Mais de 1300 pessoas sentaram-se na Aula Magna, em Lisboa, para assistir à apresentação do estudo As Mulheres em Portugal, Hoje. Uma assistência maioritariamente composta por mulheres; e parte dos indivíduos do sexo masculino presentes parecia fazer parte da comitiva do Presidente da República Portuguesa.
Curiosamente, Marcelo Rebelo de Sousa abriu a conferência com palavras que faziam adivinhar, nas conclusões da pesquisa em questão, profundas desigualdades entre os géneros.
Coordenada pela economista espanhola Laura Sagnier e publicada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em fevereiro de 2019, a investigação procurou fazer um retrato atualizado das mulheres que residem no País.
Para tal, inquiriu uma amostra composta por 2428 pessoas do sexo feminino (representando um universo de 2,7 milhões), com idades entre os 18 e os 64 anos – ou seja, capazes de responder por computador –, sobre três elementos que as mulheres podem ou não adotar na sua vida: trabalho pago, filhos(as), companheiro(a).
O estudo mostrou que um dos motivos pelos quais Portugal está com problemas demográficos se deve à sobrecarga a que a população feminina está sujeita.
“Existe uma desvalorização do trabalho doméstico dos cuidados com os filhos e do desgaste mental que isso produz”, frisou a professora catedrática de Sociologia Anália Torres, após a divulgação dos resultados da pesquisa.
Uma das consequências dessa pressão é que, segundo Ana Nunes de Almeida, presidente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, “no panorama europeu, nós somos as campeãs dos filhos únicos – a maternidade é uma escolha muito ponderada“.
A própria Laura Sagnier, investigadora que liderou o estudo, terminou a sua exposição dizendo que “a acumulação de elementos não garante o aumento da felicidade na nossa vida; temos de pensar bem naquilo que queremos e ajudar as mulheres jovens a tomar melhor as suas decisões”.
Ranking de felicidade das portuguesas
As mulheres, em Portugal, manifestaram o seu grau de satisfação com vários aspetos da vida. Veja as conclusões, no quadro.
Das mulheres inquiridas no estudo, apenas 18% têm ‘tudo sob controlo’. Isto é, conseguem conciliar todas as esferas da vida (trabalho pago, filhos e relação amorosa), porque têm um parceiro que contribui tanto ou quase tanto como elas para os cuidados familiares, a economia partilhada e as tarefas domésticas.
Mas as mais ‘realizadas’, 11%, são as mulheres com filhos maiores de idade, não dependentes, trabalho pago (têm os rendimentos mensais líquidos mais elevados) e um relacionamento feliz, em que o casal faz frequentemente atividades de lazer (passeiam, vão a restaurantes, ao teatro ou cinema, etc.).
Qual a conclusão? Que o parceiro é a pessoa com maior capacidade para aumentar a felicidade das mulheres em Portugal. No panorama internacional, há outros estudos que concluem precisamente o oposto. Serão as mulheres portuguesas uma exceção?
A felicidade das mulheres em Portugal, em números
• 4% mais homens ajuda com os filhos e participa nas tarefas domésticas face à geração anterior. “Houve uma evolução positiva, mas continua muito afastada daquilo que a mulher, hoje, precisa”, concluiu Laura Sagnier;
• 7,1 (em 10) é o nível médio de felicidade da mulher portuguesa com a sua vida;
• 8,2 (em 10) é o grau de satisfação com a vida das mulheres que disseram que se sentiam muito felizes com o parceiro que escolheram;
• 60% das mulheres dizem que se sentem cansadas;
• 28, 35 e 50 são os anos que marcam quatro etapas muito diferentes na vida da mulher portuguesa;
• 51% das mulheres portuguesas sentem que a sua vida está abaixo das expectativas;
• 39% das mulheres ativas tem um filho menor de idade. Trabalha, em média, 13 horas e 30 minutos, por dia – sete horas e 18 minutos dedicadas ao trabalho pago e seis horas e 12 minutos a fazer trabalho não pago. Dormem menos de sete horas por noite e têm cerca de duas horas para a sua própria higiene e deslocações.
Revê-se nestes dados? Descubra qual o segredo para a felicidade (é bem mais simples do que pensa).