Chegar à Casa de São Lourenço é como voltar a um lugar onde fomos muito felizes. E após uma breve estadia percebemos que, mesmo sem nunca lá termos estado antes, essa sensação tem razão de ser. É um espaço onde nos sentimos em casa, mas com uma paisagem provavelmente melhor, e um ar definitivamente mais puro.
Em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, com uma vista panorâmica para o vale glaciar do Zêzere (não deixe de fazer um percurso com um guia para perceber melhor do que falamos), onde se encontra a vila de Manteigas, e para a montanha.
Nas palavras de Rogério de Azevedo, arquiteto da pousada original, que abriu portas em 1848, “conforto rústico, bom gosto, fácil no arranjo e no paladar, simplicidade amável… e poesia, alguma poesia…”. É isto que nos proporciona a Casa de São Lourenço, um hotel de cinco estrelas onde o design e o conforto se aliam para uma experiência inesquecível. E podemos afirmá-lo em primeira mão.
Esta que é a segunda casa da Burel Mountain Hotels é hoje um destino idílico para uns dias de descanso longe da agitação das grandes cidades, num meio rural que serve de refúgio para recarregar baterias. Porém, a nossa passagem por lá não se resumiu a isso, pois havia muito mais a descobrir.
A hospitalidade com que fomos recebidas é apenas um dos pontos a destacar durante a nossa estadia.Com um acompanhamento personalizado, Nuno Almeida Leite, Diretor da Casa de São Lourenço e Casa das Penhas Douradas, mostrou-nos todos os cantos à casa. Agora, contamos-lhe tudo.
Como tudo começou
Fundada por Isabel Costa e João Tomás em 2006, a Casa das Penhas Douradas foi a primeira do grupo Burel Mountain Hotels. Depois de adquirirem e reconstruírem a Burel Factory, uma fábrica de lanifícios do século XIX que se encontrava num processo de insolvência, com o objetivo de salvar a tradição do burel, típica da região, Isabel e João estenderam o negócio e adquiriram então a Casa de São Lourenço, que abriu portas em 2018.
Para o casal, todos estes projetos fazem parte de um plano de recuperação de património. Como explica João Tomás, “pegamos naquilo que existe e tentamos dar-lhe uma vida nova, um bocadinho diferente, mas uma vida nova”.
“No fundo somos recuperadores de património, material e imaterial. É essa a nossa missão aqui. Sem passado não temos futuro, vamos valorizá-lo que é o que realmente interessa”, afirma o antigo advogado.
No futuro, há outros espaços na região que podem vir a juntar-se ao grupo.
Design e arquitetura de ponta
Distinguida, em 2021, com o prémio Nacional de Turismo na categoria Turismo Autêntico, a Casa de São Lourenço prima pela preservação do traço original e identidade da pousada, assim como enquadramento na paisagem circundante.
Encontro de estilos convivem harmoniosamente: de um lado a estrutura da casa original, uma das primeiras pousadas da região (e de Portugal), projetada pelo arquiteto Rogério de Azevedo; do outro, a linha contemporânea do novo edifício, resultado da colaboração dos ateliês P-06 e Site Specific.
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No interior, elementos de decoração de Maria Kiel, uma das grandes artistas do séc. XX, ganharam uma nova vida e fundem-se agora com peças de design mais contemporâneas, assinadas por artistas portugueses, entre eles Nuno Gusmão, Marco Sousa Santos, Vicara, Util, Grestel, Bordallo Pinheiro, Bartolomeu Gusmão e Vanda Guerreiro e Burel Factory.
O burel, tecido de lã fabricado na região, está em destaque em praticamente todos os espaços, da receção ao restaurante e quartos. Em paredes revestidas com bordados de excertos de poesia do Guardador de Rebanhos de Fernando Pessoa a tetos forrados a burel, alguns com desenhos da loba, flor e a estrela, de Maria Keil, e ainda instalações de arte, como a do teto do restaurante, este material conta a história do hotel e da montanha.
Artistas da região estão também presentes na decoração de interiores, em peças de olaria e cestos, por exemplo.
Acordar e adormecer com vista
Pernoitar na Casa de São Lourenço não será uma experiência idêntica para todos. Com 17 quartos e 4 suites, todos os espaços são diferentes e especiais à sua maneira.
