Anya Hindmarch: “Devemos acreditar em nós, abraçar quem somos e não pedir desculpa por isso”
É uma empresária de sucesso na área da moda, tem cinco filhos e um casamento feliz e quer mostrar às mulheres que não é preciso comportarem-se como homens no mundo dos negócios. O seu conselho primordial é que se ponham em primeiro lugar.
Aos 16 anos, retratou-se num desenho à entrada de uma loja de sacos e carteiras com o seu nome. Dois anos mais tarde, em vez de ir para a faculdade, decidiu ir para Florença aprender tudo sobre moda para lançar a sua marca de acessórios de luxo, à qual deu o seu próprio nome, em Londres, um ano depois.
Vê esse percurso como normal, já que na sua família se falava de negócios ao pequeno-almoço e a sua vida foi sendo feita de conquistas: foi a primeira designer de acessórios a criar um desfile para a London Fashion Week e as suas apresentações artísticas em anfiteatros espaciais e casas suburbanas ou campanhas como a Chubby Hearts – que pôs 24 balões gigantes em forma de coração a sobrevoar Londres – tornaram-se lendárias.
A marca Anya Hindmarch é conhecida sobretudo pelos acessórios luxuosos (carteiras, sacos, malas de viagem, etc.), mas há muito que ultrapassou a fronteira da moda. Tem ainda artigos para a casa, estacionário e comida.
Lançou-se nos perfumes em 2017, ano em que recebeu o grau de comendadora do Império Britânico. Integra ainda as administrações do museu Tate e da The Royal Marsden Cancer Charity , é administradora emérita da Royal Academy of Arts e do Design Museum e conselheira da Junta do Comércio britânica. Agora, reuniu todos os conselhos que foi aprendendo sobre o que é ser-se mulher, mãe, madrasta, casada, mulher de negócios e empresária no livro Na Dúvida, Lave o Cabelo (Lua de Papel).
Escreveu-o, diz-nos, como se fosse para a sua filha ou para a melhor amiga e dá dicas para gerir tudo, desde liderar equipas, gerir dinheiro, divertir-se no trabalho, manter a família unida, escolher mentores, organizar a casa ou dormir bem. Garante ainda que não é preciso comportarmo-nos como homens para vencer no mundo dos negócios. “Como toda a gente, passei por muitos momentos de dúvida ao longo da vida e acho que a maioria das pessoas não é honesta sobre o assunto. Portanto, o livro é sobre o que aprendi, como superei os desafios que enfrentei e os conselhos que recebi ao longo do caminho”, explica.
Entrevista a Anya Hindmarch
Por que escolheu esse título? Lavar o cabelo é o primeiro passo para se sentir bem?
Para mim, trata-se de ter a certeza de que cuidamos de nós próprias. Muitas vezes, com todo o malabarismo que fazemos para responder aos diversos papéis de uma mulher, tanto no trabalho como em casa, esquecemo-nos de pôr as nossas próprias necessidades na lista. No meu caso, sinto-me realmente melhor depois de reservar algum tempo para lavar o cabelo. Por um lado, é leviano, até mesmo trivial, por outro, todos os que sorriem com meu pequeno conselho também devem, de alguma forma, identificar-se com a dúvida a que me refiro.
Como foi fundar uma empresa aos 18 anos?
Cresci numa casa onde conversas sobre negócios eram comuns à mesa do pequeno- almoço. A linguagem de lucros e perdas fazia parte da conversa tanto como os ovos e as torradas, portanto sempre foi algo muito familiar. Sempre quis ter o meu próprio negócio, por isso, pareceu-me a coisa certa a fazer.
Esperava chegar onde chegou com a sua marca?
Como a vê no futuro? Não tinha expectativas quando comecei; tudo cresceu de forma orgânica ao longo dos anos. Em 2021, inaugurámos o The Village, um cluster de seis lojas na Pont Street, em Londres. Temos o Anya Café, uma pequena joia que serve os melhores bolos e almoços ligeiros, bem como o nosso Village Hall, uma concept store em constante evolução, e as nossas lojas Bespoke, Labelled, Life e Collection. Há sempre muitos projetos em andamento e ideias em crescimento…
Passou por di culdades por ser mulher no mundo dos negócios?
É difícil dizer se os desafios que enfrentei foram especificamente porque sou mulher. Já participei em reuniões de conselhos de administração dominadas por homens e duvidei de mim mesma. Mas com a experiência vem a confiança e talvez até um pouco de sabedoria.
Qual foi o maior desafio no equilíbrio entre a vida familiar e a profissional?
É tão difícil e temo que não existam respostas mágicas. Cada fase é diferente e traz desafios diferentes, mas aproveite tudo, a vida passa a correr. E trabalhe em equipa, não conseguimos fazer tudo sozinhas.
Acha que a sociedade atual é mais exigente com as mulheres do que com os homens?
Não creio que se trate de colocar as pessoas umas contra as outras, mas de trabalharem juntas. Temos muito que fazer e precisamos de aprender a prosperar juntos.
No livro, refere que, há alguns anos, uma pessoa lhe disse que deveria deixar as emoções de lado. O que sentiu naquele momento?
Inicialmente, deixou-me com raiva, mas fez-me perceber que as minhas emoções são, na verdade, o meu superpoder. O meu negócio e a minha marca são construídos com base na emoção e impulsionados por pessoas que respondem a essa emoção.
Outro tema que aborda é a ideia, da qual discorda, de que as mulheres são más umas para as outras…
Trabalhei com muitas mulheres e há uma empatia, inteligência emocional e destreza incríveis que vêm da capacidade de conciliar a logística implacável que todas nós temos de conciliar… Atualmente, trabalhamos tanto como os nossos pais, enquanto tentamos viver à altura do exemplo das nossas mães. Devemos acreditar em nós, abraçar quem somos e não pedir desculpa por isso. Quanto mais mulheres vejo que se deram bem e prosperaram, mais acredito que é possível. Cabe-nos a todas sermos esses modelos para mostrarmos à próxima geração que é possível.
Afirma ainda que aos 50 anos se sente como se tivesse 18. É esse o seu segredo?
Talvez! Adoro desenvolver um negócio. Adoro desafiar a moda e usá-la para provocar mudanças. É isso que me interessa e vou fazê-lo enquanto puder.
Defende que primeiro devemos cuidar de nós para podermos cuidar dos outros. Como cuida de si?
Passo tempo com a minha família e com os meus amigos, faço longos almoços ao ar livre com velas e fogueiras, como frango assado, caminho e rio muito.