Istambul ostenta um título que a torna especial. É a única cidade do mundo que se divide entre dois continentes. De um lado, a Europa; do outro, a Ásia, divididas pelo estreito de Bósforo, que liga o mar Negro ao mar de Mármara e ainda entra no Corno de Ouro no coração da cidade.
Se juntarmos a isso a riqueza histórica (não nos podemos esquecer que, em épocas distintas, foi capital dos impérios romano oriental, bizantino e otomano) e a modernidade que a torna cosmopolita, não é difícil perceber por que motivo a Costa Cruzeiros fez dela o ponto de partida e de chegada do seu itinerário que navega pela Turquia e pela Grécia.
Todos a bordo
É dentro do Costa Venezia, o navio escolhido para fazer esta viagem, que começamos a sentir o pulsar de Istambul.
E é este o nosso cenário: às horas certas, ouve-se o chamamento para as mesquitas. A nossa cabine tem vista para o animado bairro de Karaköy e para a famosa Torre de Galata. Já do lado contrário, o esquerdo (em linguagem náutica, bombordo), vê-se, ao longe, a zona histórica e a parte asiática. E, claro, observa-se o intenso vaivém de todo o tipo de embarcações no Bósforo. Desde barcos pequenos de pesca a navios de carga, sem esquecer os ferries e as embarcações turísticas.
Experiências mais completas
“Istambul é uma das cidades mais belas do mundo e tem boas ligações aéreas. Além disso, a Turquia tem um grande potencial para cruzeiros e estamos a tentar ser os primeiros a desenvolvê-lo.” É desta forma que Mario Zanetti, presidente da Costa Cruzeiros, justifica este assentar de arraiais na maior cidade turca.
Quanto ao percurso pelos vários portos turcos e gregos, diz que é “belíssimo e que permite explorar o Mediterrâneo oriental, menos visitado nos últimos anos”.
A Costa Cruzeiros aposta em escalas prolongadas nos portos nos seus variados destinos. A paragem em Istambul de dois dias e uma noite é um exemplo.
“Queremos que quem nos escolhe para viajar possa usufruir de experiências em terra mais completas e que se conecte melhor com os destinos, com as atrações turísticas e, especialmente, com a cultura local. É importante que haja tempo para isso”, afirma Mario Zanetti.
Quanto a Istambul, que lugares são imperdíveis? “Bela pergunta. A cidade é de tal forma bonita e vai tão além das atrações turísticas. Só posso dizer para se perderem pelas suas ruas e viverem a cultura que transparece em cada canto repleto de história”, recomenda.
Margem oriental
É com este conselho em mente que partimos à descoberta de Istambul. Começamos por uma viagem no Bósforo a bordo do barco de madeira Le Vapeur Magique. Com direito a almoço típico, temos uma vista para as margens europeias e asiáticas da cidade.
Ambas mostram mesquitas, casas de habitação de várias épocas, tamanhos e cores, muitas bandeiras turcas, áreas verdes e ostentosos palácios bizantinos e otomanos. É perto de um deles, já na parte oriental, que o barco nos deixa.
Chama-se Berlerbeye e era a residência de verão dos sultões. Dizem, por isso, ser mais modesto que outros. Acreditamos, mas aos olhos dos nossos dias, a modéstia é outra coisa.
As carpetes turcas He-reke, os candelabros de cristal Baccarat oriundos de França, peças de porcelana vindas, por exemplo, da China e do Japão são alguns dos objetos que sobressaem à vista. Servia também para receber visitas de Estado. Visitá-lo é uma viagem ao passado.
O ponto mais alto
A poucos quilómetros, situa-se o ponto mais alto da cidade, a colina Çamlıca. Daí, alcança-se toda a extensa urbe naquele jogo contínuo entre o Velho Continente e a Ásia.
Voltamos a descer em direção ao Bósforo, ainda no bairro de Uscudar. Sentamo-nos, por momentos, na promenade que, ao fim do dia, se enche de pessoas para verem o pôr do sol.
