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“Estamos a dar a volta ao mundo. Na bagagem trazemos uma insuficiência renal e o Guilherme, com dois anos”

Leia o testemunho de uma família que decidiu fazer as malas e viajar pelo mundo para realizar um sonho – e nem uma insuficiência renal os travou. Catarina conta como foi embarcar nesta aventura com o marido, Filipe, doente renal, e o seu filho, Guilherme, de dois anos.

Por Ago. 21. 2019

Acreditamos que a vida é para ser vivida ao máximo e, por isso, tomámos a decisão mais importante das nossas vidas! Estamos a dar a volta ao mundo há quase cinco meses. Na bagagem trazemos uma doença, a insuficiência renal, e o Guilherme, com dois anos.

Para quem nos conhece sabe que a nossa palavra de ordem é ‘descomplicar’ e, por isso, arriscar passou a ser uma das palavras preferidas do nosso dicionário.

Não somos ricos, como possam pensar. Ao contrário disso, tivemos de abrir mão de muitas coisas e vendemos tudo o que tínhamos. Desprendemo-nos dos bens materiais.

Despedi-me de um trabalho de 10 anos. Era um emprego que adorava mas, chegar a casa e não saber o que realmente me deixava feliz

Cada dia que passa temos mais a certeza de que as melhores coisas da vida estão nas pequenas vivencias. E preferimos mil vezes ver um pôr-do-sol à beira mar, em familia, em Bali, do que continuar a viver uma rotina só porque todos têm uma.

“Existe melhor escola que o mundo?”

Viajar sempre esteve presente no nosso ADN e sabíamos perfeitamente que o nascimento do Gui não seria um motivo para o deixarmos de fazer. Até pelo contrário…

Existe melhor escola que o mundo? Até entrar no ensino obrigatório faltam uns anos e, enquanto a idade não chega, viajar pareceu-nos a melhor solução para lhe dar as bases da vida: amor e respeito pelas culturas, pelas raças, pelas diferenças e pelo planeta onde vivemos.

Eu despedi-me de um trabalho de 10 anos. Era um emprego que adorava mas, chegar a casa e não saber o que realmente me deixava feliz, foi o mote perfeito para a grande decisão: vamos viajar pelo mundo e tornar a nossa vida útil para todos os que precisarem de nós.

Criar o projeto All Aboard Family não foi uma decisão tomada de ânimo leve. Preparámos tudo com cerca de seis a oito meses de antecedência.

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“A planificação da hemodiálise foi talvez o mais desafiante”

Foi com um mapa gigante no chão da sala que traçámos os primeiros planos: primeiro vamos procurar sempre lugares onde esteja sol, isso permite-nos evitar andar com malas cheias de roupa a mais; depois, lugares onde exista a possibilidade de fazer os tratamentos de hemodiálise e, por fim, o orçamento que deve ser seguido de forma rigorosa.

Primeiro Bahamas, Cuba e México. Três destinos da nossa bucketlist já antiga. Bahamas para ver os porcos nadadores, claro! Cuba e México sempre ficaram para o fim da lista: são destinos conhecidos e sempre preferimos andar por onde os locais andam, sem grandes massas de pessoas e onde não encontramos muito turismo.

Desta vez, com a hemodiálise, as prioridades são outras e já não podemos escolher os locais a visitar por preferência. Agora têm de fazer sentido.

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Preparámos a mala do Gui com as coisas de que mais gosta. Acreditamos que o mundo digital deva ter a medida certa na vida dos mais novos e, por isso, enchemos a mala de canetas, lápis, legos e livros. São as coisas preferidas dele e as nossas escolhas também.

Nas nossas colocámos apenas o indispensável, mesmo que esse indispensável se traduzisse numa montanha de malas – quatro ao todo! Roupas, protetores solares, equipamento de fotografia são só alguns dos exemplos…

Se um tratamento falhar, pomos em risco a vida do Filipe e, talvez por isso, seja um projeto que tem tanto de bom como de arriscado, mas a missão que temos faz sempre valer a pena

A planificação da hemodiálise foi talvez o mais desafiante. Somos ‘novos e únicos’ nestas andanças. Estamos a pisar por terras desconhecidas e quisemos não ser os últimos a passar por esta experiência. Para isso, contamos com a ajuda da Diaverum, empresa de cuidados renais que nos ajuda em todas as questões de logística.

Aos dias de hoje não é fácil chegar até às clinicas existentes em todo o mundo e, quando temos a sorte de encontrar alguma na Internet, raramente nos respondem aos e-mails. Sabíamos que íamos precisar de ajuda nesse campo.

Nesta fase, temos os tratamentos todos marcados para, pelo menos, dois meses à frente. Sabemos para onde vamos e que não podemos fazer alterações à última da hora. Se um tratamento falhar, pomos em risco a vida do Filipe e, talvez por isso, seja um projeto que tem tanto de bom como de arriscado, mas a missão que temos faz sempre valer a pena.

“Sentimo-nos capazes de tudo”

Agora que sabemos onde estamos, o que queremos e para onde queremos ir, é altura de metermos as mochilas às costas e de começar aquilo que será a experiência das nossas vidas.

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Não existe nada mais recompensador que estarmos a viver o nosso próprio sonho. Sentimo-nos capazes de tudo. E somos! A maior limitação é sempre a nossa cabeça. Por isso se é para ir, é para ir com tudo. Sem medos!

Catarina, Filipe e Guilherme são os protagonistas desta história. Durante um ano, podemos segui-los no Instagram @allaboardfamily e no blog familiar All Aboard Family onde podemos ver os locais de cortar a respiração por onde passam, as delicias da infância feliz do Gui e as rotinas próprias de quem faz hemodiálise três vezes por semana, em 30 países diferentes.


 

A história de Catarina Filipe e Gui inspirou-a? Antes de se fazer à estrada com a família, siga estes conselhos para viajar com crianças.

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