Vivem-se tempos de insegurança, medo, mas sobretudo incerteza. Com a declaração de pandemia da Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o cenário de temor tornou-se ainda mais real.
Os números de mortes, infetados e suspeitos disparam por toda a Europa – agora que na China, país originário do vírus, a situação parece ter sido contida – e o caso português não é exceção.
Todas as manhãs, A Direção-Geral da Saúde (DGS) lança um número e nós, consternados, ouvimos e esperamos pelo melhor. Para os próprios, para os nossos e para os outros.
A verdade é que, independentemente das medidas de contenção pandémicas tão difundidas na comunicação social, com especial enfoque para o distanciamento social, há muito que se pode fazer pelos que estão ao nosso lado.
Mas não começou assim. À medida que o coronavírus se alastrava pela Ásia e depois pelo mundo, também um descontrolo xenófobo se propagava. Caras comuns e outras até mais conhecidas denunciavam estes atentados ao que vem do estrangeiro, que é estranho ou menos comum – como bem explica qualquer dicionário que se preze. No fundo, nada mais do que um desconhecimento puro e muito perigoso.
Depois, e agora também muito pelo nosso país, assistimos a uma vaga de egoísmo desmesurável no ataque – difícil encontrar outro nome – às superfícies comerciais, nomeadamente aos supermercados, pela busca de mantimentos que nos salvassem de um cenário apocalíptico que, certamente, não estamos a viver.
Apesar desta realidade, agora sim, o mote para este artigo. Felizmente e com algum orgulho podemos observar a força do que nos torna humanos sobrepor-se a esta pequenez que não nos distancia muito da irracionalidade completa.
Os exemplos de união, dentro e fora da esfera familiar, e a multiplicação de ações de solidariedade e entreajuda populacional são de louvar. Ora vejamos.
Em Itália, no segundo país mais fatigado por esta doença altamente contagiosa e, não tão longe daqui, viu-se uma nação ficar em stand by, depois de o governo ter decretado quarentena obrigatória. Os cidadãos deste país quiseram mostrar não só que a união faz a força, mas que quem canta seus males espanta e entoaram cânticos populares do alto das suas varandas. Uma tocante comunhão de forças entre desconhecidos que partilham a mesma angústia.
Depressa a palavra se espalhou por todo o mundo e vimos, em Portugal, uma ação em tudo semelhante, com os portugueses a recorrerem às suas janelas para aplaudir os profissionais de saúde, que tanto têm proporcionado cuidados médicos, informação fidedigna e conforto a todos nós, a restante população.
Aconteceu em noite escura e já se procurou replicar noutras versões igualmente nobres e patrióticas. Mas durante o dia, esta mensagem de reconhecimento também tem sido difundida. De facto, muito se tem glorificado estes médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de saúde – os únicos que não se podem dar ao luxo de ficar resguardados em casa – não só através da comunicação social como nas redes sociais.
Também a noção generalizada de que é preciso proteger a população de maior risco como idosos, grávidas, ou pessoas com doenças autoimunes ou preexistentes como diabetes e hipertensão foi levada a sério pelos restantes. Não temos atenção só aos que vivem connosco ou aos nossos avós, tios e familiares distantes, mas também aos nossos vizinhos e rostos que nem conhecemos, mas que são em tudo mais permeáveis a este vírus.
Foi neste sentido que nasceu o SOS Vizinho, um projeto nacional recém-desenvolvido e de ajuda voluntária a estes mesmos grupos de risco. O site estará brevemente ativo e o objetivo é o de auxiliar e levar bens essenciais a quem mais necessita e esteja abrangido no âmbito da contenção social – neste momento, aconselhável a todos nós – seja de quarentena ou resguardo, imposto ou voluntário.
A iniciativa conta já com meia centena de pessoas, de várias zonas do país, e são possíveis dois tipos de inscrição: para voluntários que queiram ajudar e para os que mais necessitam dessa ajuda. A sua fundadora referiu a um outro meio de comunicação que “a Netflix pode esperar”, no sentido de elevar esta necessidade bem mais proeminente e altruísta, tendo em conta o momento.
Esperam-se mais iniciativas do género. Até porque se o coronavírus se dissemina com facilidade, as soluções das mentes mais criativas também não cessam. Mas e de que outros modos podemos ajudar o próximo, nesta era de crise instalada?
7 formas de ajudar o outro em plena Covid-19
1. O principal aliado que temos nesta luta inglória é a informação. Para isso devemos, por um lado, difundir informação credível e agir de acordo e, por outro, não contribuir para a propagação de fake news ou desinformação no geral.
2. Adotar e manter as indicações das instituições competentes como a OMS ou a DGS no sentido de evitar a propagação do vírus. A um nível básico quer-se uma higienização constante, etiqueta respiratória e atenção a sintomas suspeitos.
3. Respeitar a contenção social. Seja por quarentena, isolamento e, sobretudo, evitando grandes aglomerados em locais públicos como ginásios, cinemas, teatros, estádios de futebol, centros comerciais e mesmo praias e parques urbanos – os poucos que ainda não fecharam. Não invente novas formas de ser infetada só porque determinando local ainda continua aberto.
4. Atentar a pessoas mais velhas, a quem trabalha nos hospitais ou que tem doenças crónicas, e ser em tudo prestável. Verifique o estado de saúde física e mental não só de familiares, como de vizinhos e da comunidade em geral. Através de um telefonema, mensagem ou mesmo deixando comida e mantimentos às suas portas.
5. Apoiar financeiramente ou de outra forma que encontrar quem na comunidade pode perder os seus salários, nos próximos tempos. Funcionários de pequenas empresas ou serviços, restaurantes, mas também instrutores de fitness, lojistas, profissionais das limpezas, entre outros tantos, que não podem trabalhar a partir de casa. Muito pouco ainda se sabe sobre o alcance dos apoios estatais ou privados.
6. Amparar instituições de caridade que beneficiam, por exemplo, crianças, sem-abrigo ou afetados pelo coronavírus. Perceba as suas necessidades do momento e faça doações de roupa, brinquedos ou outros e forneça mantimentos básicos como alimentos ou produtos de higiene.
7. Levantar a voz perante a xenofobia e racismo. Não só agora, mas sempre. Defender aqueles que são, por alguma razão, mais facilmente atacados é uma forma de lutar contra estes preconceitos enraizados na sociedade vigente. Dê o exemplo e contenha os estragos causados por estas formas de denegrir o próximo.