A luta de Marielle é a de todos nós. Do Brasil para o mundo

A luta de Marielle é a de todos nós. Do Brasil para o mundo

Tinha 38 anos, era vereadora do partido de esquerda brasileiro PSOL e apenas 24 horas antes da sua morte tinha criticado as acções da Polícia Militar do seu país. Marielle Franco foi assassinada. A sua luta continua, mas agora somos nós que a lideramos.

Por Mar. 16. 2018

18 horas, quarta-feira, 14 de março.  Marielle estava no debate ‘Jovens Negras Movendo as Estruturas’, enquanto o transmitia ao vivo no seu Twitter para todas as mulheres que se quisessem juntar à discussão sobre um tema pertinente no Brasil. Saiu, entrou no carro e, segundo a Polícia Civil, foi assassinada às 21h30 com quatro tiros na cabeça.

Marielle Franco deixou ao Brasil uma onda de indignação e revolta que está a emocionar o mundo. Era ativista, dizia orgulhosamente que era ‘filha de Maré’, umas das favelas mais complicadas do Rio de Janeiro, e lutava diariamente contra o racismo e contra a violência levada a cabo pela polícia brasileira.

Depois do assassinato, o seu partido, PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), manifestou-se com dor e desilusão sobre a morte da vereadora: “Exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos!”.

Afinal, quem era Marielle? Porque é que a sua voz incomodava tanto?

Marielle Franco, a mulher que era mais do que política

Licenciou-se na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e seguiu para o mestrado em Administração Pública, na Universidade Federal Fluminense. Estreou-se nas eleições municipais, em 2016, onde angariou 46 mil votos, tornando-se assim a quinta vereadora com mais votos do Rio da Janeiro.

Negra, mãe de uma jovem de 19 anos, lésbica, a vereadora era uma lutadora pelos direitos humanos, pelos direitos das mulheres e combatia a intolerância religiosa e racial.

Era fortemente apoiada por Michel Temer, presidente do Brasil, e lançava duras críticas às forças militares do Rio de Janeiro pelos alegados envolvimentos em assassinatos de jovens negros nos últimos tempos. A indignação de Marielle era visível e partilhada no seu Twitter pessoal. Um dia antes da sua morte, escreveu o seguinte:

Segundo o El País Brasil, foi na rua Joaquim Palhares, que Marielle e o motorista Anderson Pedro Gomes morreram, sem que nenhum dos seus pertences tenha sido roubado. Isto retira alguns dúvidas sobre o caso. Uma delas é que o crime foi direcionado a Marielle com o objetivo único de lhe tirar a vida.

No carro estava também Fernanda Chaves, assistente da vereadora, que ficou apenas ferida devido aos estilhaços.

#MariellePresente: a hashtag que vai fazer história

O Brasil (e o mundo) está de luto. Porém, este luto não é feito em silêncio, com pesar e de cabeça baixa. Em vez de preto, as pessoas pintam o corpo e as roupas com frases de protesto, de força, de revolução. Os cartazes erguem-se e a internet funciona como veículo número 1 de divulgação desta indignação e manifestação.

Esta quinta-feira, 15, milhares de pessoas juntaram-se em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde centenas de imagens – de cortar a respiração – foram partilhadas. As ruas vestiram-se de cartazes a dizer ‘Companheira Marielle Presente’ e outras frases como ‘Eles tentam contra a democracia e as nossas vidas. Resistiremos’.

No Twitter, e noutras redes sociais, a hashtag #MariellePresente navega para perpetuar a revolta da morte da vereadora. Em Portugal, não foi diferente.

Também na quinta-feira, foi organizada uma vigília na Praça Luís de Camões, no Chiado, e na segunda-feira, 19 horas, no mesmo local, vai decorrer a Vigília pela Feminista Marielle Franco, pelas 18 horas. O Porto recebe no mesmo dia o evento Marielle Franco, Presente! O Mundo não se Cala, em frente ao Consulado-Geral do Brasil, na Avenida da França, 20.

O movimento estendeu-se ao resto do mundo e foram dezenas os países que aderiram às vigílias da ‘filha de Maré’. França, Argentina, Uruguai e Estados Unidos da América (onde participaram cidades como Nova Iorque e Washington D.C.), organizaram através do Facebook várias vigílias.

Se fizer ainda uma pesquisa pela hashtag #MariellePresente no Instagram, encontrará mais de 50 mil publicações relacionadas com o tema. Fotos da vereadora, vídeos, frases inspiradoras, ilustrações, e muitas outras homenagens à mulher que morreu a lutar pelo que acreditava.

A fúria propaga-se pelas ruas. Por Marielle, pelo Brasil, por nós.


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