Pelo sexto ano consecutivo, o Global Wellness Summit reuniu centenas de especialistas da área do bem-estar, entre executivos de topo, economistas, médicos, investidores, académicos e peritos em tecnologia, para identificarem as tendências para 2021.
Depois de um ano marcado pela Covid-19 – que gerou uma crise de saúde pública, não só física, mas também mental, e económica – e pela injustiça social e racial, o bem-estar ganhou ainda mais importância. No novo ano, este sector está cada vez mais ligado à saúde, à ciência, à arquitetura, à indústria do entretenimento e quer-se menos elitista.
Tendências de bem-estar a seguir
1. Hollywood e a indústria do entretenimento entram no bem-estar
De acordo com os especialistas do Global Wellness Summit, esta é uma tendência que faz os puristas do bem-estar revirar os olhos, mas é a melhor forma de chegar a todos: “Mais experiências de bem-estar nas plataformas das grandes empresas de comunicação é sinónimo de um acesso e uma acessibilidade sem precedentes”, lê-se no relatório 2021 Wellness Trends.
Se, até agora, o público era passivo nos programas televisivos sobre bem-estar, o futuro inclui conteúdos que tenham um impacto direto em quem está a ver. Exemplo disso, realça o documento já citado, é a Samsung Health, disponível nas smart TV da marca coreana, que disponibiliza cinco mil horas de aulas de fitness e de meditação.
Os peritos dizem ainda que o futuro passa por as smart TV se conectarem diretamente com os dispositivos tecnológicos usáveis (o Apple Fitness + é um exemplo) para experiências de bem-estar e fitness personalizadas.
Outro aspeto a ter em conta é que as aplicações de meditação Calm e Headspeace entraram na HBO Max e Netflix, transformando as suas experiências meditativas em televisão imersiva. Mais um exemplo é a Waterbear Neork, que ainda não está disponível em Portugal, mas é uma plataforma de streaming sobre ativismo climático.
A música também se tornou uma terapia e, além de as aplicações de meditação apostarem nesse tipo de música, há outras que estão focadas apenas nisso, caso da Myndstream, que ajuda as pessoas a relaxar, dormir e focarem-se, e da Muru Music Health, a primeira plataforma para pessoas com mais de 60 anos que usa a Inteligência Artificial para distribuir música à medida de cada ouvinte para prevenir o envelhecimento cerebral.
2. Sistema imunitário equilibrado
Em 2020, falou-se muito de sistema imunitário e imunidade devido à Covid-19 e às vacinas contra esta doença, mas, neste novo ano, mais do que ativar o sistema imunológico, é preciso equilibrá-lo.
O relatório 2021 Wellness Trends realça que as evidências científicas têm mostrado como o metabolismo, o microbioma e a nutrição personalizada são importantes para o sistema imunitário.
Os especialistas acreditam que os programas de imunidade que levam pessoas a fazer viagens para cuidar da sua saúde serão mais médicos e profundos, ou seja, irão muito além da administração de soro intravenoso e menus de reforço imunológico.
Adotar uma alimentação rica em fibras, consumir prebióticos e probióticos e beber muita água é fundamental defendem os médicos do Global Wellness Summit.
Os peritos do Global Wellness Summit asseguram que a respiração assumiu grande importância em áreas como a fisioterapia, exercício físico e alívio do stresse crónico e pós-traumático
3. Arquitetura espiritual
Nos últimos anos, foram muitos os estudos que mostraram a ligação entre a saúde física e o ambiente construído e isso fez com que se começasse a falar de ‘arquitetura de bem-estar’ com foco no design funcional, na iluminação circadiana e purificação do ar. Em 2021, as atenções estão voltadas para a criação de espaços quotidianos que convidem à introspeção e elevem a consciência e o potencial da sociedade.
Para os especialistas do Global Wellness Summit, a arquitetura e o design vão, assim, evoluir da ostentação para que os edifícios possam mexer com a nossa alma.
“O bem-estar espiritual é uma parte indestrinçável de uma vida saudável e merece, por direito, mais consideração de design nas nossas casas, locais de trabalho, comunidades e paisagens urbanas”, lê-se no relatório 2021 Wellness Trends.
Uma casa mais espiritual dá mais atenção à casa de banho, para proporcionar rituais de banho relaxantes; à cozinha, para que a preparação dos alimentos se torne uma rotina alegre e relaxante; e aos quartos, que devem ser santuários do sono, porque dormir é fundamental para a saúde.
