“No Dubai, tudo é possível! Quem tiver uma boa ideia, cá terá forma de a realizar”. Esta frase de Abdul, que nos guiou pelo deserto Rub Al Khali, ecoa na nossa cabeça desde que a ouvimos e faz todo o sentido. Afinal, estamos no emirado onde as impossibilidades se tornam realidade.
Ora vejamos: no Dubai, construiu-se uma ilha em forma de palmeira e um arquipélago com o formato do mapa-mundo com 300 ilhas; os arranha-céus competem uns com os outros em forma e altura, sendo que o maior do mundo, o Burj Khalifa, também tem aqui a sua morada; um jardim com flores de todo o mundo floresce todos os anos no deserto e nem sequer falta uma pista de esqui num centro comercial e um hotel de sete estrelas, o Burj Al Arab.
Era uma vez uma aldeia
Há muitos mais exemplos que engrandecem a sensação de esta ser uma terra de possibilidades, mas comecemos por onde tudo principiou, ou seja, pelo Dubai Creek.
Foi nas margens deste canal que nasceu a aldeia piscatória que deu, depois, origem à cidade cosmopolita que é hoje.
O Museu Al Shindagha (12€) é o local perfeito para perceber a evolução do Dubai. É uma experiência multimédia e interativa que nos mostra o desenvolvimento deste estado, o segundo maior do Emirados Árabes Unidos.
Tudo começou no século XIX, com a pesca e a apanha de pérolas, negócio que trouxe a esta parte do mundo comerciantes vindos de todo o lado. A família Al Maktoum governa o Dubai desde aí.
O petróleo, descoberto em 1966, tornou-se, depois, o motor da economia e o desenvolvimento e a inovação não mais pararam.
O museu tem vários pavilhões e outro dos imperdíveis é a Perfume House. Nela, percebe-se a importância dos aromas nesta cultura, algo que se nota em cada local onde se entra. “O perfume é a linguagem do amor”, lê-se num dos expositores do museu.
Para se sentir um pouco do que era esta terra no passado, é preciso caminhar pelos bairros de Bur Dubai e Deira, separados pelo Creek, mas à distância de uma curta viagem de abra, pequena embarcação de madeira (0,25€), para passar de um ao outro.
Desvendar uma cultura
Em Bur Dubai, salta à vista a arquitetura, com as casas das torres eólicas (uma espécie de ar condicionado natural para refrescar as habitações), que hoje albergam comércio, cafés e restaurantes, mas também vários centros culturais e artísticos.
É numa delas que se encontra o Centro Cultural para o Entendimento Sheikh Mohammed, onde vale a pena fazer uma paragem.
Sob o mote Portas Abertas, Mentes Abertas, neste centro é possível fazer todas as perguntas sobre usos e costumes dos Emirados.
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Somos recebidos com uma chávena de café (pouca quantidade, pois, quando os anfitriões enchem a chávena, é sinal de que está na hora de ir embora) e uma tâmara, um gesto de boas-vindas em qualquer casa dos Emirados, e convidados a ocupar uma das almofadas espalhadas no chão.
A acompanhar-nos está Shaima Mohammed, que, enquanto nos deliciamos com um almoço típico, respondeu às nossas dúvidas.
Apesar de estar vestida toda de preto com a tradicional abaia e o hijab (lenço) na cabeça, diz que no seu guarda-roupa há espaço para outras cores, mas aqueles dois acessórios nunca faltam.
O amor noutra latitude
A certo ponto, a conversa foi parar ao amor e a engenheira industrial de formação conta-nos como conheceu o marido.
“Ele pediu à mãe dele para falar com a minha (são sempre as mães que fazem a ligação entre as famílias) para saber se eu o queria conhecer e correu bem. Ele diz que se casou por amor, por já me seguir nas redes sociais; eu digo que foi um casamento arranjado”, conta-nos, entre sorrisos.
Mas, ressalva, nos Emirados, não há só casamentos arranjados. Também os há por amor. “Mesmo os primeiros estão dependentes do ‘sim’ do casal, se os dois ou uma das partes não concordar, o casamento não acontece”, assegura.
O namoro, sim, é bastante diferente do Ocidente. “Não se namora na rua e não são permitidas relações sexuais antes do casamento”, continua.
Quanto aos direitos das mulheres, a engenheira industrial assegura que “podem estudar o que querem, desempenhar todas as profissões e há igualdade de salários”.
Do souk para a palmeira
Deste lado do canal, situa-se ainda o souk dos tecidos, mas, passado o Creek, entra-se em Deira e na azáfama dos restantes.
