18 horas, quarta-feira, 14 de março. Marielle estava no debate ‘Jovens Negras Movendo as Estruturas’, enquanto o transmitia ao vivo no seu Twitter para todas as mulheres que se quisessem juntar à discussão sobre um tema pertinente no Brasil. Saiu, entrou no carro e, segundo a Polícia Civil, foi assassinada às 21h30 com quatro tiros na cabeça.
Marielle Franco deixou ao Brasil uma onda de indignação e revolta que está a emocionar o mundo. Era ativista, dizia orgulhosamente que era ‘filha de Maré’, umas das favelas mais complicadas do Rio de Janeiro, e lutava diariamente contra o racismo e contra a violência levada a cabo pela polícia brasileira.
e neste dia de luto, desejo que não nos calemos. que sejamos mais fortes. que gritemos mais. que lutemos mais. que cada vez nossa voz seja mais alta. Marielle deixou uma história para que nós continuemos. sejamos unidas e fortes. #MariellePresente pic.twitter.com/cpmu96o5LN
— tournesol (@mwlancolia) March 15, 2018
Depois do assassinato, o seu partido, PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), manifestou-se com dor e desilusão sobre a morte da vereadora: “Exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos!”.
Afinal, quem era Marielle? Porque é que a sua voz incomodava tanto?
Marielle Franco, a mulher que era mais do que política
Licenciou-se na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e seguiu para o mestrado em Administração Pública, na Universidade Federal Fluminense. Estreou-se nas eleições municipais, em 2016, onde angariou 46 mil votos, tornando-se assim a quinta vereadora com mais votos do Rio da Janeiro.
Negra, mãe de uma jovem de 19 anos, lésbica, a vereadora era uma lutadora pelos direitos humanos, pelos direitos das mulheres e combatia a intolerância religiosa e racial.
Era fortemente apoiada por Michel Temer, presidente do Brasil, e lançava duras críticas às forças militares do Rio de Janeiro pelos alegados envolvimentos em assassinatos de jovens negros nos últimos tempos. A indignação de Marielle era visível e partilhada no seu Twitter pessoal. Um dia antes da sua morte, escreveu o seguinte:
Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?
— Marielle Franco (@mariellefranco) March 13, 2018
Segundo o El País Brasil, foi na rua Joaquim Palhares, que Marielle e o motorista Anderson Pedro Gomes morreram, sem que nenhum dos seus pertences tenha sido roubado. Isto retira alguns dúvidas sobre o caso. Uma delas é que o crime foi direcionado a Marielle com o objetivo único de lhe tirar a vida.
No carro estava também Fernanda Chaves, assistente da vereadora, que ficou apenas ferida devido aos estilhaços.
#MariellePresente: a hashtag que vai fazer história
O Brasil (e o mundo) está de luto. Porém, este luto não é feito em silêncio, com pesar e de cabeça baixa. Em vez de preto, as pessoas pintam o corpo e as roupas com frases de protesto, de força, de revolução. Os cartazes erguem-se e a internet funciona como veículo número 1 de divulgação desta indignação e manifestação.
Esta quinta-feira, 15, milhares de pessoas juntaram-se em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde centenas de imagens – de cortar a respiração – foram partilhadas. As ruas vestiram-se de cartazes a dizer ‘Companheira Marielle Presente’ e outras frases como ‘Eles tentam contra a democracia e as nossas vidas. Resistiremos’.
No Twitter, e noutras redes sociais, a hashtag #MariellePresente navega para perpetuar a revolta da morte da vereadora. Em Portugal, não foi diferente.
A gente torce por uma renovação na política, daí vem uma mulher, negra, mãe solteira, da Maré, faz faculdade, pós-graduação, é eleita pela primeira vez com a 5ª melhor votação e eles a executam dentro de carro oficial, como se dissessem: aí não é o seu lugar #Mariellepresente pic.twitter.com/WS52Vy4ELT
— Carol Pires (@pirescarol) March 15, 2018
Também na quinta-feira, foi organizada uma vigília na Praça Luís de Camões, no Chiado, e na segunda-feira, 19 horas, no mesmo local, vai decorrer a Vigília pela Feminista Marielle Franco, pelas 18 horas. O Porto recebe no mesmo dia o evento Marielle Franco, Presente! O Mundo não se Cala, em frente ao Consulado-Geral do Brasil, na Avenida da França, 20.
O movimento estendeu-se ao resto do mundo e foram dezenas os países que aderiram às vigílias da ‘filha de Maré’. França, Argentina, Uruguai e Estados Unidos da América (onde participaram cidades como Nova Iorque e Washington D.C.), organizaram através do Facebook várias vigílias.
Se fizer ainda uma pesquisa pela hashtag #MariellePresente no Instagram, encontrará mais de 50 mil publicações relacionadas com o tema. Fotos da vereadora, vídeos, frases inspiradoras, ilustrações, e muitas outras homenagens à mulher que morreu a lutar pelo que acreditava.
A fúria propaga-se pelas ruas. Por Marielle, pelo Brasil, por nós.
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