Comprei o bilhete de avião para Nápoles, no sul de Itália, nos primeiros dias de dezembro de 2019. A ideia era aterrar na capital da Campânia em meados de junho do ano seguinte. O surto viral que confinou o mundo adiou-me os planos, mas não alterou, na essência, o roteiro de 12 dias que elaborei para visitar uma das regiões italianas que mais ambicionava conhecer.
Um ano e três meses depois, aterrei em Nápoles, para a primeira viagem ao estrangeiro desde o início da pandemia.
Do lado do mar
O ponto de partida para descobrir a terceira maior cidade italiana foi o La Ciliegina Lifes¾le Hotel (a partir de 120€), o primeiro boutique hotel a abrir na cidade, que me tinha convencido pelo charme e pela localização, a escassos metros da estação marítima. Não poderia ter feito melhor escolha.
Livre da bagagem, parti, a pé, à descoberta da metrópole. A intenção era ir até ao Castelo do Ovo, um dos mais antigos da cidade. Mas, a uns escassos metros à frente, deparei-me com a Galeria Umberto I. Apesar de ser uma das mais famosas de Itália, não tem, todavia, o requinte nem a opulência da Galeria Vittorio Emanuele II, em Milão. Mas Nápoles é assim, descuidada e decadente. Com muito património arquitetónico longe daquilo que já foi, como constataria mais tarde.
Continuei na minha demanda e, quando dei por mim, estava na Piazza del Plebiscito, em frente ao Palácio Real de Nápoles (6€), que aproveitei para visitar. Segui, depois, para o castelo, mas em tempo de pandemia, é preciso fazer um registo antecipado para o poder ver. Como não tinha essa informação, não consegui entrar. Tendo o mar como companhia, continuei a caminhada até ao Villa Comunale di Napoli, o jardim público da cidade, outro ponto de passagem obrigatória.
Decadência fascinante
O centro histórico de Nápoles, menos aprazível do que o passeio marítimo, foi o destino seguinte. Confuso, ruidoso e negligenciado, desperta emoções muito díspares. Ali não há meio-termo. Ama-se ou odeia-se.
Sente-se uma necessidade urgente de percorrer todas as ruas e ruelas numa busca desesperada de detalhes artísticos e arquitetónicos que só se revelam após um olhar mais atento; ou, antes pelo contrário, uma repulsa que nos impele a sair daquela zona o mais depressa que conseguirmos. Eu não só decidi ficar lá, como ainda voltaria pelo menos mais duas vezes.
Numa das arcadas da Piazza Dante, que homenageia o poeta Dante Alighieri, não faltam alfarrabistas e antiquários, nem lojas e cafés. Deambulando sem destino, dei por mim debaixo de um arco que permitia o acesso a uma pequena rua pedonal, também ela com um ar decadente, com uma esplanada paradoxalmente convidativa.
Um letreiro na parede despertou-me a atenção: Aperol Spritz de Melão a 2€. Nem hesitei. Sentei-me e pedi um. O empregado de mesa do TapaSpritz, localizado no número 4 do Vico del Fico Al Purgatorio, trouxe-me a ementa. Pizas napolitanas, a partir de 3,50€, vindas diretamente do forno de lenha do restaurante ao lado? Aproveitei e jantei. Não gastei 10€.
No regresso ao hotel, sob um céu escuro e ainda quente, tomei um banho no jacuzzi existente no terraço, com uma vista privilegiada para a cúpula iluminada da Galeria Umberto I e para o Castelo Sant’Elmo, o castelo medieval que abraça Nápoles a partir do Vomero, uma colina imponente, acessível através de um funicular (2,50€).
O Jardim Inglês do Palácio Reggia di Caserta, também incluído na entrada, é um dos locais a percorrer com calma.
A ilha dos sonhos
No dia seguinte, após o pequeno-almoço, dirigi-me à estação marítima. Comprei um bilhete de ida e volta para Capri. A viagem demora cerca de 60 minutos e não ultrapassa, por norma, os 45€ (o preço varia em função dos horários selecionados).
À chegada à ilha, a primeira coisa a fazer é comprar um bilhete para o funicular (2€) que leva ao centro histórico. Depois, é percorrer as ruelas de lojas, visitar as igrejas, aproveitar as esplanadas, explorar os recantos e apreciar as vistas. Optei pelo percurso a pé até ao Arco Naturale, a formação rochosa que resta de uma gruta paleolítica que ruiu a escassas centenas de metros do mar. Apesar de não ser a opção mais óbvia para muitos turistas, faz-se em cerca de meia hora e permite um maior contacto com a Natureza.
Anacapri, a segunda maior aglomeração urbana da ilha, facilmente acessível de autocarro, também merece um desvio. Depois de visitar o centro histórico, dirigi-me para o imponente terraço do Hotel Caesar Augustus. Propriedade da família de Francesco Signorini, um executivo italiano apaixonado por Portugal que sonha adquirir uma casa no Príncipe Real, em Lisboa, tem uma das melhores vistas da ilha. Tem ainda a vantagem de não estar cheio de turistas, ao contrário de outros pontos.
Barroco imponente
Já de volta ao continente, o terceiro dia foi reservado para visitar Reggia di Caserta (19,50€), o exuberante palácio real barroco que o rei Carlos VII encomendou com a ambição de criar a capital mais avançada da Europa. Projetado pelo engenheiro e arquiteto Luigi Vanvitelli, compete em grandiosidade com o Palácio de Versalhes, em França, que pretendeu imitar. Além dos apartamentos reais e do teatro antigo, possibilita o acesso aos vastos jardins, repletos de fontes e de estátuas, distribuídos ao longo de 120 hectares.
