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Mini-roteiro para uma escapadinha pelo Alentejo inesquecível

Mini-roteiro para uma escapadinha pelo Alentejo inesquecível

Embalados pelo cante, calcorreámos Serpa, navegámos pelo Alqueva num barco-casa, sobrevoámos Castro Verde num balão de ar quente e vindimámos no Redondo. Eis o nosso mini-guia para uma escapadinha no Alentejo.

Por Set. 25. 2019

Já a pensar no próximo fim de semana prolongado? Aproveite para conhecer (melhor) aquela que é a maior região portuguesa. Deixamos-lhe um pequeno roteiro para uma escapadinha pelo Alentejo inesquecível.

5 coisas imperdíveis para fazer numa escapadinha pelo Alentejo

1. Andar de balão de ar quente

Não há melhor forma de perceber a grandeza do Alentejo do que um passeio de balão de ar quente. Lá do alto, as planícies parecem infinitas, o casario, ainda mais branco e os tons dourados ganham a todos os outros.

As estradas, as povoações, os riachos e as lagoas parecem ter sido desenhados a régua e esquadro. Tudo parece perfeito, a viagem vale cada segundo – desde o momento em que se chega à seara com o dia a clarear e se veem os balões estendidos e a serem insuflados por ventoinhas até ao momento em que aterramos depois do tranquilo voo ao sabor do vento.

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É, sem dúvida, uma experiência a ter, pelo menos, uma vez na vida; afinal é a sensação mais próxima que temos de voar. A Emotion – Life on Adventure voa em vários locais do Alentejo (Castro Verde, Alqueva, Évora, Aljustrel – a partir de 150€), é só escolher o seu preferido, ouvir bem o briefing de segurança antes de entrar para o cesto e depois desfrutar.

2. Viajar ao passado pelos museus de Serpa

Já com os pés no chão, na zona de Castro Verde, brinda-se com espumante antes de continuar a viagem, a partir daqui, por terra. A próxima paragem é Serpa, cidade branca, de ruas estreitas, gentes simpáticas, bom queijo e do cante, a tradição alentejana elevada a Património Imaterial da UNESCO, em 2014. Mas já lá vamos, às cantorias.

O castelo é um bom ponto de partida para descobrir esta cidade raiana. Além de observar Serpa dos nossos dias a partir da muralha, é possível viajar ao passado no Museu Municipal de Arqueologia.

Serpa © D.R.

Os artefactos expostos levam-nos da pré-História à islamização de Serpa, que só terminou no século XIII. Outras obras imponentes da cidade são o aqueduto, construído no século XVII, e a respetiva nora, a Torre de Relógio e o Palácio Ficalho.

Mas percorrendo as suas ruas encontram-se também algumas casas burguesas e o Museu do Relógio (2€), ponto de paragem obrigatório – afinal, falamos do maior da Península Ibérica. Tem dois mil relógios mecânicos de várias marcas (de bolso, de pulso, de parede, escultóricos, etc.) expostos – os restantes 600 que integram a coleção estão expostos no polo de Évora – e o mais antigo data de 1630 e foi feito pelo relojeiro da corte britânica Edmund East.

O museu é privado e nasceu da vontade de António Tavares d’Almeida, que, após ter herdado três relógios de bolso dos seus avós, se apaixonou pela arte da relojoaria. Além da exposição, o museu tem também uma oficina de restauro onde chegam relógios de todo o mundo para serem arranjados.

Dica:app Serpa Tour (disponível em Android e iOS)  é uma boa ferramenta para percorrer  o concelho.

3. Admirar arte: da pintura ao cante

Serpa é também terra de arte contemporânea e o facto de ser a cidade-berço do pintor modernista Manuel Bentes talvez não seja uma coincidência.

A verdade é que a cidade tem um vasto acervo e algum dele decora as paredes da câmara municipal, mas é na recém-inaugurada Galeria Municipal de Arte Contemporânea, que ocupa aquilo que outrora foi o armazém da cooperativa agrícola, que mais bem pode ser observado. Pintura, escultura, fotografia e serigrafia de nomes como Cruzeiro Seixas, Graça Morais, Júlio Pomar, Manuel Cargaleiro, Viera da Silva, entre muitos outros, integram a coleção.

Sem sair da arte, entremos, agora sim, na Casa do Cante, a guardiã deste legado cultural ímpar. Dentro destas paredes, a história dos cantares alentejanos deixa de ter segredos. Sabia, por exemplo, que tudo começou nos campos agrícolas, onde homens e mulheres o cantavam juntos e que foi por altura do Estado Novo que passou a ser ‘coisa de homens’?

Hoje, há grupos masculinos, femininos e até mistos. Um dos mais famosos é o Grupo Coral e Etnográfico Os Camponeses de Pias, e foi nesta aldeia que fomos ao seu encontro. Todas as quartas-feiras (às 21h30, no verão, e às 20h30, no inverno), é possível assistir ao ensaio que fazem na taberna que tem o seu nome e ouvi-los cantar é uma experiência única.

