A cidade do Elba: descubra o melhor de Hamburgo
Entre acordes musicais dos mais variados estilos, políticas de sustentabilidade, arquitetura impactante e boa gastronomia, Hamburgo, no norte da Alemanha, é uma cidade virada para o rio que a banha. Tudo isto a uma distância curta de zonas de campo, que conquistam qualquer amante da Natureza.
O rio Elba marca a paisagem e a alma de Hamburgo, a segunda maior cidade da Alemanha e o maior porto do país. Não é por isso de estranhar que seja conhecida como a cidade da água, título para o qual também contribui o rio Alster, afluente do primeiro e que forma dois lagos no centro.
Rios e canais são atravessados por mais de 2500 pontes (número que supera o número das que existem em Amesterdão e em Veneza em conjunto). Mas esta não é a única alcunha pela qual é conhecida.
Hamburgo é também a cidade da música, da nova gastronomia e da sustentabilidade. Uma cidade que enche de orgulho quem lá nasce e vive.
“Quando perguntavam a Karl Lagerfeld se ele era mais alemão ou francês, ele dizia que era de Hamburgo”, conta-nos Tomas Kaiser, o guia que nos acompanhou nos dias passados nesta urbe do norte da Alemanha, para exemplificar a forma como os seus habitantes olham para a sua cidade.
O renascimento de Hafencity
Destruída por um grande incêndio, no século XIX, e, no seguinte, pela Segunda Guerra Mundial, Hamburgo está habituada a renascer das cinzas e está em constante mudança. Atualmente, as atenções estão viradas para Hafencity.
Este bairro, voltado para o Elba, está numa autêntica revolução e são muitos os edifícios novos que têm despontado por aqui nos últimos anos, e assim continuará a acontecer. O mais conhecido é o Elbphilharmonie Concert Hall, que, “tal como os vários edifícios da zona, tem obrigatoriamente várias funções”, explica Tomas Kaiser.
As salas de concertos com uma acústica fenomenal são a sua face mais visível e são palco de espetáculos de todos os géneros musicais, mas o edifício alberga ainda um restaurante, um hotel, apartamentos e um terraço (Plaza) com vista panorâmica de 360º, ao qual todos podem aceder.
É ainda no exterior que o edifício cativa quem por ali passa (um conselho, chegue de barco – há uma paragem a poucos passos – e o impacto é ainda mais grandioso).
A construção de vidro ondulado, que capta os reflexos do céu, da água e dos restantes prédios, está assente num edifício histórico de seu nome Kaispeicher. Outrora, aquele foi um depósito de chá, tabaco e grãos de cacau.
O casamento entre a arquitetura contemporânea e a mais tradicional, em tijolo, é muito comum nesta zona da cidade e tem aqui o seu expoente máximo.
Um mundo em ponto pequeno
Outra das atrações de Hafencity é o Speicherstadt, o maior complexo de armazéns do mundo que se estende por dois quilómetros, entre os canais, e é Património Mundial da Unesco.
De fachada neogótica, estes edifícios estão assentes em estacas de carvalho e albergam muitos dos museus da cidade, onde outrora se armazenavam as mercadorias que chegavam.
Um deles é o Miniatur Wunderland, que, como o nome indica, é o mundo em ponto pequeno e não faz só as delícias dos miúdos, mas também dos graúdos. Tem o maior modelo de ferrovia do mundo, mas também aeroportos, cidades, montanhas, praias e muito mais.
O pormenor das figuras, dos meios de transporte, dos monumentos e da Natureza impressiona qualquer um. O jogo de luz, que muda a cada 15 minutos, faz com que seja possível ver o mesmo cenário de noite e de dia.
Sem sair do Wunderland, é possível conhecer Hamburgo, visitar a Suíça (até dá para fabricar um chocolate), Itália, a Escandinávia e inclusivamente o Rio de Janeiro.
Já em construção estão as réplicas do Mónaco e da Provença francesa. Lá dentro, ainda é possível fazer uma visita virtual que nos leva por alguns dos sítios que tínhamos visto em miniatura.
Não queremos desvendar muito para não estragar o efeito surpresa, mas, com a ajuda de uma chave mágica, andamos de gôndola e viajamos em cima de um comboio no Grand Canyon, entre outras aventuras. Vale muito a pena!
