Marisa Liz: “O amor-próprio vai sendo conquistado à medida que abrimos o nosso coração”
Marisa Liz já conta com 30 anos de carreira e a Saber Viver entrevistou a cantora e compositora para descobrir mais sobre o amor-próprio e o novo single Por Amor. Ora veja.
A cantora e compositora Marisa Liz tem vindo a treinar o amor-próprio com perdão e conhecimento e esta é uma mensagem que passa constantemente aos filhos, mas acaba de alargar o tema ao novo single Por Amor. Precisamos de tempo para nos conhecermos para depois nos aceitarmos e evoluirmos, realça.
Entrevista a Marisa Liz
O single Por Amor que abre o novo EP é um tema sobre amor-próprio. Por que motivo resolveu tocar neste tema? Há falta de amor-próprio na sociedade de hoje?
Por Amor é uma música minha e do Diogo Branco com letra do Pedro da Silva Martins. É uma música de amor-próprio, é uma letra para mim. Se temos falta de amor-próprio? Eu acho que sim, acho que todos nós não tivemos bem a liberdade e o tempo de sentirmos aquilo que somos, de percebermos o que queremos fazer e para onde é que queremos ir. Andamos todos meio perdidos, à procura de alguma coisa que ninguém sabe o que é e num caminho que a maior parte de nós não sabe bem para onde nos leva. Acho que isso tem que ver com o amor-próprio, por não termos dedicado, por exemplo, o tempo que demorámos a aprender matemática, a conhecermos quem somos, as nossas partes melhores e as menos boas, para termos tempo de aceitar, de compreender e de evoluir.
Sempre foi uma pessoa com amor-próprio?
Acho que nós vamos sendo. Sempre fui uma pessoa insegura em relação a muita coisa, fui treinando esse amor-próprio, porque é muito difícil viver numa sociedade de competição, onde estamos constantemente à procura do melhor de qualquer coisa, quando acredito que não há um melhor, há vários. Essa competição que nos foi incutida desde pequeninos e que vem de há muitas gerações fez com que eu tivesse inseguranças em relação a muitas coisas. Ao não nos identificarmos com uma data de coisas e tentarmos integrarmo-nos em situações que só mais tarde é que nos apercebemos que não temos de nos integrar. Portanto, acho que este amor-próprio vai sendo conquistado à medida que abrimos o nosso coração para nós mesmos, que aceitamos aquilo que somos e que temos orgulho em tentarmos ser melhores.
O amor-próprio tem sido o motor das suas conquistas pessoais e profissionais?
Acho que aquilo que eu sinto por mim é um motor das minhas conquistas pessoais e profissionais, mas não só. É um amor também por quem me rodeia, mas a minha drive vem de melhorar a minha vida e, consequentemente, a minha vida será melhor se eu melhorar a vida dos que estão à minha volta e vice-versa. Portanto, acho que é uma junção de
amor-próprio e de amor por aqueles que eu amo. Mas o conseguir fazer, o ir em frente, o não desistir, o lutar pelos sonhos, acho que tem que ver com o encontro de um sítio em nós de tranquilidade e de paz, de fazermos uma coisa de que gostamos e que nos faz feliz. Considero que o grande motor será o meu amor-próprio.
Quando se é uma figura pública, o amor-próprio tem ainda mais importância pelo escrutínio constante?
Sendo figura pública ou não, todos vivemos com estas diferenças, com estas oscilações de insegurança, de mais amor e menos amor por nós. Até pode ser bastante perigoso, quando somos conhecidos, quando somos uma figura pública, para o bom e para o mau. Se não tivermos amor-próprio, alguma coisa que nos digam que não seja positiva pode deitar-nos abaixo, mas também o contrário, porem-nos num sítio que não é verdadeiro, que não é real. Somos todos iguais, simplesmente temos profissões diferentes e temos de estar cientes do que somos e de estarmos em ligação com aquilo que vamos sendo.
Como trabalha o amor-próprio?
Com perdão, com conhecimento, com informação, com tentativas de querer saber mais e de aprender também a pensar. Às vezes, pensamos que o saber mais é termos toda a informação e pormos tudo para dentro do nosso cérebro e pensarmos sobre tudo aquilo que sabemos e que não sabemos. Mas trabalha-se o amor-próprio com amor.
É um trabalho que também faz com os seus filhos?
Espero que sim, essa é a minha intenção. Passo aos meus filhos a importância de termos amor-próprio e de que isso vai ser o motor para eles serem bons para eles e para quem os rodeia, de acreditarem nos sentimentos deles, nas opiniões, nas ideias, irem aprendendo e não confiarem só no cérebro dos outros. O nosso cérebro e o nosso coração dão-nos muitas respostas e temos de confiar neles.
Ao fim de 30 anos de carreira, o que é que a música ainda lhe traz?
Traz-me o que me trazia no início, traz-me alegria genuína, é um motor onde eu exteriorizo as minhas emoções, as melhores e as piores. É uma amiga, sempre foi. A música traz-me bons e maus momentos, traz-me a vida, traz-me o meu caminho.
O que é que ainda não fez na música que quer muito fazer?
Tudo o que ainda não fiz que ainda não sei o que é. Há coisas que já tenho aqui dentro da minha cabeça que quero fazer e que é só concretizar; há outras que ainda não sei que quero fazer e que vão aparecer no meu caminho.
Qual é o seu grande sonho?
É dar o máximo de mim, não até não aguentar mais, é dar o máximo a mim mesma para ter mais momentos felizes. Acredito que a felicidade não é um estado, é uma emoção, portanto é impossível estarmos felizes 24 horas por dia, mas quero ter muitos momentos felizes, conseguir educar os meus filhos de forma que eles escolham e tomem as melhores decisões para o seu coração e para o processo de evolução que todos temos que ter até a vida acabar. O meu grande sonho é que houvesse mais amor e empatia, sei que parece daquelas coisas das misses, mas é a verdade, porque às vezes é difícil ter um momento feliz quando à volta não há assim tantos. Portanto, o meu sonho… não sei. Tenho de responder a esta mais tarde, daqui a uns anos. Como dizia o meu Mr. Miyagi do Butão, “keep walking Marisa”. Acho que o meu grande sonho é continuar a sonhar.
Amor em forma de EP
Mensagens de Amor é o mais recente EP de Marisa Liz e é uma junção de algumas canções que fizeram parte da sua vida.
“Foram muitas mais, mas aqui selecionei três e um original que falam sobre mensagens de amor. Nem sempre de amor para alguém, mas para nós, de amor-próprio, de amor pelo outro, de amores que não correm bem. Quis juntar estas mensagens de amor ao meu álbum anterior, Girassóis e Tempestades”, explica a cantora.
Um ciclo, como lhe chama, que vai fechar nos Coliseus de Lisboa e Porto, nos dias 10 e 24 de fevereiro, respetivamente.