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Tolerância. Qual é, afinal, a sua importância e como desenvolvê-la hoje em dia?

Tolerância. Qual é, afinal, a sua importância e como desenvolvê-la hoje em dia?

Não só para manter as sociedades em harmonia, como para manter uma saúde mental e psicológica forte e inabalável, precisa-se de tolerância. Praticar a empatia, procurar o autoconhecimento, ter humildade e aceitar a falha são ingredientes para melhorar esta importante característica.

Por Jan. 2. 2019

Intolerância. As redes sociais, onde atualmente estamos presentes, vieram mostrar ao mundo como a evolução tecnológica não trouxe consigo o mesmo nível de evolução das emoções humanas.

Se antes estas estavam meio escondidas perante um grupo restrito de amigos ou familiares, atualmente estão expostas ao mundo inteiro através do Facebook, do Instagram, do WhatsApp e do Twitter. E, infelizmente, a intolerância reina, escondida no anonimato proporcionado pelos ecrãs.

A falta de compreensão pelas diferenças, atitudes e pensamentos dos outros é agora mais visível e a intolerância dá asas ao racismo, à xenofobia, à homofobia… e põe em causa a harmonia da já de si exigente vida em sociedade. Basta ver o que tem acontecido recentemente no mundo com as eleições presidenciais quer nos Estados Unidos, com a eleição de Donald Trump, há dois anos, quer no Brasil, com a vitória de Jair Bolsonaro.

Segundo a Plataforma Vítimas de Intolerância, criada no Brasil, após a primeira volta das presidenciais para divulgar e analisar os efeitos da intolerância política, o processo eleitoral gerou mais de 70 vítimas de agressões morais e físicas, incluindo homicídios, denunciadas através desta plataforma.

Intolerância gera o mal

Mas o que é, afinal, a tolerância? Joana Simão Valério, especialista em Psicologia da Saúde e da educação, da Claramente, explica: “Podemos entender a tolerância como a aceitação e o respeito pela diferença, bem como o entendimento de que todos os indivíduos são livres para se expressar e viver de acordo com suas crenças e convicções. Neste sentido, a tolerância implica também um compromisso ativo de luta pelos direitos fundamentais do ser humano”.

Do ponto de vista social, o exercício da tolerância contribui para abolir atitudes discriminatórias, quer ao nível racial e religioso, como cultural, político ou sexual. São estas atitudes que estão na origem de graves situações de exclusão, de isolamento, de violência e, em última instância, de terrorismo e de guerra.

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Daí que seja fundamental educar para a tolerância, para que se promova a inclusão, a diversidade e o intercâmbio cultural.  Mas, além das vantagens óbvias para a vida em sociedade, praticar esta atitude diariamente traz outras vantagens no que diz respeito à saúde mental.

“Do ponto de vista individual, o exercício da tolerância relaciona-se com a maturidade psicológica, cuja principal característica é a abertura à frustração e aos aspetos mais vulneráveis e dolorosos da personalidade. Este autoconhecimento permite ao indivíduo possuir uma imagem íntegra de si próprio e incrementa a qualidade dos seus relacionamentos que serão sustentados na compreensão, em vez de ser no julgamento e na crítica”, explica a psicóloga.

Segundo esta especialista, ao aceitarem a diferença com tranquilidade e sem julgamento, as pessoas emocionalmente mais maduras e tolerantes demonstram competência no trato, nomeadamente no respeito, na delicadeza e na preocupação em não ferir o outro. São, sobretudo, pessoas empáticas, capazes de comunicar assertivamente sem adotar uma postura egocêntrica.

A carência de empatia acaba por comprometer as suas relações interpessoais e esta inflexibilidade psicológica dificulta o acesso ao pensamento criativo (…) – Joana Simão Valério, psicóloga clínica

Fraca tolerância leva a maior rigidez mental

E, contrariamente ao perfil atrás descrito, as pessoas com fraca tolerância às diferenças apresentam uma maior rigidez mental. Têm dificuldade em aceitar perspetivas diferentes da sua, já que estas poderão ser vividas como ameaçadoras à sua identidade e geradoras de ansiedade.

