De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, 72 milhões de empregos podem desaparecer até 2030 devido às alterações climáticas; mas, em contrapartida, estima-se que surjam 24 milhões de novos empregos verdes.
Falámos com Sofia Santos, economista especializada em financiamento verde, climático e sustentável, sobre o papel da economia em termos de contributo para uma sociedade mais verde. Descubra tudo.
Entrevista: Sofia Santos
Não há desenvolvimento sustentável e muito menos neutralidade carbónica sem que a economia e o financiamento se tornem mais verdes e, como nos explica Sofia Santos, economista e professora no ISEG, é fácil perceber porquê.
“O financiamento verde ou sustentável tem que ver com a inclusão dos riscos ambientais e sociais quando se estão a conceder empréstimos. Se não forem incluídos, há riscos acrescidos para o sistema económico que têm de ser acautelados. Não nos podemos esquecer de que as catástrofes ambientais já chegaram à Europa. Aliás, Portugal, de acordo com um relatório do Banco Central Europeu, é dos países com maior risco climático e ambiental, porque temos floresta e estamos numa costa”, refere a economista especialista em financiamento verde.
A regulação que já entrou ou vai entrar em vigor é importante para que o financiamento verde passe a ser a regra. No entanto, já se assiste a uma grande mudança, assegura Sofia Santos: “As grandes empresas já têm os investidores a perguntar sobre as suas práticas de sustentabilidade. Há já quem deixe de comprar ações a empresas que não seguem este caminho, há seguradoras que deixam de fazer seguros a empresas que têm mais de 50% dos lucros ou do volume de vendas resultante do petróleo ou combustíveis fósseis”.
Sofia Santos não tem dúvidas de que “projetos que não tiverem em conta a questão ambiental irão ser considerados pela banca um risco e das duas uma: ou a banca vai pedir uma maior taxa de juro para cobrir o risco ou pode mesmo não conceder o empréstimo”.
A pandemia acelerou a preocupação dos mercados financeiros com os temas ambientais, e Sofia Santos sentiu-o na sua própria empresa, a Systemic, que desenvolve projetos na área da sustentabilidade. “Passámos de duas pessoas, em 2019, para nove, em 2021. Este é um mercado em crescimento, as empresas pequenas estão a crescer e as grandes consultoras estão também atacar este negócio”, afirma.
Mas há aqui um problema, a falta de pessoas especializadas na área. É por esse motivo que a professora diz que “quem está a tirar uma licenciatura ou um mestrado e queira ter um emprego, deveria apostar nela. Pode ser na área do Direito do Ambiente, das engenharias mais ligadas às florestas e ao sequestro de carbono, da economia, das finanças e do marketing ligados à sustentabilidade”.
Outro aspeto fundamental é o combate ao greenwashing – divulgação de práticas ambientais que depois não são efetivas – que algumas empresas teimam em fazer. “A nível financeiro, sairá uma regulação, em março de 2022, precisamente para combatê-lo. Na Dinamarca e nos EUA, já foram criados departamentos para investigar os fundos que dizem ser sustentáveis. Portanto, no sector financeiro, a regulação vai ajudar; nos restantes, será mais complicado enquanto não houver multas”.
E terão os consumidores uma palavra a dizer? “São quem compra, por isso, são uma parte importante. No consumo do dia a dia, devemos tentar perceber quais as políticas de sustentabilidade das marcas e empresas das quais consumimos; pensar se precisamos de tanta coisa ou se podemos comprar menos, mas melhor; e, ao escolhermos um banco para depositar o nosso dinheiro, deveremos saber se faz empréstimos a projetos que têm um impacto positivo no ambiente, afinal é o nosso dinheiro que emprestam”, ensina Sofia Santos.
A saber…
- 2021 foi o quinto ano mais quente de sempre;
- 4,8°C a 5°C é quanto deverá aumentar, em média, a temperatura até ao final deste século caso nada se faça para diminuir a emissão de gases efeito estufa;
- Apenas 3% a 4% de todas as emissões emitidas no mundo são verdes.