O nosso bem-estar é inseparável do planeta, que está mais frágil do que nunca. Isto é ponto assente, e as tendências da área não fogem desta premissa, bem pelo contrário. As centenas de especialistas do sector, entre os quais líderes de empresas, economistas, médicos, investidores, académicos e tecnológicos, reunidos no Global Wellness Summit (GWS) são unânimes nesta ideia.
O que também ficou bem claro, como realça Susie Ellis, presidente do GWS, “é que o futuro do bem-estar será tudo menos um regresso a 2019. O verdadeiro bem-estar mudou profundamente com a pandemia”. Conheça as dez tendências que ditam o seu futuro e exemplos do que já se está a fazer para ir ao seu encontro.
Tendências de bem-estar a estar atenta
1. A saúde do solo
Como se pode ler no relatório The Future of Wellness 2022, “o solo é o ecossistema mais extraordinário do planeta e é aí que viv em 90 por cento dos organismos terrestres”. O microbioma do solo desempenha um papel fundamental, fornecendo nutrientes às plantas ou capturando o carbono emitido na atmosfera.
Além disso, vários estudos provam que o solo e os microbiomas humanos estão intimamente ligados, logo, a nossa exposição à terra tem impacto na nossa saúde física e mental. O problema, salientam os especialistas, é que vivemos “uma crise alimentar, ambiental e de saúde. Os métodos agrícolas industriais dizimaram o microbioma do solo”. O futuro, que é já o presente em alguns casos, passa por apostar na agricultura regenerativa, cujas técnicas restauram a biodiversidade do solo.
Regen ou Certificado do solo serão os próximos termos a surgir nos rótulos dos alimentos. Aos já habituais banhos de sol juntam-se os banhos de solo, ou seja, o crescente interesse pela jardinagem, bem como a procura de alimentos na Natureza.
Portanto, os especialistas acreditam que as quintas (algumas em espaços urbanos) irão aumentar e apelidam-nas de novos spas, mas onde a limpeza extrema dá lugar ao que chamam de bem-estar ‘sujo’, com as mãos na terra.
2. Acabar com a toxicidade dos músculos
Os problemas com a imagem corporal são quase sempre associados ao sexo feminino, mas isso está longe da verdade. No relatório já nomeado, é citada uma investigação britânica, realizada no ano passado, que demonstra que metade dos homens dos 16 aos 40 anos se sente mal com o seu corpo.
Os especialistas do GWS garantem que os distúrbios alimentares e a dismorfia muscular estão a aumentar entre os homens porque esta é a era na qual nunca se tem músculos suficientes.
As redes sociais são o meio privilegiado de difusão dessa musculatura tóxica, conseguida através do uso de esteroides anabolizantes androgénicos e outras substâncias, bem como de filtros usados nas fotografias. Portanto, a grande tendência é falar-se deste tema tabu e acabar com os estereótipos masculinos.
Na verdade, a tecnologia que mais usamos está a prejudicar a nossa saúde, dado o tempo que passamos à frente de ecrãs
3. Da tecnologia de bem-estar ao bem-estar tecnológico
Entre wearables, aplicações de saúde ou ginásios domésticos inteligentes, o que não falta são exemplos de que a tecnologia promete deixar-nos de boa saúde física e mental. Mas será mesmo assim? Na verdade, a tecnologia que mais usamos está a prejudicar a nossa saúde, dado o tempo que passamos à frente de ecrãs.
O relatório The Future of Wellness 2022 sublinha que, em média, cada pessoa passa 6h55 por dia a olhar para um ecrã, o que é prejudicial para a saúde ocular, estando a aumentar os casos de miopia; para o ritmo circadiano, já que a luz azul que emite está a afetar o sono e, por isso, a aumentar o risco de depressão, diabetes e doenças cardiovasculares.
Além disso, é preciso olhar com atenção para o conteúdo que consumimos. “É aí que entra a necessidade de bem-estar tecnológico: um tipo de bem-estar que não só atenua o dano tóxico que a tecnologia causa na nossa mente e corpo, mas também coloca a saúde no centro de como usamos a tecnologia em geral”, afirmam os especialistas reunidos no GWS.
4. Vida sénior sem limites
De acordo com o relatório já citado, os especialistas em antienvelhecimento dizem que, daqui a uma década, os 90 serão os novos 40. Não é novidade para ninguém que as pessoas estão a viver mais tempo e que quem tem saúde é ativo até mais tarde. Esta nova geração de seniores não se sente velha e não quer ser definida pela idade, nem segregado por ela.
