheça e cuide do seu corpo

Conhecer o seu corpo é essencial para poder tirar o melhor partido das suas capacidades. Quer seja para se sentir bem ou até mesmo para experienciar a sua sexualidade de uma forma satisfatória, é importante que a mulher conheça o seu corpo, como funciona e responde aos vários estímulos, para que possa identificar sinais e comunicar melhor necessidades ou até mesmo procurar ajuda.

Sabemos que a alimentação e o exercício físico contribuem para o bem-estar não só físico como emocional. Mantendo-se saudável a este nível, irá prevenir doenças e vulnerabilidades acrescidas.

Fazer um check-up de rotina com o seu médico, cuidar da sua alimentação, conhecer o seu corpo no geral irá beneficiá-la e protegê-la.

Cuidar do seu corpo, nomeadamente do seu sistema reprodutivo (que tem uma influência tão particular na sua qualidade de vida), será também uma mais-valia, mesmo que escolha não ser mãe. Isto porque este sistema está intimamente ligado com o nosso bem-estar global, pelo papel essencial que as hormonas desempenham no equilíbrio físico e emocional da mulher.

2. Cuide da sua mente e das suas emoções

Conhecer-se a si mesma e não negligenciar as suas emoções e necessidades irá ser um ponto essencial. Facilmente entramos num ciclo de tarefa atrás de tarefa, afim de dar resposta a todos os papéis que acumulamos. Trabalho, relacionamentos, gestão doméstica, filhos e/ou relações familiares, etc., e acabamos por abdicar de um espaço para nos escutarmos e cuidarmos.

Não ouvir as suas emoções e necessidades poderá levá-la a sentir-se numa espiral de exigência que se irá refletir na forma como se sente, lida com os outros e consigo mesma.

Pensamentos negativos, alterações de humor, mudanças no apetite, cansaço e dores físicas, são sinais de que estará a precisar de fazer algo diferente e poderá precisar de ajuda nesse sentido. E está tudo ok se precisar!

Sendo cada uma de nós a responsável pela sua vida, terá sempre de partir de nós o compromisso de viver uma vida mas feliz
Catarina Canelas Martins Catarina Canelas Martins

3. Cuide das suas relações

Escolha a forma como se relaciona com os outros, quer respeitando a sua disponibilidade ou indisponibilidade para os outros, quer escolhendo relações saudáveis.

Existem estudos que dizem que somos o reflexo das pessoas com quem nos relacionamos. Atitudes, estilo de vida, padrões de pensamento, todos estes aspetos são influenciados pelas pessoas com quem escolhemos passar o nosso tempo e ligarmo-nos. Além disso, a qualidade das nossas relações afeta o bem-estar, sendo imperativo cuidar também deste aspeto da nossa vida.

Que pessoas queremos ter por perto? Como nos sentimos com essas pessoas? Que limites colocamos? Como está a nossa comunicação? Dedico tempo suficiente às pessoas de quem gosto?

4. Conheça-se!

O autoconhecimento ajuda a que todos os nossos comportamentos se ajustem de acordo com os nossos valores, com aquilo que realmente importa.

Conhecer-mos quem somos, as nossas influências, feridas, hábitos, tendências, ajudará a reconhecer ciclos menos positivos, caminhos mais nocivos e incongruências.

Por norma, quando existe algum tipo de dissonância entre aquilo que fazemos, pensamos e sentimos, começamos a sentir desconforto, ansiedade, tensão. Conhecermo-nos irá permitir mais facilmente perceber o que está a acontecer e agir em consonância com aquilo que queremos para nós.

5. Tome decisões para a sua vida

Tomar decisões é comum a todos os aspetos da nossa vida. A mudança parte sempre da tomada de consciência e decisões. Sendo cada uma de nós a responsável pela sua vida, terá sempre de partir de nós o compromisso de viver uma vida mas feliz, satisfatória, equilibrada.

Não se esqueça que vidas felizes também têm dias tristes ou mais difíceis. Conheça-se, assuma a responsabilidade e tome decisões!

Conhecer-se, cuidar-se, tomar decisões irá contribuir para uma vida balanceada e equilibrada
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6. Diga não e peça ajuda

Muitas vezes é difícil dizer “não”. Ao chefe, ao marido, filhos, amigos, colegas… Esse fardo que carregamos por culpa poderia ser resolvido se aceitássemos que não podemos chegar a todo o lado, com competência, energia e bem-estar.

Se conseguirmos perceber que muitas das exigências que nos colocamos não são nossas, mas sim mantidas por medo, culpa ou vergonha, conseguiremos começar a desmontar esse ciclo destrutivo e colocar limites.

Contudo, os limites não têm de ser colocados de forma agressiva. Podemos temer a reação dos outros quando estes forem colocados, e muitas vezes é isso mesmo que leva a que adiemos, que os coloquemos quando já estamos num limite ou nunca os cheguemos a colocar.

Se compreendermos que colocar limites é um direito nosso e que isso irá permitir construir relações que respeitem quem somos, alimentando caminhos mais saudáveis e sustentáveis, talvez consigamos ver as vantagens de começar esse exercício.

Dizer “não” não tem de significar fraqueza ou abandono. Dizer “não” é uma forma dos outros conhecerem aquilo que para si é ou não aceitável.

Embora pedir ajuda possa ser assustador pela vulnerabilidade que acarreta, sabemos que as relações se tornam mais fortes e saudáveis quando existe espaço a esta honestidade.

Ser mulher pode ser um lugar bonito

Ser mulher não tem de ser um lugar de exigência, de tarefas infindáveis, desafios sufocantes e muito menos de solidão.

Conhecer-se, cuidar-se, tomar decisões irá contribuir para uma vida balanceada e equilibrada, sem espaço para quem não respeita as suas necessidades e limites. E mesmo que isso possa parecer assustador, garanto-lhe que também é libertador!

Catarina Canelas Martins, psicóloga clínica e terapeuta Emdr, tem desenvolvido o seu trabalho nos últimos anos com famílias e adultos na Clínica de Psicologia e Coaching Learn2Be. Apaixona-a tudo o que envolva o bem-estar emocional e psicológico pois acredita que sem essa estabilidade e equilíbrio não é possível vivermos no nosso máximo potencial. Siga-a nas redes sociais Facebook e Instagram.

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