“A empatia é, para mim, uma característica fundadora num líder”
Como é o dia a dia de uma mulher que trabalha numa das empresas mais faladas do momento? Rosário Trindade ocupa um cargo de liderança na AstraZeneca e partilha connosco o seu testemunho sobre o seu último ano. A ler!
Chamo-me Rosário Trindade e sou mulher, esposa, mãe e profissional qualificada (e motivada). Trabalho há quase 10 anos na AstraZeneca Portugal como Diretora de Acesso ao Mercado e Relações Institucionais e lidero uma equipa de 5 pessoas.
O meu dia a dia é igual ao de milhares de mulheres em Portugal e no mundo ocidental, ou seja: é garantir a gestão da casa e das rotinas familiares (incluindo a telescola do meu filho mais novo); assegurar a entrega do meu trabalho e da minha equipa; colaborar com os meus colegas de direção e as suas equipas nos projetos e iniciativas que são cada vez mais multidisciplinares; é tentar encontrar diariamente o equilíbrio certo entre a vida pessoal e as necessidades familiares, sobretudo as dos filhos, e a profissional, que com a transição para o teletrabalho se tornou um pouco mais difícil.
Passa também por garantir um contacto permanente com a minha equipa e com a equipa alargada da AstraZeneca, garantindo que as mesmas se sentem apoiadas e motivadas, e garantir a necessária flexibilidade para que possam compatibilizar o seu trabalho com as exigências da sua vida familiar.
Esta é, aliás, uma questão central numa empresa em que mais de metade dos nossos colaboradores são mulheres, a maioria jovens mães. A diversidade, da qual o género é apenas um elemento, é um dos pilares da nossa estratégia de gestão de pessoas. Defendemos que diferentes formas de pensar são a base da inovação. E na nossa área, a inovação é pedra basilar.
Este último ano tem sido muito desafiante, às vezes cansativo, mas sempre compensador!
O teletrabalho foi, para a maioria de nós, uma descoberta recente motivada pela situação pandémica. No entanto, na AstraZeneca já tínhamos uma política de trabalho muito flexível que permitia aos colaboradores trabalharem a partir de casa. Não era, contudo, uma realidade relevante para a maioria das pessoas.
O primeiro desafio foi garantir que as ferramentas que tínhamos eram as adequadas ao trabalho que fazíamos e que tínhamos as competências necessárias para o trabalho remoto. Investimos em treino em áreas que identificámos como necessárias e tornamo-nos muito rapidamente seres mais digitais.
Penso que a pandemia nos desafiou a sermos mais eficientes. Deixámos de fazer viagens de seis horas para reuniões de uma hora e, com isso, ganhámos todos. Também em algumas áreas o trabalho se tornou mais funcional, porque é mais fácil ter “todos” na mesma reunião, apesar das diferentes localizações e distância física. Também facilitou a adoção mais rápida de alguns canais de contacto mais informais que facilitam a resolução de problemas do dia a dia.
Contudo, surgiram outras necessidades decorrentes da ausência de contacto regular e de proximidade que tentámos colmatar adotando serviços que pudessem contribuir para o bem-estar físico e psicológico de todos. Implementámos várias iniciativas que temos renovado e adequado à medida que as necessidades também se alteram.
Esta questão da proximidade, associada a uma cultura de speak up, é muito importante para nós e, por isso, mantemos um calendário de reuniões plenárias frequentes com todos os colaboradores da empresa que são complementadas por reuniões mais pequenas, entre um membro da direção e um número pequeno de colaboradores de áreas diversas.
A empatia é, para mim, uma característica fundadora num líder, e tornou-se ainda mais importante num tempo em que a distância física nos tornou menos capazes de ler o outro e de resolver qualquer problema quando estamos no escritório. Estas iniciativas permitem-nos continuar a ouvir a empresa e cada um dos colaboradores, permitindo-nos comunicar mais assertivamente.
O anúncio do nosso contributo para a luta contra a pandemia foi para mim um motivo de enorme orgulho, não só pela necessidade que a emergência de saúde impunha, mas pela forma como o fizemos desde o primeiro dia.
O compromisso de contribuir para um acesso justo e equitativo à vacina e os esforços que temos feito para o conseguir são fatores adicionais de motivação que ajudam a combater alguns dos sintomas desta fadiga pandémica que nos começa a afetar a todos. Ainda há um longo caminho até que esta missão esteja terminada, mas tudo o que já fizemos, num espaço de tempo tão curto, é motivo de orgulho.
Apesar de ainda estar, como penso que muitos de nós, à procura do meu equilíbrio pessoal/familiar/profissional, que se altera a cada dia, o balanço só pode ser positivo.
Comprovámos a capacidade única que temos de aprender e de crescer profissionalmente, inovámos e desenhámos novas formas de colaborar e isto são tudo ganhos que ficarão para o futuro. Os desafios são imensos, a começar pelos que condicionam o acesso à inovação terapêutica em Portugal, área em que trabalho há mais de 20 anos, mas acredito que tudo o que aprendemos e ousamos fazer de forma diferente vai marcar positivamente os anos futuros.
A competição entre o profissional e o pessoal é renhida, entre mais um email ou um momento de lazer em família ou a solo, vai ganhando o bom senso e o sentido de equilíbrio, no meu caso muito facilitado pelo apoio extra que a minha família, e em particular o meu marido, me têm prestado ao longo do último ano.
Sou mulher, esposa, mãe e profissional com muito orgulho!