Cada vez que reagimos a factos, a pessoas, ou cada vez que reagimos a uma situação, desencadeamos dentro de nós um conjunto de reacções orgânicas e instantâneas.
Estas reacções, normalmente breves, quando dirigidas para o exterior tornam-se visíveis – é o que acontece nos momentos em que sentimos raiva e procuramos eliminar a sensação de ameaça, ou quando sentimos medo e precisamos escolher entre atacar ou fugir.
A tristeza deixa-nos prostradas, ao invés do amor e da alegria, que nos trazem momentos de felicidade.
Os sentimentos, por sua vez, têm origem na mente, são o produto da reflexão sobre uma emoção, estão associados a conteúdos intelectuais, a representações internas e a valores, tendo por isso uma dimensão mais particular. Têm uma duração mais longa e mais leve que as emoções.
Se pensarmos quando é que, pela primeira vez, experimentámos uma determinada emoção, provavelmente não nos iremos conseguir recordar desse momento.
À semelhança das nossas crenças e dos nossos valores, a sua maioria foi assimilada de forma inconsciente, enquanto vivíamos os nossos primeiros sete anos de vida. Nessa altura, somos como esponjas – absorvemos, sem capacidade racional de discriminação aquilo que acontece no meio ambiente que nos rodeia.
Emocionamo-nos com um filme romântico, assustamo-nos com um filme de terror, vivemos a história de uma amiga como se fosse a nossa história, no fundo, vivemos tantos momentos da nossa vida em estados alterados de consciência. O inconsciente não distingue realidade de fantasia.
Para ilustrar o modo como construímos as memórias, vamos imaginar um colar com várias fiadas como sendo uma representação de cadeias de emoções, e então podemos ficar com uma boa ideia daquilo que, tantas vezes, trazemos agarrado a nós.
Se pensarmos que de cada vez que sentimos medo acrescentamos uma conta à fiada do medo, de cada vez que sentimos frustração acrescentamos uma conta à fiada da frustração, e por aí fora formos fazendo o mesmo com emoções como a raiva, a culpa, a tristeza, a vergonha, não nos iremos admirar se vivermos, de tempos a tempos, crises e depressões.
Uma das características do inconsciente é armazenar as memórias segundo uma linha do tempo. Outra é guardar memórias negativas reprimindo-as para nossa protecção (o que seria de nós se estivessem sempre presentes?). Outra ainda é disponibilizá-las ao consciente com o objectivo de as tornar racionais e, assim, resolvê-las.
Ainda que uma parte de nós nos esteja a dizer que o que sentimos deve ser levado em conta, convencemo-nos mentalmente de que algo não teve importância, negamos o que sentimos e até fazemos de conta que se calhar interpretamos mal, que tal situação não se passou daquela forma, mas a verdade é que fingir não é a solução.
Cada vez que revisitamos uma situação dolorosa – e fazemo-lo tantas vezes! – estamos a aceder a todo um conjunto de memórias ligadas às emoções que lhe estão subjacentes.
A consequência é que iremos lidar com esse acontecimento não com a intensidade que lhe seria própria, mas com a soma de todas as memórias emocionais guardadas em relação a essa emoção – não admira que, de tempos a tempos, demos por nós a vivermos verdadeiras tempestades em copos de água.
Todo o nosso ser pede por compreensão, sabedoria e por unidade. As emoções negativas corroem, manifestam-se em doença, criam desarmonia, geram conflito.
Aprendermos sobre nós, sobre o que nos move, conhecermos a sabedoria oculta por detrás de uma emoção negativa e guardarmos essa aprendizagem para o futuro, para que não tenhamos de voltar a viver as mesmas situações, permite-nos ganhar maior consciência acerca de quem somos e de como queremos viver a nossa vida.
Aí sim, podemos começar a construir novas memórias, livres, potenciadoras e gratificantes.
São Luz é astróloga e coach. Desde 2002, dedica-se a diversas áreas do autoconhecimento e do desenvolvimento pessoal como ferramentas para um melhor entendimento de cada etapa da vida. Pode acompanhá-la no Facebook e Instagram.