Estivemos à conversa com quatro tipos distintos de viajantes para descobrir tudo sobre as suas aventuras inspiradoras, incluindo dicas para a próxima vez que for viajar. Ora veja.
Viajar em casal
Raquel Janeiro e Miguel Mimoso, também conhecidos como Explorerssaurus, nome da sua página de Instagram, começaram a viajar juntos quando ela foi estudar para Valência, seis meses depois do início do namoro. “Em vez de eu ir a Espanha ou a Raquel vir ao Porto, começámos a encontrarmo-nos em cidades diferentes”, conta Miguel. Ao bichinho das viagens juntaram o hobbie de Miguel, a fotografia, e, em dezembro, de 2017, começaram a partilhar as suas viagens no Instagram.
Dois anos depois, esta rede social já era o seu trabalho a tempo inteiro. “Quando começámos não sabíamos que era possível ganhar dinheiro, mas as fotos de uma viagem que fizemos a Nova Iorque, Cuba e México viralizaram e isso foi o ponto de viragem”, dizem. Mas olhemos um pouco mais para trás. Quando começarem a viajar em casal, Raquel já tinha passado por quase meia centena de países. “Aos 15 anos, arranjei um trabalho part-time para ter dinheiro para viajar. Andava à boleia e utilizava plataformas como o Couchsurfing para fi car a dormir em casa de outras pessoas. Para mim, viajar é tão vital como respirar”, explica.
Mas, se Raquel preferia andar de mochila às costas, Miguel, até a conhecer, era mais adepto do tudo incluído. As diferenças não foram um entrave, e Raquel garante que viajar em casal é um ótimo teste para ver a compatibilidade. “Nós aprendemos a lidar com o estilo de viajante de cada um e arranjámos um meio termo e, antes de qualquer viagem, falamos sobre o nosso propósito.”
Hoje, quando viajam, há um mínimo de planeamento, até porque é o seu trabalho e têm de garantir qualidade. Peripécias já tiveram muitas. “No Instagram, parece tudo um sonho, mas não é assim”, sublinham. O exemplo que dão é a primeira viagem que fizeram após terem deixado os seus trabalhos, que foi à India.
“Primeiro, as nossas malas só chegaram quatro dias depois; segundo, comprei viagens de comboio a pensar que estava a comprar para a primeira classe, e eram para as classes mais baratas. Pôs logo a nossa relação à prova”, narra Raquel, entre risos.
Indonésia é o país de que Raquel mais gosta, em especial Bali. “Adoro o estilo de vida, a diversidade que a ilha oferece, desde a vida animal à cultural, passando pelas pessoas, praias e cascatas, além de ser um destino ainda económico. Até acabámos por construir um botique hotel pequenino , em Canggu com um outro casal de viajantes, Marie e Jake”, explica. Já Miguel é fã de road trips, por isso, a sua viagem favorita foi a que fizeram pelos EUA.
Raquel ensina a poupar nos bilhetes de avião
• “Pesquisar voos em aeroportos perto dos que usaría habitualmente. Como somos do Porto, pesquisamos sempre voos a partir de Vigo e já nos aconteceu pagarmos metade. De Lisboa, pode compensar partir de Madrid.”
• “Também nos conectamos com o serviço VPN, porque muitas companhias oferecem preços diferentes mediante o custo de vida do país. Podemos fingir que estamos em Espanha, EUA, Malásia, e fazemos várias simulações. Acabamos por conseguir poupar muito dinheiro, mas requere tempo de pesquisa.”
Viajar em família
“Professor, marido, pai e apaixonado por viagens.” É assim que se caracteriza Edgar Correia, que continua com a mesma vontade de viajar que tinha quando começou. “Entrei num avião pela primeira vez aos 21 anos na viagem de finalistas da Rita [que é hoje a sua mulher] e nunca mais parei. É a viajar que me sinto feliz e realizado”, afirma.
A paixão por viajar passou-a aos filhos e é em família que tem feito muitas das suas viagens, que, aos 29 anos, também se tornaram profissão. Começou por escrever para publicações nacionais e internacionais, mais tarde criou o projeto Viagensa4 e, nos últimos anos, a revista EvoqueMag. “Hoje em dia sou também sócio e diretor-geral de uma agência de comunicação e relações públicas – Analógica Media – que comunica entre outros, 32 dos mais belos hotéis do mundo”, conta.
Já visitou mais de 100 países e a alguns chama mesmo casa, caso das Maldivas e da Indonésia. Mas curiosamente diz que a grande viagem da sua vida foi de Grândola para Lisboa, para onde se mudou “para estudar… e por amor”.
