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Tudo o que devíamos saber sobre o ciclo menstrual

Tudo o que devíamos saber sobre o ciclo menstrual

Compreender o nosso ciclo menstrual vai muito além do que apenas saber quando nos vai chegar o período. Inês Almeida, enfermeira e educadora de fertilidade consciente, explica tudo o que precisamos de saber nesta matéria (e porque é tão importante).

Por Ago. 29. 2019

Nós, mulheres, somos cíclicas, desde que nascemos até que morremos. Passamos por inúmeros processos que nos fazem evoluir e transformam profundamente, como a menarca, gravidez e menopausa.

Durante os nossos anos férteis, as mulheres têm ciclos, geralmente mensais, conhecidos como ciclos menstruais.

Ao longo deste ciclo, a mulher experiencia importantes mudanças no seu corpo, que lhes permite gerar uma nova vida. Ao longo do ciclo menstrual, dá-se uma montanha russa de emoções, o que é perfeitamente natural e poderá estar relacionado com a forma como as hormonas vão variando ao longo do mesmo.

Para que a ovulação ocorra, os níveis hormonais devem ser saudáveis

As diferentes fases do ciclo menstrual

O ciclo inicia-se no primeiro dia da menstruação e divide-se em duas fases (fase folicular e fase lútea) ou quatro partes (menstruação, pré-ovulação, ovulação e pré-menstruação).

Nesta imagem, observamos a forma como o ciclo pode ser dividido (sendo que a pré-ovulação insere-se na fase folicular e está entre o fim da menstruação e a ovulação; e a fase pré-menstrual corresponde à fase lútea).

A duração do ciclo menstrual é variável, podendo durar entre 25 a 35 dias. Exite ainda uma variação até oito dias de ciclo para ciclo.

Fase folicular

A fase folicular corresponde à primeira fase do ciclo, iniciando-se na menstruação, que consiste na descamação do endométrio, e terminando na ovulação.

No início do ciclo, a glândula pituitária, que se situa no cérebro, liberta uma hormona chamada FSH (follicle stimulating hormone), que estimula vários folículos a produzir a hormona estrogénio.

Esta hormona é a responsável pela proliferação celular do endométrio (por outras palavras, engrossa-o), para acolher um possível embrião, caso exista fecundação aquando a ovulação. O estrogénio é também responsável pelo aparecimento do muco cervical. Um destes folículos estimulados desenvolve-se mais do que os outros e é chamado o folículo dominante. É deste folículo que é libertado um óvulo.

É importante destacar que esta fase é variável. Existem vários fatores, como stresse, viagens, medicação, entre outros, que podem fazer com que esta fase seja mais longa e, consequentemente, que a ovulação ocorra mais tarde.

Ovulação

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o principal evento do ciclo menstrual é a ovulação e não a menstruação. Para que a ovulação ocorra, os níveis hormonais devem ser saudáveis e atingir determinados valores.

Quando o estrogénio (libertado durante a fase folicular) atinge um certo nível, uma hormona chamada LH é libertada e a ovulação acontece. O óvulo só sobrevive cerca de 12-24 horas. No entanto, a mulher está fértil cerca de seis dias, uma vez que os espermatozoides podem viver no corpo da mulher durante cinco dias.

É a ovulação que permite que a mulher engravide.

Fase Lútea

A fase lútea é a última do ciclo menstrual e tem uma duração geralmente fixa (cerca de 9 a 18 dias), ao contrário da fase folicular. Isto porque o folículo que na fase anterior libertou estrogénio, após a ovulação irá passar a libertar progesterona, passando a chamar-se corpo lúteo. E a sua duração corresponde à duração da fase lútea.

A progesterona mantém o endométrio e prepara-o para receber uma nova vida, ao mesmo tempo que “fecha” o colo do útero.

Se não ocorrer fecundação, o corpo lúteo atrofia e deixa de produzir progesterona, ocorrendo assim a menstruação.

Como identificar em que fase estou? Através dos biomarcadores

Os biomarcadores do ciclo menstrual são sinais dados pelo corpo da mulher, que a ajudam a perceber em que fase do ciclo se encontra.

Muco cervical

Hidrogel fabricado no colo do útero, pela influência da hormona estrogénio, libertada maioritariamente na primeira fase do ciclo.

Este muco tem várias funções, como filtrar os espermatozoides, nutri-los, mantê-los vivos até que a ovulação ocorra e ajudá-los a chegar às trompas de Falópio quando o óvulo é libertado, para que ocorra uma gravidez.

Este muco é muitas vezes sentido pelas mulheres como uma sensação húmida/molhada e também pode ser observado facilmente no papel higiénico.

O muco cervical é essencial para ajudar as mulheres a delimitar a sua janela fértil, através de regras de perceção de fertilidade.

É importante que a mulher tenha um maior conhecimento do corpo, para que possa usar essa literacia corporal como uma ferramenta que a ajuda a tomar decisões empoderadas acerca da sua saúde

Temperatura basal

É a temperatura do corpo após o repouso. Pode ser avaliada com um termómetro de temperatura basal com duas casas decimais, colocado por debaixo da língua, todas as manhãs quando a mulher acorda.

A temperatura basal sobe após a ovulação, por efeito da progesterona no corpo. Através desta avaliação diária, é possível obter um gráfico e a mulher poderá perceber se está a ovular, se os seus níveis de progesterona são saudáveis, quando lhe aparecerá a menstruação e até se está grávida, ainda antes de fazer um teste de gravidez.

Outros biomarcadores

Outros biomarcadores do ciclo menstrual incluem a avaliação do colo do útero (cujas características mudam ao longo do ciclo), teste de LH e até avaliação de sinais e sintomas que variam de mulher para mulher (irritabilidade, sensibilidade mamária, spotting, etc..).

A importância de conhecer o ciclo menstrual, um sinal vital

A maioria das mulheres vive completamente desconectada com o seu corpo, não o sabe ouvir nem corresponder às suas próprias necessidades. É importante que a mulher tenha um maior conhecimento do corpo, para que possa usar essa literacia corporal como uma ferramenta que a ajuda a tomar decisões empoderadas acerca da sua saúde.

Uma mulher que monitoriza o seu ciclo menstrual poderá ter também um maior conhecimento acerca do seu estado de saúde e das suas necessidades. Mais: conseguirá agir precocemente e procurar ajuda antes que um sinal se torne num problema mais grave. E, acima de tudo, ao conhecer a sua janela fértil, pode decidir quando quer ou não engravidar.

O ciclo menstrual é um sinal vital, tal como a tensão arterial, o pulso e a temperatura. Se estivermos dispostas e abertas a escutar e compreender o nosso corpo, seremos capazes de desbloquear ferramentas importantes que nos empoderam e ajudam a tratar de nós da melhor forma.

Inês Martins Almeida é instrutora de perceção de fertilidade, educadora de fertilidade consciente, licenciada em enfermagem e futura midwife. Trabalha com mulheres em idade fértil e na área da saúde reprodutiva, ajudando-as a tomarem decisões empoderadas, a conhecerem o seu ciclo menstrual e gerirem a sua fertilidade. Defende uma abordagem holística e individualizada, numa perspetiva de não julgamento. Pode acompanhar o seu trabalho através do site ou Instagram @cosmic_feminine. 


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