A réplica do Rio de Janeiro é uma das mais recentes atrações do Wundeland
A cultura da música
Já lhe dissemos que Hamburgo é a cidade da música e esta não se esgota no Elbphilharmonie. É no boémio bairro de St. Pauli que aquela arte tem mais expressão e, mais uma vez, há espaço para todos os gostos musicais e não só…
Em Reeperbahn, também conhecida como ‘milha do pecado’, os cabarés eróticos, os bares de strip e as sex shops rivalizam com as discotecas, muitos espaços de música ao vivo, teatros musicais (sim, Hamburgo tem uma verdadeira indústria deste tipo de espetáculos) e pubs.
Tomas Kaiser lembra-nos que “foi aqui que os Beatles fizeram os seus primeiros espetáculos ao vivo”. Na verdade, os fabulosos quatro de Liverpool ainda hoje inspiram os músicos que aqui vêm à procura do sucesso e têm uma praça com o seu nome.
Invariavelmente, por estas paragens, a diversão prolonga-se até de manhã. Antes de entrar no espírito da noite, saiba que St. Pauli é também um dos melhores bairros para experimentar a nova gastronomia da cidade.
Praias no Elba
Está na hora de deixar Hamburgo para trás e fazemo-lo de barco. Uma hora depois chegamos a Lühe, na região de Altes Land am Elbstrom, a maior área de cultivo de fruta no norte da Europa (80% da área cultivada são macieiras).
Esta zona é muito conhecida pelo turismo de bicicleta, por isso, não é de estranhar que algumas das pessoas que viajam connosco levem a sua bicicleta e até há um autocarro que as transporta pela região, o ElbeRadwanderbus.
Até lá chegar, o que mais salta à vista é a margem direita do Elba, com as suas praias e vilas, cada uma com uma marina, com casas de veraneio. É aqui que os hamburgueses desfrutam do verão, e as praias de areia começam ainda na cidade.
Apesar de o ar da água ser pouco convidativo, Tomas Kaiser garante-nos que “é seguro ir a banhos. Hamburgo tem apostado na proteção dos seus recursos naturais”, realça.
A sustentabilidade é uma preocupação constante na cidade, seja na arquitetura, nos transportes, no rio, nos espaços verdes, que constituem 72% da área de Hamburgo, e na gastronomia.
Um dia numa quinta
Em Altes Land, que significa Terra Velha, não são só os pomares que marcam a paisagem, o mesmo acontece com as casas triangulares de tijolo, algumas delas com telhado de colmo, e até alguns moinhos de vento.
Foram os colonos holandeses que transformaram estas terras pantanosas em férteis com a ajuda dos canais e diques que aproveitam a água do Elba, como nos diz Monika Rulle, do turismo da região.
É esta paisagem que, nesta altura do ano, está pintada pelo outono, a estação das colheitas, que faz as delícias de quem a percorre nos cerca de mil quilómetros de ciclovias.
A Herzapfelhof é uma das quintas mais conhecidas da região. Produz maçãs e toda a produção é orgânica.
“As que não dão para vender (20%) são aproveitadas para fazer sumo”, refere Rolf Luhs, que segue as pisadas dos seus antepassados nesta propriedade.
É ele que nos ensina a colher maçãs durante um passeio de trator pela quinta e nos explica que muitas famílias vêm cá passar o dia, uma experiência que junta diferentes gerações, como pudemos constatar.
“É possível fazer piqueniques [a quinta tem um restaurante], passear e até é possível apadrinhar uma macieira”, realça. Uma curiosidade: vista do alto, a quinta tem a forma de uma maçã.
No meio da floresta
A pouco mais de uma hora de autocarro a sul de Hamburgo, situa-se a floresta Lünenbuger Heide que é paragem obrigatória para quem gosta de turismo de Natureza e caminhadas.
Foi no Centro Interpretativo HeideErlebnis que conhecemos Pat Bülke, que nos guiará durante a caminhada.
Diz-nos que este foi “o primeiro Parque Natural da Alemanha e que conta com 107 mil hectares, mais de 23 mil pertencem à Reserva Natural de Lüneburg Heath. O terreno é constituído por materiais deixados pela Era Glaciar, tais como areia preta, argilas e matérias pantanosas”.
Os vários percursos estão assinalados e a mochila de Pat Bülke tem tudo o que se pode precisar: várias garrafas de água, comida e até material para prestar primeiros socorros se for necessário. “Já apanhei muitos caminhantes desprevenidos”, realça.
Um percurso circular de 15 quilómetros levou-nos a Wilseder Berg, o ponto mais alto do parque, a 169 metros. A paisagem é feita, entre outros, de bétulas, giestas, zimbros e urzes. A guia diz-nos que é bonita em qualquer altura do ano e não temos razões para duvidar.