Em dezembro passado, quando a arte do pizzaiuolo napolitano foi considerada Património Cultural Imaterial da UNESCO, fui pesquisar que alimentos e outras tradições gastronómicas integravam essa lista e o resultado é este artigo.
Das 17, já provei ou experimentei 10 e, claro, espero vir a experienciar mais, até porque comer e viajar é a melhor coisa do mundo!
Cultura gastronómica: estes 17 pratos são Património Cultural Imaterial da UNESCO
1. A arte do pizzaiuolo napolitano – Itália
Há quem diga que é em Nápoles que se prova a verdadeira piza e a arte da sua confeção foi elevada a Património Cultural Imaterial da UNESCO, em dezembro último.
O movimento que os pizzaiuoli fazem ao rodar a massa, a preparação desta e a sua cozedura num forno de lenha contribuíram para tal distinção.
Nápoles é a capital da piza e dos pizzaiuoli. Existem três mil naquela cidade do Sul de Itália e vários cursos sobre a ‘arte’ de fazer piza, mas este conhecimento é também transmitido em casa e, sobretudo, nas próprias pizarias.
2. Nsima, a tradição culinária – Malawi
Malawi Designa as tradições culinárias do Malawi, mas também uma papa de farinha de milho.
A sua confeção foi reconhecida, no ano passado, pela UNESCO, como Património Cultural Imaterial porque requer conhecimentos específicos – desde a transformação do milho em farinha até à seleção dos acompanhamentos (vegetais, feijões, peixe e carne) à preparação, não esquecendo a forma de servir.
A nsima deve ser comida quente ao pequeno-almoço, almoço ou jantar.
3. A cultura da cerveja – Bélgica
São produzidos mais de 1500 tipos de cerveja na Bélgica e são muitos os processos de fermentação usados, sendo os métodos artesanais os preferidos.
Esta bebida faz parte não só do quotidiano dos belgas, mas também dos dias festivos. E, tal como acontece com o vinho, há escanções de cerveja que trabalham nas harmonizações com a comida.
Integra a lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO desde 2016.
4. Dolma, fazer e partilhar – Azerbaijão
Também em 2017, a UNESCO resolveu ‘premiar’ a preparação do dolma, um dos pratos tradicionais do Azerbaijão.
Comidos em ocasiões especiais, são feitos com folhas de videira ou casca de tomate, de pimentos, pepino e beringela (depende da época do ano) recheadas com vegetais, carne, arroz, cebola, ervilhas e especiarias.
Existem mais de 25 variedades e diz-se que sem os dolma nenhuma mesa está completa.
5. A cultura e tradição do palov – Uzbequistão
No Uzbequistão, um ditado diz que os hóspedes só podem abandonar a casa do seu anfitrião depois de terem experimentado o palov, pois a sua oferta é um gesto de hospitalidade.
Este prato também é servido em ocasiões especiais, como casamentos e as celebrações de ano novo, além de ser cozinhado para ajudar os mais necessitados.
É feito com arroz, carne, especiarias e legumes, cozinhado por homens e mulheres, independentemente da idade e do status social, e é um elo de ligação entre a população.
Tudo isto fez com que a UNESCO olhasse para esta tradição e a ‘premiasse’, em 2016.
6. Oshi palav, uma refeição social – Tajiquistão
No longínquo Tajiquistão, o oshi palav faz parte da herança cultural do país. Existem mais de 200 variedades deste mesmo prato, mas a sua base é o arroz, a carne e as especiarias.
À sua volta reúnem-se, em celebrações, pessoas de várias origens, o que condiz bem com a hospitalidade que caracteriza as suas gentes.
Dizem os naturais do Tajiquistão que este prato serve para reforçar os laços familiares e de amizade e até resolver problemas.
Esta tradição, distinguida pela UNESCO em 2016, é transmitida no seio das famílias e manda a praxe que, quando o aprendiz já domina a arte, tem de fazer um jantar para quem o ensinou.
7. Oshituthi shomagongo, o festival da marula – Namíbia
É o Festival da Marula (uma fruta) e dura três dias, entre março e abril, no Norte de Namíbia.
Toda a festividade, Património Cultural Imaterial da UNESCO desde 2015, se centra em torno de uma bebida, o omagongo, e à volta da sua elaboração, que começa uns dias antes com a ajuda de todos.
Os homens esculpem as taças em madeira, cabaças e ferramentas para perfurar a fruta, enquanto as mulheres fazem os cestos e panelas de barro usadas para processar o omagongo e reúnem a fruta mais madura para lhe extrair o sumo.
Durante todos estes dias, partilham-se conhecimentos e ideias, canta-se e dança-se.
8. Café árabe, um símbolo de generosidade – Emirados Árabes Unidos
É um símbolo de generosidade e de hospitalidade na cultura árabe e a UNESCO, em 2015, resolveu distinguir esta pática.
A tradição manda que o café seja preparado à frente dos hóspedes e respeita um preceito: os grãos são selecionados, levemente torrados e esmagados num almofariz.
Depois, o pó é despejado para uma cafeteira de cobre, que será enchida com água, colocando-se, depois, ao lume. Depois deste ritual, é transferido para uma cafeteira mais pequena e servido numa chávena.
9. A preparação do lavash – Arménia
O fino pão arménio foi distinguido pela UNESCO há cinco anos. Feita com farinha de trigo e água, a massa, depois de bem amassada, é esticada em camadas muito finas e todo o duro trabalho que lhe está associado é feito apenas por mulheres.