O aroma que nos inebria não deixa margem para dúvidas: entrámos pelo das especiarias, segue-se o do ouro, que espanta pela quantidade deste metal precioso nas montras e dentro das lojas, e termina-se no dos perfumes.
Os vendedores abordam-nos, tentam adivinhar de onde somos e mostrar os bens que têm para vender, sempre prontos a regatear.
Ao fundo, a música árabe chega-nos das várias lojas, interrompida por vezes pelo chamamento para as orações nas mesquitas. Os souks são um manjar para os cinco sentidos.
É na ponta oposta do Dubai Antigo e a 250 metros de altitude, mais precisamente no observatório The View at the Palm, que termina o primeiro dia desta viagem.
Como o nome indica, esta torre tem a melhor vista para a Palm Jumeirah, a tal ilha em forma de palmeira que adentra pelo golfo Pérsico.
Aconselhamos a subir ao The Next Level (83€; se não subir a este último andar, o preço começa nos 26€). Tem vista de 360º sem qualquer barreira, algo que não acontece nos outros pontos de observação da cidade.
Mas, antes de apreciar a vista, visite a exposição interativa, onde se pode saber tudo sobre a construção da ilha artificial que é símbolo da ambição do Dubai.
Encontro de culturas
Foi também nas alturas que teve início o segundo dia desta viagem e, por sinal, no topo do edifício mais alto do mundo e que marca todo o skyline do Dubai.
Com 828 metros de altura, ostenta esse título desde 2010. No entanto, dizem-nos que, em Abu Dhabi, estão a construir uma torre que o vai superar e confessam-nos também que o Dubai está só à espera de saber qual a altura da torre do Estado vizinho, que é também a capital dos Emirados Árabes Unidos, para deitar mãos à obra, ou seja, construir uma nova torre e continuarem a deter este recorde.
O Burj Khalifa (a partir de 40€) está situado em downtown e tem três decks de observação, o mais alto a 555 metros.
Lá do alto, consegue-se ver toda a cidade e até o tal arquipélago batizado de The World, por recriar o mundo no golfo Pérsico. Até ao momento, tem três ilhas habitadas, mas mais se seguirão com projetos megalómanos.
A entrada situa-se dentro do Dubai Mall, um paraíso das compras que vai das marcas mais baratas às mais exclusivas, que até tem uma parte que se assemelha a um souk, uma das maiores livrarias do mundo, um aquário e até um ringue de patinagem.
Antes de entrarmos naquele que é considerado o elevador mais rápido do mundo, que nos leva ao topo do Burj Khalifa, há tempo para trocar umas palavras com Lavish, natural de Mumbai, na Índia, que orienta as pessoas nas filas de entrada.
Tem sempre uma piada na ponta da língua e, assim que soube que éramos portugueses, imitou o ‘siiiiim’ de Cristiano Ronaldo.
Ele é um dos estrangeiros que perfazem 80 por cento da população, ou seja, apenas 20 por cento são locais, o que faz com que este seja um ponto de encontro de culturas, que tem como ponto de partida o respeito pelas diferenças.
Dentro desta Torre de Babel, não faltam portugueses, como o Vítor Hugo, que lidera o bar do restaurante The Guild. Ele, como todos os outros que fomos encontrando ao longo da viagem, são unânimes: “É bom viver no Dubai“.
A mesma opinião tem Ali, afegão que dirige o restaurante Ikigai. “Aqui, ninguém nos pergunta de onde vimos, respeitam-nos e há segurança“, sublinha.
Da praia ao deserto
Após um mergulho nas águas quentes do golfo Pérsico, na praia, Jumeirah, é tempo de voltar à Palm Jumeirah, mas, desta vez, para relaxar no Talise Otomoano Spa, no resort Jumeirah Zebeel Saray.
Este espaço de bem-estar tem 8200 quilómetros quadrados e não falta sequer um hammam, onde tivemos a oportunidade de experimentar o Royal Ottoman – Talise Signature (186€), um banho turco à prova de qualquer sujidade.
Começa com lavagem com a luva kese, continua com uma massagem enquanto estamos envolvidas em espuma e termina com uma máscara de mel.
Ao terceiro dia, mudámos de cenário. Deixámos a cidade para trás para desbravar o deserto Rub Jhali (também conhecido como Empty Quarter e o maior deserto de areia do mundo) num safari com a Platinum Heritage Dubai.
Esta empresa tem a sustentabilidade social, económica e ambiental como bandeira e por isso é que os seus Land Rovers dos anos 1950 só andam nos trilhos já traçados e não pisam as dunas. Nós também só pisamos, a pé, as que eles indicam, até porque, como nos diz o guia, “a destruição das dunas causa o desaparecimento da flora e fauna locais”.