4. Respirar apenas
Estudos realizados nas universidades de Harvard, Stanford e Johns Hopkins mostram como é importante respirar e como fazê-lo da maneira certa pode melhorar a nossa saúde física e mental, podendo até ajudar a fortalecer o nosso sistema imunitário.
Os peritos do Global Wellness Summit asseguram que a respiração assumiu grande importância em áreas como a fisioterapia, exercício físico e alívio do stresse crónico e pós-traumático. “Esta tendência considera as técnicas, seja a respiração nasal, a expiração prolongada ou o ‘suspiro’, como medicina específica para o cérebro e o corpo”, afirmam.
Já há festivais para promover a respiração, caso do The Breathing Festival, cuja edição deste ano está a decorrer até final de fevereiro online, e da Global Inspiration Conference, que se realiza em agosto, na Suécia.
5. Renascimento do autocuidado
Ao ler-se o relatório 2021 Wellness Trends, não sobram margens para dúvidas – depois de terem estado de costas voltadas, saúde e bem-estar aproximam-se.
A primeira começa a olhar para o segundo e a voltar-se para o estilo de vida, o segundo quer basear-se em evidências científicas. Isso faz com que hospitais se inspirem em resorts de cinco estrelas, que os estúdios de ioga tomem atenção a aspetos da saúde e que as prescrições médicas sejam cada vez mais personalizadas.
Em Singapura, por exemplo, o governo está a usar tecnologia para criar uma sociedade mais saudável através do LumiHealth e do Apple Watch.
6. Dar cor ao bem-estar
Depois dos protestos antirracistas do ano passado, a diversidade e a inclusão tornaram-se um tópico popular na indústria do bem-estar, mas, para haver uma mudança efetiva, o discurso do sector tem de mudar, isto é, não pode ser apenas dirigido a pessoas brancas e ricas.
O relatório 2021 Wellness Trends assegura que o futuro passa pela valorização de todos os clientes e que as empresas que o fizerem sem olhar à cor de pele, proveniência ou níveis de riqueza vão prosperar.
As viagens vão tornar-se mais conscientes e menos massivas, ou seja, tornar-se-ão, na sua maioria, viagens de bem-estar
7. Transformar eventos através do bem-estar
Há um ano, a pandemia interrompeu abruptamente os eventos presenciais e, apesar de todo o progresso tecnológico, o mundo está sedento de interações pessoais. No entanto, nem tudo foi mau…
Segundo o relatório 2021 Wellness Trends, surgiu uma nova tendência que coloca o ponto fulcral no bem-estar. Novos eventos híbridos (encontros pessoais e virtuais) surgiram, fazendo com que as empresas de tecnologia se adaptassem para os implementar e surgissem novos negócios.
Os locais para os eventos começaram a ser escolhidos tendo em conta a segurança e a saúde e muitos contam com a colaboração médica nesses protocolos, além da ajuda da tecnologia para purificar o ar.
8. Dinheiro em voz alta
O dinheiro, tal como a religião, o sexo e a política, foi, durante décadas, um assunto tabu. Mas, em 2021, a transparência é tendência, logo, assiste-se a uma transformação do sector financeiro, que passa a ser mais humano e pensado à medida de cada um.
Para os especialistas do Global Wellness Summit, essa abertura está a ser impulsionada por uma maior abordagem da saúde mental. Não é novidade para ninguém que a falta de dinheiro está associada à depressão e ansiedade.
“Começaremos a ver o fim dos sistemas financeiros projetados para lucrar com nosso fracasso e o início do despertar do bem-estar financeiro. É hora de começarmos a usar uma linguagem que todos possam entender”, dizem os peritos.
Há já influenciadores financeiros a falar sobre o tema de forma descontraída. Os três mil milhões de visualizações do conteúdo #personalfinance no TikTok provam-no.
9. O ano da redefinição das viagens
A Covid-19 fechou fronteiras um pouco por todo o mundo e confinou pessoas de todos os continentes em casa, diminuindo consideravelmente o turismo. Essa pausa involuntária fez com que a indústria das viagens e os consumidores refletissem sobre como se quer viajar no futuro.
Como refere o relatório 2021 Wellness Trends, as viagens vão tornar-se mais conscientes e menos massivas, ou seja, tornar-se-ão, na sua maioria, viagens de bem-estar, quer na ótica do turista, quer na da comunidade visitada. A retoma do sector vai estar dependente da vacinação contra a Covid-19.