Viagens e lazer

Filipe faz hemodiálise todas as semanas e isso não o impede de viajar pelo mundo

Se acha que preciar de tratamentos hospitalares regulares é motivo para deixar de viajar, é porque ainda não conhece Filipe Almeida, um globetrotter com insuficiência renal que decidiu partir com a mulher, Catarina, e o filho de dois anos, Guilherme, numa viagem pelo mundo. Esta é a sua história.

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Filipe faz hemodiálise todas as semanas e isso não o impede de viajar pelo mundo Filipe faz hemodiálise todas as semanas e isso não o impede de viajar pelo mundo
© All Aboard Family
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Set. 17, 2019

Viajar com uma doença não tem de ser impossível. É desafiante e exige muita planificação da nossa parte. Jamais podemos mudar de cidade ou de país sem que os tratamentos estejam já marcados. Temos consciência de que, se falharmos alguns tratamentos, é uma vida que estará em causa mas que, correndo tudo bem, são muitas as que podemos salvar.

Dizemos com frequência que temos mais medo de não aproveitar a vida e o presente do que propriamente de morrer. Se há coisas que não estão nas nossas mãos é quando a vida termina e, por isso, devemos aproveitá-la ao máximo. Devemos sair da nossa zona de conforto e de arriscar mais.

Já fizemos tratamentos em tantos países que, nem se juntarmos as duas mãos vamos conseguir contar. Ainda queremos continuar a fazê-lo por mais uma dúzia e meia.

“Nem sempre é simples”

Acordar cedo num país diferente tem tanto de aterrador como de bom. Habitualmente, os tratamentos são feitos cedo e o Filipe já teve a possibilidade de ver os nasceres do sol mais bonitos do mundo.

Em Santorini, o caminho fez-se de mota desde o hotel até ao tratamento e, quando acordei, tinha uma mensagem a desejar-me uma boa manhã e com um pequeno video do nascer do sol que tinha perdido, visto do alto, sem ninguém por perto. Aquilo deu-lhe tranquilidade a ele, e a mim.

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Filipe Almeida faz hemodiálise três vezes por semana e já realizou os tratamentos em 30 países diferentes. Foto: All Abord Family

Mas nem sempre é simples. Os tratamentos nem sempre correm como esperado e o cansaço torna-se uma limitação para o resto do dia. Se há dias em que a energia está no máximo, há outros que sabemos que temos de abrandar com a viagem e tirar o dia para descansar. É nesses dias que ponho o trabalho em dia, enquanto o Filipe dorme durante a tarde. O Guilherme vai-se distraindo em jogos, sestas e histórias.

“A vida não se define apenas pelos dias que vão passando

Se há coisas que não temos dúvidas é que viajar à volta do mundo está a ajudar a que ganhemos vida. E a vida não se define apenas pelos dias que vão passando, pelas horas, pelos minutos… A vida é aquilo que sentimos dentro de nós, as experiências que vamos vivendo e as pessoas com quem nos vamos cruzando.

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© All Abord Family

Poder viajar enquanto se tem uma doença é lembrar-nos todos os dias que existem motivos pelos quais podemos estar gratos e isso faz com que muitas vezes o cansaço seja abatido pela vontade de explorar uma cidade ou uma praia nova. Neste momento já temos os tratamentos marcados até dezembro. E falamos disto no plural porque dividimos as coisas boas e as menos boas. A doença é dos dois e participo sempre em tudo o que posso.

O Filipe já fez tratamentos em Toronto e em Bali. Em Singapura e na Macedónia. Na Grécia e na Bulgária. Todos correram bem até agora e, em breve, arriscaremos um bocadinho mais: Índia, Sri Lanka, Tailândia, Taiwan e Dubai são apenas algumas das cidades que visitaremos nos próximos meses.

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© All Abord Family

“Esta viagem também serve para quem tem a doença do ‘comodismo'”

Se há quem lamente a doença, nós celebramos a vida. Queremos provar que é possível visitar um familiar do outro lado do mundo. Que é possível construir familia e carreira em qualquer parte do globo. A vida e os tratamentos existem em todo o lado e que não existem doenças melhores nem piores. Que não existem vidas melhores ou piores.

Tudo é relativo aos nossos olhos e aos olhos de quem nos vê. E esta viagem não serve apenas para quem sofre de insuficiência renal, serve também para quem tem qualquer outra doença, mesmo que essa doença possa ser o “comodismo”, como lhe chamamos.

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© All Abord Family

Estamos a dar a volta ao mundo com um bebé de dois anos, já se passaram cinco meses. O Gui conhece 25 países e a única coisa que lamentamos foi de não termos vivido ainda mais quando a insuficiência renal não existia na nossa vida. Afinal, se nós conseguimos, qualquer pessoa consegue tudo, certo?

Catarina, Filipe e Guilherme são os protagonistas desta história. Durante um ano, podemos segui-los no Instagram @allaboardfamily e no blogue familiar All Aboard Family onde podemos ver os locais de cortar a respiração por onde passam, as delicias da infância feliz do Gui e as rotinas próprias de quem faz hemodiálise três vezes por semana, em 30 países diferentes.

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