Mas sentir a areia quente do fim de tarde nos pés em cima de uma, enquanto o sol se começa a pôr, é uma sensação única e, para nós, o momento alto do passeio pelo deserto, durante o qual é possível ver os ónixes e as gazelas que por ali vivem.
Numa das paragens tivemos ainda oportunidade de saber mais sobre falcoaria, o desporto nacional, e perceber que os falcões são tratados como emires por estas paragens.
Já é noite quando chegamos ao acampamento balduíno, onde termina a experiência. Aqui, é possível andar de camelo, experimentar pinturas com henna e desfrutar de um jantar buffet típico dos Emirados com vários pratos, entre os quais, camelo.
Após um pequeno espetáculo de dança e música árabe, que acaba com os visitantes a juntarem-se aos músicos, apagam-se as luzes e as atenções viram-se para o céu estrelado, guiados por um conhecedor de astronomia.
Olhos postos no futuro
O Dubai Miracle Garden (24€), que parece um verdadeiro milagre, já que 150 milhões de flores naturais de mais de 120 variedades vindas dos quatros cantos do mundo conseguem resistir às elevadas temperaturas locais, é a primeira paragem do nosso último dia no Dubai.
Vai já na sua 12.ª temporada e só está aberto de outubro a março. É uma atração que os mais pequenos adoram, até porque tem uma aldeia dos Estrunfes lá pelo meio. A novidade deste ano é uma nova roda de água junto do lago e mais entretenimento.
Num destino tão futurista como o Dubai, não é de estranhar que haja um Museu do Futuro (37€). Inaugurado em 2022, convida-nos a fazer uma viagem até 2071, mas a primeira coisa que salta à vista é o edifício, uma obra-prima da arquitetura e engenharia revestida a aço e vidro e assinada pelo arquiteto Shaun Killa.
A forma circular representa a Humanidade, o vazio no meio, o futuro, e está assente num monte verde que retrata a Terra.
As inscrições em árabe, que são também as janelas, são frases do xeique Mohammed Bin Rashid Al Maktoum, o governador do Dubai, vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, figura central na configuração deste museu imersivo.
Um exemplo disso é a frase “o futuro pertence a quem pode imaginá-lo, projetá-lo e executá-lo. Não é algo que se espera, mas que se cria”.
Lá dentro, as horas passam ainda mais depressa, pois há muito para experimentar. O espaço e a Terra encontram-se por aqui, sempre com a tecnologia pelo meio e sem esquecer as alterações climáticas e um espaço para relaxar.
Sim, a saúde mental não foi esquecida neste museu e até há um aviso que alerta para o facto de a depressão vir a ultrapassar os números da obesidade em 2030.
Na hora do adeus fica a sensação de que muito ficou para ver, mas isso será sempre uma razão para voltar a um destino que surpreende pela transformação de que foi alvo e pela inovação que mostra em cada canto.
Onde comer no Dubai
No Dubai, é possível experimentar cozinhas de vários pontos do globo. Estes foram os restaurantes que experimentámos:
11 Woodfire
Situado na zona de Jumeirah, não muito longe do mar, e de ar industrial, este restaurante serve vegetais, mariscos e carnes cozinhados a fogo. Tem uma estrela Michelin.
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Tandoor Tina Dubai
Neste restaurante, localizado no 25hours Hotel, perto do Museu do Futuro, o destaque vai para os pratos confecionados no forno tandoor. Tem uma parte exterior que se assemelha a um jardim tropical.
Avatara
Na zona de Dubai Hills e com uma estrela Michelin, é um restaurante indiano vegetariano, cujo menu é inspirado nos chakras, os centros energéticos da vida, e liderado pelo chef Rahul Rana.
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The Guild
É um dos projetos gastronómicos mais recentes do Dubai e foi pensado ao melhor estilo das brasseries de Nova Iorque. Divide-se em vários espaços para as diferentes horas do dia: uma confeitaria com bolos e café, uma zona de aperitivos com muita vegetação, um restaurante com uma área de cozinha a fogo
e outra de mariscos e, por fim, um bar de cocktails.
Noby By The Beach
O emblemático restaurante Nobu tem agora um clube de praia e escolheu para a sua estreia o resort de luxo Atlantis The Royal. A ementa tem como ponto de partida a gastronomia nipo-peruana e é um conceito de partilha.
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Ikigai
Localizado no Millennium Place Hotel, na Dubai Marina, o Ikigai tem como grande novidade
o Izakaya Brunch, que, pasme-se, é servido às sextas-feiras à noite. Sushi, dim sum, tempura e vários pratos principais e sobremesas iniciam uma noite que se quer longa e ao som de um DJ.