Das viagens feitas em famílias, as mais marcantes foram “o périplo que fizemos pela Ásia no último verão, Malásia, Singapura e Indonésia com os nossos adolescentes. A Ásia é perfeita para famílias. Mas também a primeira vez que visitámos as Maldivas, a Disney em Paris, as semanas no Brasil quando eram bebés, a primeira vez na Tailândia, as ilhas remotas no Sudeste Asiático, as visitas aos Estados Unidos com destaque para Nova Iorque e Miami, onde vimos o primeiro jogo de Basquetebol da NBA… e voltar a casa, Grândola.”
“Estarmos juntos 24 horas por dia é a nossa melhor viagem”, garante Edgar Correia. Aos pais que querem viajar com crianças aconselha a “procurar locais que tenham motivos de interesse que agradem a todos. Respeitar os tempos deles, mantê-los confortáveis sem nunca esquecer o espírito de aventura. Quando o Tiago e o Vasco eram mais pequenos, costumávamos falar às refeições sobre os destinos que íamos visitar para estimular a curiosidade. As crianças são mais resilientes do que muitas vezes imaginamos”. O grande conselho é: “Vão, descubram o mundo, sem medos… mas com algum planeamento”.
Enquanto os filhos foram bebés, Edgar Correia optava “por destinos que tivessem um bom hospital a uma distância razoável, comida adequada e segurança. Fizemos muitos destinos no Brasil, Europa, principais cidades da Ásia e Estados Unidos… e fomos aos resorts caribenhos e da América Central. A partir dos 6-7 anos, o mundo e a imaginação passaram a ser o limite”, salienta. Maldivas, Porto Santo e Tailândia são alguns dos destinos que recomenda.
As cinco experiências para viver em Porto Santo, de acordo com Edgar Correia
- Dar um mergulho na praia e aproveitar a areia milagrosa de Porto Santo.
- Fazer um passeio de jipe pelos principais miradouros da ilha.
- Observar a vibrante vida marinha daquele mar maravilhoso num passeio de barco
- Visitar o pontão (cais antigo).
- Comer o melhor bolo do caco de mundo, o original de Porto Santo.
Viajar com grupos
O CEO da Pinto Lopes Viagens começou a viajar com o pai, o fundador deste operador turístico e agência de viagens especializada em viagens em grupo, culturais e de autor, sempre acompanhadas por um guia em português, aos 5 anos. “Estamos a falar de outros tempos, outras realidades, em que as viagens ainda eram feitas por estrada, em autocarro. Aos 10 anos, conhecia melhor Paris do que Lisboa. Depois, comecei a viajar sozinho muito cedo. Na nossa família, o bichinho das viagens vai passando de geração para geração”, conta Rui Pinto Lopes.
Nunca se imaginou por isso a ter outra profissão. Hoje, faz maioritariamente três tipos de viagem. “Acompanho grupos para alguns locais mais difíceis ou em períodos mais complicados, ou em caso de algum imprevisto com o guia escalado para determinada viagem. Ainda no dia que fiz 50 anos, o guia teve uma urgência e telefonou-me às 6h30, só tive tempo de tomar um duche e meter qualquer coisa na mala para passar o aniversário nas nuvens a caminho do Dubai”, exemplifica.
Noutro registo totalmente diferente, faz a prospeção de novos destinos para as viagens e nesse caso vai sozinho. “Após ter idealizado a viagem ainda por cá, vou ver se tudo funciona. A última que fez foi à Venezuela, “um destino surpreendente”. “Em outubro e novembro, vamos levar os primeiros grupos. Devido às notícias que nos chegam, temos a ideia de quem é um país inseguro e que faltam bens alimentares, mas não foi isso que encontrei, além de ter um património rico e uma Natureza brutal”, explica.
Por fim, viaja com a família: “Tenho três filhos, de 9, 13 e 16 anos, que estão habituados a viajar desde que nasceram e com eles faço um misto entre visitas e descanso.” Os países visitados são seguramente mais de uma centena, mas diz que nunca os contou. “A melhor viagem é sempre a próxima”, e Rui Pinto Lopes diz que a primeira coisa que faria se lhe saísse “o Euromilhões era dar a volta ao mundo”.
Das viagens que já fez não consegue escolher uma, mas diz que adora a Austrália, o Vietname, Marrocos, a Índia, a Argentina. Peripécias já teve muitas, mas, como responsável de uma agência de viagens, diz que há sempre solução para tudo.
Lembra que, quando começou a acompanhar grupos, que os portugueses se queixavam muito da comida dos outros países. Outra das histórias inesquecíveis transporta-nos até à altura da queda do muro de Berlim. “Dois dos nossos turistas tinham perdido o passaporte e, para conseguirem passar para a Polónia, tiveram de andar a fugir da polícia dentro do autocarro”, conta.
