“Não há estrelas no céu a dourar o meu caminho”, mas atualmente elas podem dizer-nos muito sobre para onde devemos ir. De apps de horóscopos diários a influencers de astrologia e artigos sobre como praticarmos self-care de acordo com a nossa data de nascimento, a astrologia está a viver o seu momento hype, permeando quase todas as facetas da cultura pop.
Brincando com estereótipos e abraçando temas tão relatable a todos como relacionamentos e trabalho, dá-nos uma sensação de conectividade connosco mesmos e com os outros que algumas das invenções mais modernas (Internet, cof, cof) nos vieram retirar.
Depois (durante?) de uma pandemia e numa altura em que percebemos que não temos controlo sobre nada, têm sido cada vez mais as pessoas a recorrer ao misticismo para algum tipo de direção, apoio, entretenimento ou qualquer coisa no meio.
Durante períodos como este, procuramos informação para dar sentido a estes acontecimentos, encontrando frequentemente alívio em mensagens abstratas e grandes ideias, embora não quantificáveis, sobre fé, amor e o futuro, em vez de factos científicos frios.
Depois, com uma nova geração a fazer demasiadas perguntas sobre religiões e a receber muito poucas respostas, estava na altura de encontrar sistemas de crença alternativos. E depois viralizá-los no TikTok.
O boom da espiritualidade durante a pandemia
“Temos vindo a seguir a espiritualidade da nova era nos últimos cinco anos – surgiu como um antídoto para a ansiedade – um subproduto precoce do boom do autocuidado e bem-estar“, explicou Sarah Owen, estratega sénior da WGSN e especialista em previsões do comportamento dos consumidores à Vogue India.
“Eu fui uma dessas pessoas a quem a pandemia teve algum impacto nessa pesquisa interior, esotérica”, explica @cryptmuzz, ilustrador, designer gráfico e estagiário de feiticeiro.
“Esse interesse sempre existiu em muitas pessoas, quase tabu, quase como algo em que não devíamos estar interessados. Eu como artista visual sempre tive esse interesse – primeiramente, queria perceber o que cada carta representava, depois, percebi que era uma ferramenta muito complexa e que se podia desdobrar fora dos contextos de adivinhação.”
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Com tanto tempo de folga e uma pausa obrigatória para convivermos com os nossos pensamentos, Carlos sentiu necessidade de ter ferramentas de desencadeamento de processos e que pudesse aclarar algo.
“Neste misto de tristeza, curiosidade e incerteza, o tarot surge como tentativa de melhoramento pessoal e criar certezas num futuro tão incerto. É um foco de si para si, uma oportunidade para nos esquecermos do exterior – misturando tarot com reflexão.”
Além disso, têm sido constantes os ciclos de ‘curiosidade’ sobre as artes divinatórias e espiritualidade, como refere o tarólogo, falando dos momentos de expansão e contração que já se sentiram em séculos passados e, mais recentemente, nas décadas hippies dos 70 (todos levando a momentos paradoxais em que tanto se vive uma importante desconstrução de alguns mitos, como também se aligeira em demasiado).
Mas, como tudo o resto, práticas como a astrologia ou tarot só se tornam ‘problemáticas’ quando levadas a extremo – de resto, olhar para elas como um exercício de introspeção e análise parece ser o caminho mais consensual (e saudável).
Numa sociedade cada vez mais individualista que promove o autocuidado, a autoajuda e a autoconsciencialização, conhecer-se a si próprio é sem dúvida a moeda social mais importante que temos hoje – e uma sobre a qual não temos de ter vergonha ou preconceito.