Por ser tão fino, precisa apenas de 30 segundos a um minuto no forno e é servido com queijo, verduras e carne, e dura seis meses.
Nos casamentos arménios, é colocado sobre os ombros dos noivos porque traz fertilidade e prosperidade.
10. A confeção tradicional do kimchi – Coreia
Os vegetais e frutos do mar fermentados à moda coreana são uma instituição na Coreia e há centenas de variantes.
O kimchi é um pickle. Uma das receitas mais tradicionais é o de couve-chinesa temperada com gengibre, açúcar, alho picado, malaguetas grandes, cebolinho, malagueta seca e óleo de sésamo, mas há também os que levam frutos do mar (que ajudam à fermentação).
O kimchi é servido no dia a dia, mas também em ocasiões festivas e há um costume, no outono, que leva os coreanos a fazer, em comunidade, grandes quantidades de kimchi, Património Cultural Imaterial da UNESCO desde 2013, para os meses de inverno
11. Dieta mediterrânica – Chipre, Croácia, Espanha, Grécia, Itália, Marrocos e Portugal
É uma das dietas mais saudáveis do mundo e tem um grande sentido comunitário, envolvendo não só a confeção da comida e o estar à mesa, mas também a agricultura, a pesca, a pecuária e respeito pela sazonalidade dos alimentos.
A UNESCO inclui ainda na sua distinção, desde 2013, o artesanato que produz recipientes tradicionais para o transporte, consumo e conservação dos alimentos.
Na parte da alimentação, é o único item que junta o nome de Portugal à lista de Património Cultural Imaterial da UNESCO.
12. Cerimónia tradicional do keskek – Turquia
É um prato tradicionalmente servido em casamentos, feriados religiosos e em outras ocasiões especiais.
É feito com trigo, carne, cebola, especiarias e azeite e cozinhado em caldeirões ao ar livre durante uma noite. Antes disso, o trigo é lavado ao som de preces e sovado ao ritmo dos tambores e de flautas.
A UNESCO distinguiu-o em 2011.
13. Cozinha mexicana tradicional – México
Do plantio à colheita, terminando na confeção das refeições, a cozinha tradicional mexicana é um modelo cultural, exemplo de uma agricultura ímpar, rituais e técnicas culinárias e costumes ancestrais comunitários.
A base da alimentação é o milho, o feijão e o chili, bem acompanhados pelo tomate, abóbora, abacate, cacau e baunilha. Reforça os laços sociais e é um meio de desenvolvimento sustentável.
14. A cultura e tradição do café turco – Turquia
Na Turquia, oferecer um café é sinal de hospitalidade e amizade e fazê-lo obedece a um ritual seguido em todas as casas.
Junta-se o café moído, a água fria e o açúcar numa cafeteira que vai a lume brando, até produzir uma suave espuma. A bebida é servida em chávenas pequenas e sempre acompanhada de um copo de água. No final, as borras que ficam no fundo da taça são lidas por quem sabe e ditam o futuro.
É considerado parte da herança cultural do país e foi elevado a Património Cultural Imaterial da UNESCO em 2013.
15. Washoku, a dieta tradicional – Japão
A gastronomia do país do Sol Nascente vai muito além do sushi e a preparação de uma refeição tradicional segue um ritual que a UNESCO quer preservar e, por isso, nomeou-a Património Cultural Imaterial da UNESCO em 2013.
O washoku está associado não só à confeção e consumo dos alimentos, mas também à sua produção, ao respeito pela natureza e ao uso sustentável dos recursos naturais.
Para que os ingredientes não percam o seu sabor natural, são usados pouco temperos. O dashi (um caldo) é um dos ingredientes mágicos desta cultura gastronómica.
É um ritual presente todo o ano, mas que ganha mais expressão no ano novo, quando até os pratos onde é servida a comida são especiais, pois o washoku também se caracteriza por uma apresentação irrepreensível dos alimentos.
16. Ritual das refeições francesas – França
A arte de bem comer e beber é sinónimo de França. Estar à mesa é um prazer para os franceses, é sinal de união e de convívio.
Os sabores, preferencialmente locais, os vinhos que se casam na perfeição com os pratos e uma mesa bem decorada são os itens que levaram a UNESCO a atribuir-lhe o título de Património Cultural Imaterial em 2010.
Em França, as refeições começam com o aperitivo, seguem-se a entrada, o prato principal, o queijo, a sobremesa e os mignardises (pequenos doces) a acompanhar o café.
17. A tradição do pão de especiarias – Croácia
Na Croácia, o pão de especiarias é muito mais do que um alimento; faz parte do artesanato do Norte do país e é símbolo nacional.
A receita é a mesma para todos, mas a massa é moldada de diferentes maneiras e pintada à mão com pigmentos comestíveis. O coração é a forma mais conhecida, mas a imaginação dita os limites.
Primeiro era uma tarefa de homens, mas, hoje em dia, também as mulheres o fazem. Faz parte dos primeiros alimentos a integrarem a lista de Património Cultural Imaterial da UNESCO, em 2010.
Depois de provar estes pratos, a sua cultura gastronómica vai ficar ainda mais apurada. Ainda não sabe para onde vai de férias? Saiba quais os destinos que lhes sugerimos.