As nuvens não deixaram vê-lo em todo o seu esplendor. No entanto, deu para perceber o seu potencial, enquanto os vendedores metiam conversa para vender chá ou café turcos. Dali, vê-se a famosa Torre de Leandro, situada numa ilhota, que já teve vários fins.
Lição de História
A zona histórica de Istambul, Património Mundial da UNESCO, no lado ocidental da cidade, é a meta do segundo dia. Para lá chegar, é preciso atravessar a Ponte Galata, conhecida pelos seus restaurantes de peixe e pelos pescadores que ali permanecem horas a fio a pescar.
O Hipódromo de Constantinopla, construído à semelhança do Circo Massimo de Roma, serve de ponto de partida para visitar os principais monumentos da cidade. Reza a história que, durante o período bizantino, foi o centro nevrálgico da cidade. Ainda lá estão ruínas romanas e o Obelisco de Teodósio, que veio do Egito.
Hoje, esta praça chama-se Sultanahmet, tal como a mesquita ali ao lado, mais conhecida por Mesquita Azul, devido aos inúmeros azulejos dessa cor. Não muito longe, o Palácio de Topkapi é para visitar sem pressas, num entra-e-sai de salas, dispostas nos quatro pátios.
Durante quatro séculos, foi aqui que viveram os sultões. A biblioteca do sultão é uma das divisões mais bonitas, mas deixe tempo também para os bem tratados jardins coloridos com túlipas.
Logo a passar a primeira porta do palácio, situa-se o restaurante Konyalı, onde é possível provar pratos tradicionais, como o doner kebab. A acompanhar a baklava, casa bem o café turco, cujas cafeteiras douradas chamam a atenção no balcão.
Da mesquita para o bazar
Energias retemperadas, é altura de entrar na Grande Mesquita de Santa Sofia, que, depois de 86 anos como museu, voltou às celebrações religiosas em 2020.
A decisão de Erdogan, o presidente da Turquia, foi alvo de muitas críticas, porque este local, que inicialmente foi uma igreja, era símbolo do ecumenismo religioso que sempre caracterizou Istambul.
Continua a ser possível visitá-la fora das horas das orações. Apenas terá de tirar os sapatos e cobrir os cabelos, se for mulher. O mesmo acontece na Mesquita Azul. Lá dentro, as colunas de mármore, as cúpulas e os mosaicos impressionam.
Depois, é altura de percorrer as ruas movimentadas que nos levam ao Grande Bazar. Lojas, restaurantes, pastelarias, gelatarias, onde servir um gelado é quase um espetáculo de malabarismo. Multidões fazem também parte do cenário.
No ar, sente-se o aroma a castanhas e a milho assados e à carne dos kebabs. No Grande Bazar, o melhor é não ter um rumo definido. E, claro, dominar a arte de bem regatear, se quiser comprar algo. Lá dentro, há desde candeeiros a tapeçarias, especiarias, sabonetes, relógios e joias.
Um banho diferente
Uma vez em Istambul, há que experimentar o banho turco. No hamam AyasoÌa Hurrem Sultan, cheira a rosas. Mal entramos nas salas de mármore, uma senhora vem ter connosco.
O ritual começa com uma esfoliação à prova de qualquer sujidade. Depois, segue-se uma massagem feita com tanta espuma que nos envolve numa espécie de nuvem.
Antes de deixarmos esta zona da cidade, há ainda tempo para assistirmos à Cerimónia Sema Mevlevi. Numa sala redonda, no centro cultural de Hodjapasha, algumas legendas vão-nos guiando nesta oração sufista. Contudo, é a música, a voz e a dança que nos emociona.
De braços no ar e a girar sobre o pé esquerdo numa sincronia perfeita, os dervixes rodopiam com a suas saias redondas.
Podemos não atingir a transcendência espiritual daqueles homens. Mas que é uma viagem, lá isso é. É nesta espécie de encantamento que voltamos para o navio.