Este grupo canta modas tradicionais, mas também tem vindo a revolucionar o cante com versão de êxitos mais recentes, caso do Circo de Feras, dos Xutos & Pontapés, entre outras, que deram origem ao álbum É Assim Uma Espécie de Cante. O elemento mais novo do grupo tem 9 anos e canta como gente grande. Admirada? Não fique, o cante é uma disciplina obrigatória nas escolas serpenses, porque uma tradição tão especial é para se manter viva.

4. Navegar no maior lago artificial da Europa

Ainda em Pias, a Sociedade Agrícola onde se fazem os vinhos Margaça tem um pequeno museu do vinho, local usado também para fazer provas do néctar dos deuses.

Para o fim desta visita a Serpa, deixámos um dos seus ex-líbris: o Pulo do Lobo, em pleno Parque Natural do Guadiana – a 20 quilómetros da cidade – e que é a maior queda de água do sul de Portugal.

Pulo do Lobo © Getty Images

Continuando na senda da água, um bem tão precioso nesta região, a próxima paragem é mais a norte, no Alqueva. Este é o maior lago artificial da Europa e teve o condão de mudar a paisagem alentejana. A Amieira Marina é um bom ponto de partida para quem quiser navegar nas suas águas.

É possível fazer cruzeiros de alguma horas (a partir de 10€) ou então alugar um barco-casa (a partir de 164€) e navegar ao seu ritmo (não precisa de carta de marinheiro) de aldeia em aldeia até à Juromenha, com passagem pela Luz e Mourão, entre outros.

Para quem preferir estar em terra firme, foi também na Amieira que abriu recentemente a terceira praia fluvial do Alqueva; as outras estão situadas em Mourão e em Monsaraz.

5. Degustar gin e vinho emblemáticos 

E por falar na bonita vila fortificada de Monsaraz, sabia que é a poucos quilómetros desta que se faz um dos gins mais emblemáticos do País? Chama-se Sharish e a destilaria onde é feito pode ser visitada.

O gin nasceu quase por brincadeira, a pedido dos amigos de António Cuco, e depressa se tornou um caso sério de sucesso. A receita anda à volta de dois dos ingredientes preferidos do proprietário: a maçã bravo de Esmolfe DOP e a lúcia-lima fresca. Os visitantes que o desejem podem terminar a visita com uma prova, comentada ou não (20€ e 6€ respetivamente) ou participar num workshop para aprender a fazer gin (40€).

Herdade de São Miguel

E já que estamos no campo das bebidas, uma ida ao Alentejo não fica completa sem a visita a uma herdade vinícola. Na Herdade de São Miguel, uma das propriedades da Casa Relvas, em São Miguel de Machede, no Redondo, é possível participar na vindima (se for altura dela). E, além da apanha da uva, o programa inclui passeio na vinha, aprendizagem de castas e análise sensorial de bagos, grainhas e engaços, pisa, prova de mostos e remontagem de vinho de talha.

Ao todo são cinco horas de atividades, que podem ser coroadas com um almoço tipicamente alentejano (40€, sem almoço; 70€ com almoço). Mas, como diz Alexandre Relvas, “nada é obrigatório, cada um faz as atividades que quiser”.

Certo é, asseguramos, que serão horas bem passadas em contacto com a Natureza num típico monte alentejano.

Onde ficar?

No concelho de Beja, freguesia de Quintos, uma antiga casa de campo foi transformada num hotel inserido numa propriedade vinícola com uma localização que se estende quase até ao Guadiana, situado no final do vale. É a Herdade do Vau Hotel.

Tudo começou com a vontade do proprietário, Miguel Sousa Otto, de fazer vinho. Ali encontrou  as condições necessárias para “fazer vinhos elegantes” e daí até ao hotel não foi preciso pensar muito. Afinal, como diz, este é “um projeto de emoções que merece ser partilhado”.

Herdade do Vau © D.R.

Na casa principal, todos os caminhos vão dar à grande sala, com uma não menos grande lareira, como sempre se viu nas casas alentejanas. É ali também que se toma o pequeno-almoço. A casa continua nos quartos, que se prolongam para a Casa do Forno e para o antigos estábulos. Há ainda dois apartamentos no Lagar.

Lá fora, a paisagem dita as regras e para a observar há cadeiras e redes, além, claro, da piscina

Preço: A partir de 100€. 

Onde comer?

Alentejo também é sinónimo de boa comida e, em Serpa, pode prová-la n’ O Alentejano e no café O Engrola, e em Pias, n’O Adro.

Em nenhum deles faltam os pratos típicos. No primeiro, prove, por exemplo, a sopa de cação de coentrada; no segundo, a carne de porco com migas; e, no terceiro, a caldeirada de peixe de rio.

No café Engrola, não se admire se a refeição acabar com um rol de anedotas pela voz de Francisco Engrola, proprietário. No café do Alentejano, prove também as queijadas de requeijão, um dos doces locais.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 231, agosto de 2019
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