Na área considerada património original, a madeira é mais abundante, enquanto o betão se apodera da ala mais contemporânea. A lã e o burel são elementos unificadores, assim como certo mobiliário, que se intercala entre os de assinatura Maria Keil (e algumas réplicas fiéis, como é o caso das camas) e outros de designers nacionais.
Em todos os quartos irá encontrar mantas da Burel Factory e uns “quentinhos”, que fica já a saber que os pode levar para casa.
Com varandas privadas ou acesso a um jardim de espécies autóctones, a vista para a montanha está sempre presente. Aproveite estas áreas de descanso para apreciar a paisagem que a rodeia. É simplesmente magnífica.
Os sabores da serra
Se a comida tradicional faz parte das suas preferências, no restaurante São Lourenço não faltam opções típicas de uma ‘casa portuguesa’. Da autoria do chef Manuel Figueira, que passou antes pelo Altis Belém Hotel e Spa e pelo Feitoria, a ementa inclui diferentes opções que aliam o melhor da cozinha tradicional portuguesa à contemporânea.
Na zona de refeições, e sob um “céu estrelado” (são mais de seis mil as estrelas feitas em burel, colocadas manualmente numa estrutura que cobre o teto da sala), recomendamos que não deixe de experimentar, em primeiro lugar, o Cabrito de Campo Romão, Arroz da Assadeira e Esparregado de Grelos, um dos pratos típicos da região e especialidade da casa, e ainda o Pregado Selvagem, Arroz IGP Caldoso de Lavagante do Atlântico e Coentros e a Lula grelhada, Açorda de Centeio, Piso de Coentros e Gema. Como entrada, o Ovo Bio a Baixa Temperatura, Boletos Selvagens, Cebola Crocante e Folhas Ovo a 64º e a Truta de Manteigas, Escabeche, Broa de Milho Regional e Azeitonas Verdes são também um must try.
De referir ainda que o pequeno-almoço é excecional e inclui várias opções, muitas delas feitas no momento.
Um tempo para si
Com uma piscina interior aquecida e com circuito de hidromassagem, que tem ligação direta e por água para uma pequena piscina exterior, a Casa de São Lourenço prova que os detalhes são a essência de um design hotel. Ainda nessa área de wellness, usufrua do banho turco e da sauna com vista para a montanha, uma experiência arrebatadora.
Se precisar de uma ‘mãozinha’ para relaxar, no Spa de Montanha irá encontrar vários tratamentos à disposição, onde são utilizados óleos exclusivos feitos a partir de ervas autóctones da serra, misturadas com azeite e óleo de amêndoas doces.
O que fazer nas redondezas
A serenidade circundante é perfeita para relaxar e desligar, porém, se a inquietude assim não o permite, atividades não faltam. Uma das mais recentes novidades do hotel é o Parapente, mas há outras possibilidades à sua disposição: fazer um workshop de cestaria, visita à Burel Factory, observar as estrelas (sem ruído visual à volta do hotel, com o céu limpo é possível ver muito bem as estrelas), uma expedição até ao cume da montanha, passeios de Jipe, visita a produtores de queijo, caminhadas, aluguer de bicicletas elétricas ou usufruir de um serviço de piquenique, entre outros.
No verão, não deixe de visitar as lagoas e praias fluviais da região e, se for aventureira, percorra o rio de kayak.
Vista de ‘cortar’ a respiração nas Penhas Douradas
Do grupo Burel Mountain Hotels faz ainda parte a Casa das Penhas Douradas, projetada por Pedro Brígida e com arte de Catarina Pinto Leite.
A 1500 metros de altitude, o que antes era um antigo edifício senatorial – numa altura em que a tuberculose era um problema de saúde pública, os doentes deslocavam-se até às Penhas Douradas para um tratamento aeróbio – é atualmente um hotel acolhedor que nos remete para os antigos chalets na neve.
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O burel e a madeira de bétula são os elementos-chave, e a decoração, em grande parte alusiva aos desportos de inverno, prima pelo conforto e serenidade.
Esta estância de montanha das Penhas Douradas é hoje uma referência para os amantes da Natureza e do montanhismo.
Onde: Estrada Nacional 232, km 49,3. Campo Romão, Manteigas.
Preço: a partir de 175€.