Joana Simão Valério afirma que estes indivíduos “poderão apresentar uma maior dificuldade em lidar com situações de frustração e contrariedade, adotando assim comportamentos mais reativos e reivindicativos, pois acreditam que a sua visão é a única que é válida, desvalorizando e desprezando a do outro. A carência de empatia acaba por comprometer as suas relações interpessoais e esta inflexibilidade psicológica dificulta o acesso ao pensamento criativo e à resolução eficaz de problemas perante situações imprevistas de stresse”.

Este tipo de personalidade, mais intolerante, devido ao apego obstinado a determinadas crenças, hábitos e rotinas acaba por utilizar estas crenças arreigadas como uma defesa e vive numa ilusão de segurança, ordem e tranquilidade, sem a qual acaba por se desequilibrar.

É importante, por isso, educar as crianças, jovens e adultos para a prática da tolerância, existindo várias formas de o fazer

“Contudo, a rigidez e o medo de errar colocam o indivíduo numa posição de estagnação, o que dificulta a conceção de um futuro mais interessante, surgindo então o pessimismo”, explica esta especialista.

É importante, por isso, educar as crianças, jovens e adultos para a prática da tolerância, existindo várias formas de o fazer, como, por exemplo, ensinar ou treinar a necessidade de pensar antes de tomar atitudes impulsivas ou irrefletidas, utilizando para isso a nossa inteligência emocional. Exercitar a tolerância é ver as situações de outra perspetiva, é treinar a empatia, é colocarmo-nos na posição do outro e tentar pensar como ele pensa, e é, sobretudo, ter respeito, pois é o respeito que nos torna melhores pessoas e isso faz muito bem.

Como desenvolver a tolerância

Joana Simão Valério, psicóloga clínica, ensina-nos a melhorar diariamente a nossa capacidade  de sermos tolerantes.

1. Treinar a empatia

Ter a capacidade  de nos colocarmos no lugar do outro,  de imaginarmos  a sua dor  e entendermos  a sua perspetiva  é a base fundamental para haver tolerância.

2. Procurar o autoconhecimento

Tentar ter um conhecimento  mais profundo  das nossas forças e limitações a par  da capacidade  de tolerar os aspetos mais frágeis e dolorosos da personalidade. Isto irá promover o estabelecimento de relacionamentos interpessoais assentes sobretudo na tolerância e na aceitação do outro em vez de ser no julgamento e crítica.

3. Ter consciência da limitação do saber

É muito importante ter humildade para ter consciência de que o nosso saber é limitado, o que promove uma disponibilidade maior para aprender com todas as pessoas, independentemente do seu grau de instrução, idade, profissão ou estrato social e cultural, respeitando sempre diferentes pontos de vista.

4. A aceitação da falha

A aceitação de que o erro e a falha fazem parte da condição humana e que as pessoas, que têm capacidade para tolerar os erros e aprender com eles estão em constante evolução, o que lhes permite atingir graus cada vez mais sofisticados de autoconhecimento e de domínio sobre si, construindo uma perspetiva otimista.

5. A consciência da finitude

A consciência de que tudo é efémero e transitório traz-nos a noção de que as conquistas e os sucessos não passam de situações momentâneas e as condições de superioridade (instrução, conhecimento, estrato social…) não devem ser usadas para rebaixar o outro.

6. O controlo das emoções

Reconhecer as nossas emoções permite-nos não sermos escravizados por elas, ou seja, não viver reagindo às emoções, mas gerindo-as com ponderação e bom senso. A pessoa pode sentir-se alegre, triste, aborrecida ou irritada, mas mantendo-se em controlo dos acontecimentos da sua vida.


Acha que precisamos de ser mais tolerantes? Aprenda ainda a lidar com pessoas tóxicas.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 222, dezembro de 2018.
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