A sala cheira a incenso, há velas espalhadas, os colchões estão estendidos no chão com uma manta dobrada num dos cantos, os instrumentos estão prontos. A sessão de sound healing está prestes a começar e a nós cabe-nos apenas posicionarmo-nos de forma confortável – a maioria das pessoas deita-se, mas também há quem prefira ficar sentado – e deixarmo-nos levar pelo som que sai de instrumentos como gongos, taças tibetanas, taças de cristal, shruti-box, tambor xamânico, flautas, monocórdio, címbalos, entre outros.
O que é?
“O sound healing é uma terapia que usa o som como veículo e ferramenta de cura, já que as diferentes frequências ou tons influenciam a nossa realidade física”, afirma Ângelo Surinder, musicoterapeuta e fundador do Cosmig Gong, projeto que tem como objetivo promover o estudo, ensino e difusão da musicoterapia vibracional, tendo como base o conhecimento científico.
O musicoterapeuta compara o sound healing a “uma árvore bem forte e com raízes profundas que tem várias ramagens”. “Temos o ramo musical, o meditativo, o terapêutico e um mais profundo que serve para tratar patologias mais específicas no nosso corpo através do som com frequências, que são usadas para alterar as ondas cerebrais”, descreve.
O que acontece numa sessão?
Numa sessão de sound healing ativa-se “o sistema nervoso parassimpático – o oposto ao que é ativado pelo stresse. Isto faz com que as frequências respiratórias e cardíacas diminuam, tal como as ondas cerebrais, colocando-nos num estado diferenciado de consciência”, refere Ângelo Surinder. Assim, o corpo recebe sinais de segurança e permite que relaxemos totalmente.
Na ramificação meditativa, diz o musicoterapeuta, “cria-se uma ambiência em que é permitido ao ser, tanto a nível mental, energético, emocional e físico, relaxar e ter um momento de tranquilidade meditativa sem esforço. Sabe-se que muitas pessoas têm dificuldade na meditação, mas, quando tocamos estes tipos de instrumentos, automaticamente a frequência cerebral baixa para uma frequência mais profunda e o cérebro, que trabalha por impulsos, associa-se ao ritmo cardíaco e à respiração”.
Na verdade, continua, “o som leva-nos a estados diferenciados de consciência, bem diferentes dos de quando estamos em atividade, e tende a trazer mais atividade para o hemisfério direito, logo temos acesso à nossa parte mais espiritual”.
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Vantagens para a saúde
O movimento, o som e a respiração sempre foram um passo para entrarmos num estado de consciência diferenciado e grande parte das culturas antigas terá utilizado alguma forma de terapia sonora para o benefício das suas gentes. Acredita-se que o sound healing teve origem há mais de 40 mil anos, tendo começado a ser usado para relaxar, mas também tratar problemas de saúde mental e até afastar espíritos malignos.
Hoje em dia, a ciência já comprovou que tem uma série de benefícios para o bem-estar, como:
• reduzir o stresse;
• melhorar a clareza;
• ajudar a superar traumas;
• melhorar o sono;
• controlar a dor;
• ajudar no tratamento de várias doenças;
• melhorar a função imunológica.
Pôr em prática
No Reino Unido, onde Ângelo Surinder se formou, a musicoterapia está integrada no sistema nacional de saúde. “Em Portugal ainda não, mas já há algumas experiências e acredito que daqui a cinco anos seja mais usada”, refere.
O musicoterapeuta dá como exemplo o Hospital de Setúbal, onde os pacientes podem escolher algumas das chamadas terapias alternativas a par do tratamento convencional. “Faço voluntariado lá e o meu trabalho não é tratar a patologia, mas criar algum conforto e minimizar, por exemplo, os efeitos da quimioterapia e aliviar a dor”, explica. Também já o fez na Cruz Vermelha e colaborou com uma clínica em Málaga, num projeto de pesquisa dos efeitos terapêuticos do som na saúde humana.
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Outro lugar onde o sound healing seria muito importante são as escolas. “As crianças teriam muitos benefícios se fossem expostas à musicoterapia, pois poderiam relaxar facilmente e reduzir os níveis de stresse a que estão sujeitas. Imaginem o que poderia fazer pelas crianças que sofrem do síndrome de hiperatividade e défice de atenção. Muitos dos problemas dessas crianças seriam resolvidos”, afirma o nosso entrevistado.