Os especialistas do GWS acreditam que o caminho é a intergeracionalidade, algo comum nas Zonas Azuis, os locais do mundo onde as pessoas vivem mais anos e com mais saúde, caso de Okinawa, no Japão, e Sardenha, em Itália.
O que tem acontecido na maior parte do mundo é que vida comunitária tem desaparecido e as gerações estão muito separadas, algo que tem de ser alterado. No relatório, são propostos programas de bem-estar para os mais velhos que incluem exercício, aprendizagem ao longo da vida, educação para a saúde e nutricional, e programas intergeracionais, ligando jovens a idosos.
5. Viagens de bem-estar
Viajar já não é apenas contemplar paragens mais ou menos longínquas. Os viajantes têm agora necessidade de aprender, de crescer criativa e intelectualmente em novos ambientes.
A Natureza como fonte de cura e de admiração permanece primordial, seja numa aula de ioga num terraço ou calcorreando-a, mas o contacto com os locais ganhou importância, pois serão estes os motores das experiências mais apetecíveis e autênticas.
Piscinas, termas, banhos turcos, saunas, hammams novos ou renovados, praias artificiais ou parques públicos onde a Natureza e a arte andam de mãos dadas e aulas de bem-estar pop-up estão a ganhar importância em cidades de todo o mundo
6 .Saúde nas mulheres
“Muitas condições de saúde das mulheres são subfinanciadas e pouco investigadas, o que causou grandes problemas, fazendo com que as mulheres com doenças crónicas tenham mais dificuldade em obter um diagnóstico correto e encontrar tratamentos eficazes”, lê-se no relatório já mencionado. Um exemplo disso são as doenças cardiovasculares; há sintomas diferentes em ambos os sexos e os sinais no feminino são ainda pouco conhecidos, o que provoca atrasos nos diagnósticos que podem ser fatais.
Para acabar com essa lacuna da investigação médica, start-ups e gigantes da tecnologia estão a melhorar a pesquisa através da Inteligência Artificial, aplicações para smartphones, wearables e testes virtuais.
7. Templos de bem-estar urbanos
Piscinas, termas, banhos turcos, saunas, hammams novos ou renovados, praias artificiais ou parques públicos onde a Natureza e a arte andam de mãos dadas e aulas de bem-estar pop-up estão a ganhar importância em cidades de todo o mundo de forma acessível e inclusiva.
A paisagem urbana muda e as empresas estão atentas a esse facto. Curiosamente, já começam a aparecer saunas para eventos assim como em discotecas.
8. O regresso da autossuficiência
A automatização tem norteado a sociedade, mas chegou o momento de regressar à autossuficiência. A fragilidade do planeta e a instabilidade das cadeias de abastecimento, que ficou visível na pandemia e que poderá ser agravada pelo conflito na Ucrânia, assim o obrigam.
Este boom da autossuficiência já conduziu à criação de escolas de sobrevivência ao ar livre, crescimento do forrageamento, fabrico de produtos caseiros e até o TikTok tem difundido o hashtag #ecohacks com muito sucesso. Os especialistas dizem que é uma simplificação da vida e do consumo à la Marie Kondo, que obriga a pensar sobre os recursos e como são obtidos os alimentos.
9. Certificação dos coaches de saúde e bem-estar
O relatório do GWS refere que se gastam cerca de 7,6 triliões de euros por ano em saúde e 3,8 triliões de euros em bem-estar, mas as doenças crónicas não param de crescer. A solução para que esses problemas de saúde diminuam pode estar nos coaches de saúde e bem-estar, mas é importante que tenham um certificado. Ao contrário dos médicos, as suas consultas duram bem mais do que 15 minutos e nelas não fazem apenas prescrições, ensinam realmente o que podemos fazer para termos um estilo de vida saudável, seja exercício, meditação, nutrição, etc.
O futuro passa por um trabalho em conjunto com médicos, fisioterapeutas, personal trainers e há já seguradoras que cobrem essas consultas.
10. O bem-estar dá as boas-vindas ao metaverso
O metaverso é já uma realidade e a sua entrada no sector do bem-estar é inevitável. Os especialistas do GWS dizem que “sinergias sem precedentes entre as indústrias da tecnologia, saúde e bem-estar – incluindo fitness, beleza, alimentação saudável, bem-estar mental, turismo de bem-estar, spas e bem-estar no local de trabalho – estão a desenvolver mundos virtuais que proporcionam uma experiência muito mais imersiva e transformam radicalmente a forma como o bem-estar é entregue aos consumidores”.