Saber Viver é… Ter liberdade para criar
Já muito descobrimos, errámos, aprendemos, desaprendemos. Os clichés são verdade; a grande jornada da vida escreve-se certa por linhas tortas e, nestes 20 anos de existência, muito temos discorrido no papel (e online) sobre a forma como escolhemos viver a vida.
Como vai ser a arte daqui a 20 anos? A pergunta é audaz; as respostas – dadas para um artigo escrito por Devon Van Houten Maldonado, da BBC, em 2019 – nem tanto. É que, para olhar para o futuro, é só seguir as pistas do passado, ou do agora presente.
“Olhar para a arte do passado contribui para quem somos enquanto pessoas. Observando o que foi feito antes, reunimos conhecimento e inspiração que contribui para a forma como falamos, sentimos e vimos o mundo à nossa volta”, escreveu o centro de estudos juvenis do The Metropolitan Museum of Art, afirmando o motivo pelo qual devemos estudar arte do passado.
Para Aviva Obst, assessora de imprensa e relações públicas na área das artes e cultura, “a arte em Portugal do início dos anos 2000 questionou bastante o que é “ser português”, o que é “pertencer à Europa” e quais os seus limites, a globalização, debruçando-se também sobre questões de género e de sexualidade (por exemplo, as temáticas feministas que foram ganhando maior palco e projeção)”.
Isto porque, há 20 anos, a arte em Portugal – tal como todas as outras áreas da sociedade – beneficiou especialmente da adesão do País à Comunidade Económica Europeia (agora União Europeia).
“A liberdade de circulação – favorecida também pela entrada na zona Euro, em 1999 –, assim como a disponibilização de fundos pela União Europeia, foram fatores determinantes para o desenvolvimento de uma sociedade mais cosmopolita e de políticas que promoveram a cultura como motor de progresso”, explica a especialista.
“Uma maior facilidade em viajar, estudar e trabalhar fora de Portugal de forma qualificada fomenta a procura e exigência pela evolução do País, de modo a que este se aproxime mais de uma cultura internacional vigente, à qual é central a luta pelos direitos humanos e pelas questões de igualdade.”
A arte atualmente produzida em Portugal prossegue a refletir as problemáticas já citadas, interrogando de forma mais aprofundada as situações coloniais e pós-coloniais, e é de destacar o lugar cada vez mais presente da ecologia no pensamento artístico.
Em vez de milhares ou milhões de gostos e seguidores, estaremos famintos de autenticidade e ligação
No artigo da BBC já citado, os pensadores focam-se nas políticas de identidade, que já foram visíveis na Arte em torno de movimentos como #MeToo e Black Lives Matter, apostando no seu crescimento à medida que o ambientalismo, a política de fronteiras e as migrações se tornarem ainda mais acentuadas.
“A arte tornar-se-á cada vez mais diversificada e poderá não “parecer arte” como se espera. No futuro, assim que nos cansarmos de ver as nossas vidas visíveis em linha para todos e a nossa privacidade estiver praticamente perdida, o anonimato poderá ser mais desejável do que a fama. Em vez de milhares ou milhões de gostos e seguidores, estaremos famintos de autenticidade e ligação. A arte poderia, por sua vez, tornar-se mais coletiva e experiencial, em vez de individual”, escreve o autor.
Aviva frisa que não se pode escurar a produção artística sem aparente sentido político ou social, que parte de processos e imaginários próprios e individuais, os quais desafiam o espectador a entregar-se ao lugar do abstrato e do conceptual.
“A arte é um exercício de liberdade que não pode ser reduzido apenas a uma metodologia de intervenção social, como fora por governos ditatoriais e totalitários. É fundamental que o espaço para o reconhecimento da arte nas suas diversas linguagens e dimensões continue presente.”
Critoquê?
Chegou para dividir opiniões. Há quem ache que a criptoarte vem abrir um novo capítulo na História da Arte, e quem olhe para ela como um conceito especulativo e de nicho.
Mas há algo que ninguém lhe tira: o primeiro lugar da consagrada lista da ArtReview que elege ‘Os 100 poderosos: as pessoas mais influentes do mundo da arte’.
O nome é enganador porque na verdade não têm de ser necessariamente pessoas – como o vencedor movimento Black Lives Matter, em 2020 – mas em 2021 a imaterialidade foi total.
NFT é a sigla para a Non Fungible Token. É uma representação digital de um ativo único e funciona como um certificado de autenticidade, garantindo ao seu detentor a propriedade sobre o original
“Perante os preços impressionantes atingidos pelo trabalho de Beeple no último ano, o mercado de arte descobriu uma nova geração de colecionadores, enquanto artistas à volta do mundo descobriram uma forma de mercantilizar a sua arte que contorna a velho sistema do marchand”, escreve a ArtReview no texto que contextualiza a escolha do NFT.
Em Portugal, também já há artistas a criar e a vender NFT: o caso de Vhils que lançou o primeiro NFT no ano passado e agora tem mais de 900 à venda.