Sugestão: Para Rui Pinto Lopes viajar é também:
• “Uma mais-valia, porque nos permite ter uma visão muito mais abrangente e ajuda-nos a tomar decisões sejam profi ssionais sejam pessoais.”
• “Entender que há diferentes perspetivas para fazer a mesma coisa, que é algo que quero transmitir aos meus filhos.”
• “Perceber que há soluções bem mais simples do que nos parece à partida.”
Viajar sozinha
“Estava farta de fazer as viagens que os outros queriam fazer.” Este foi o mote para a jornalista Renata Telles começar a viajar sozinha há 17 anos. A sua primeira viagem a solo foi à Baía. Hoje, Renata vive em Lisboa, mas, na altura, vivia no Rio de Janeiro.
“Foi uma experiência maravilhosa”, a tal ponto de nunca mais ter parado de o fazer. “Também viajo com outras pessoas e faço press trips, mas viajar sozinha é necessário. Acho que todas as pessoas deveriam fazer, pelo menos, uma viagem sozinhas”, refere. “Viajar faz-nos conhecer tantas culturas diferentes e é abrirmo-nos para o mundo, diz Renata Telles. Depois da Baía, seguiram-se as viagens internacionais, primeiro o Uruguai e, depois, a Índia, que era a viagem que queria muito fazer.
“Fui de mochila às costas e fiquei um mês, tendo ido também ao Nepal”, conta. Como boa jornalista, adora a parte de pesquisar destinos e faz uma espécie de roteiro antes da ida com os lugares que quer conhecer e os sítios onde quer ficar; geralmente escolhe hostels, porque é mais fácil conhecer outros viajantes, mas esse roteiro nunca está fechado. “É quando lá estamos que vamos vivenciar e que conhecemos pessoas que nos vão dando sugestões”, realça.
Renata Telles já esteve em quase 40 países, na sua maioria sozinha, e já serviu de inspiração para muitas mulheres fazerem o mesmo. Tanto que criou o blogue e a conta de Instagram Ela que ama viajar, nos quais dá muitas dicas para quem quer viajar sozinha. “Tenho muitas mulheres a dizerem-me que os meus relatos e experiências as encorajaram muito”, afirma.
Às mulheres que têm receio de partirem sem companhia diz para “começarem por um fim de semana e escolherem um destino próximo”.
“Devem observar como reagiram e como se sentiram. Num primeiro momento é estranho viajar sozinho, mas aos poucos vamos aprendendo a gostar da nossa companhia”, realça. Quanto aos cuidados a ter em viagens a solo, a jornalista diz que são aqueles que como mulheres temos de ter sempre: “Se vou sair à noite, observo quem me rodeia; dependendo do destino, não tenho o meu telemóvel na mão; se estou num bar a beber uma bebida, não deixo a deixo sozinha, para evitar que alguém coloque alguma coisa nela”, enumera.
Quanto aos melhores países para mulheres viajarem sozinhas, Renata Telles destaca “Portugal, Suíça, Malta, Indonésia (aliás, o Sudeste Asiático de maneira geral é muito seguro), Eslovénia (foi uma grande surpresa), Bósnia e Espanha (sobretudo, as cidades menores, em especial, Sevilha)”.
Indonésia, Israel e Índia são os países de que mais gostou nas suas viagens a solo. “A Indonésia foi um destino muito especial, porque as pessoas são muito recetivas e é muito seguro. Israel, apesar de eu não ser religiosa, também me marcou e visitei também a Palestina. A Índia, foi muito especial espiritualmente e, apesar de ser um país complicado para as mulheres, senti que voltei uma outra pessoa”, garante.
4 metas obrigatórias na Indonésia para Renata Telles
1. Ilha de Komodo – Pink Beach (a areia tem tons de rosa) e o Komodo National Park para ver os dragões de Komodo são imperdíveis.
2. Ilhas Gili – formadas pelas três ilhotas Gili Air, Gili Meno e Gili Trawangan. A última é a mais badalada, com melhor estrutura e noite agitada. A primeira é a mais intimista, para quem procura tranquilidade.
3. Ubud – É de visita obrigatória. Inclua atrações como os terraços de arroz de Tegallalang, o Templo Tirta Empul, onde é possível participar nos rituais balineses de purificação, e o Ubud Art Market, o mercado tradicional.
4. Nusa Penida – A ilha tem praias espetaculares, como a Diamond Beach, Atuh Beach, Kelingking Beach, Pandan Beach e Angel’s Billabong.