O Jardim Inglês do Palácio Reggia di Caserta, também incluído na entrada, é um dos locais a percorrer com calma. Uma das atrações mais curiosas deste espaço, mandado construir pela rainha Maria Carolina de Áustria, é o Cryptoporticus, uma falsa ruína romana decorada com 11 estátuas.
O lago artificial que recria um dos banhos de Vénus também surpreende.
A costa da moda
No passado verão, foram muitas as celebridades portuguesas, como a atriz Dânia Neto e o comediante César Mourão, que rumaram à costa amalfitana para conhecer aquela que é uma das orlas costeiras mais populares de Itália. No quarto e no quinto dia de viagem, segui-lhes os passos. A pensar que me facilitaria a vida, aluguei um carro, mas rapidamente me apercebi que, apesar de chegar mais depressa aos sítios, era muito difícil e também dispendioso estacionar. Se soubesse o que sei hoje, teria feito todos os trajetos de autocarro.
Só à terceira tentativa é que consegui aparcar em Positano, uma das localidades que mais ambicionava conhecer. Admirada à distância, parece mais sedutora do que, depois, na realidade, é, porque é demasiado comercial e massificada.
Segui, depois, para Ravello, uma vila localizada a 365 metros de altura. Conhecida pelo prestigiado festival de música que anualmente promove, tem um centro histórico pitoresco repleto de torres antigas, casas apalaçadas e jardins suspensos com panorâmicas de cortar a respiração.
Deslumbre amalfitano
Para pernoitar nos dois dias de Costa Amalfitana, elegi o Hotel Marina Riviera (a partir de 194€), em Amalfi, uma unidade hoteleira com uma vista privilegiada para a praia da localidade que batiza a faixa costeira da região. Entre os banhos de mar, aventurei-me pelas ruelas mais antigas e encontrei aquela que é, para mim, a localidade mais sedutora de todas as que os guias recomendam.
É impossível ficar indiferente à grandiosidade do Duomo di Sant’Andrea Apostolo, uma catedral erguida sobre as ruínas de um templo do século IX. Os turistas portugueses mais atentos não deixarão escapar o colorido painel de azulejos da autoria do pintor e ceramista beirão Manuel Cargaleiro, inaugurado em 2005 em frente à praia.
E tudo a lava levou
Pompeia (16€), a cidade destruída durante uma grande erupção do vulcão Vesúvio, em 79, ocupou grande parte do sexto dia de viagem. Coberta por um manto de cinzas durante mais de um milhar e meio de anos, foi descoberta acidentalmente em 1748. As escavações efetuadas nas últimas décadas permitiram descobrir casas com paredes pintadas, estabelecimentos comerciais e até um lupanar, um antigo prostíbulo decorado com desenhos eróticos.
Um pouco mais afastada, a Villa dei Misteri, outro dos locais de visita obrigatória, exibe alguns dos murais mais bem preservados. É também lá que se podem ver algumas das réplicas dos corpos petrificados dos habitantes que morreram a tentar fugir da lava e das cinzas.
No dia seguinte, o sétimo, voltei a partir de comboio de Nápoles, agora para visitar Herculano, outra das cidades devastadas pelas erupções do Vesúvio. Apesar de não ter a dimensão nem a grandiosidade de Pompeia, a visita a este parque arqueológico vale os 13€ do bilhete. Nas arcadas que em tempos idos conduziam ao mar, ainda é visível, nos rostos fossilizados dos que não conseguiram fugir a tempo, a expressão de dor e desespero.
A ilha grandiosa
Ao final do sétimo dia, apanhei um avião para a Sicília. A maior ilha de Itália, com uma área de 25.711 quilómetros quadrados, é também a maior de todo o mar Mediterrâneo.
Aterrei no aeroporto da Catânia, recolhi as chaves do carro que tinha alugado, atravessei a cidade e rumei em direção ao Four Points by Sheraton Catania Hotel & Conference Center (a partir de 67€), localizado numa zona balnear mais tranquila, repleta de cafés, bares e restaurantes, uma opção que recomendo.
Na manhã seguinte, percebendo rapidamente que não conseguiria ver tudo o que queria, tive de tomar decisões. A primeira foi rumar a Siracusa, uma cidade costeira com um centro histórico com muitos pontos de interesse, como é o caso da Piazza Duomo. Edificada sobre um antigo templo romano, é uma das muitas atrações da ilha de Ortígia.
Encanto siciliano
A caminho de Taormina, o destino seguinte, fiz um desvio para Acireale. A pequena cidade costeira repleta de igrejas merece uma visita rápida. Ao cair da noite, cheguei ao Grand Hotel Timeo.
Localizado paredes-meias com o famoso anfiteatro da cidade, é o poiso perfeito para descobrir o nordeste da ilha. Nos arredores, a Isola Bella, uma pequena ilha acessível a pé, é obrigatória. A 213 quilómetros, Cefalú, uma pitoresca vila piscatória construída no sopé de um enorme rochedo, é o paraíso na Terra para os amantes de pequenas localidades encantadoras. A tranquilidade do casario branco contrasta com a agitação de Palermo, a última cidade que visitei. No centro histórico, o palácio real e a catedral são dois dos muitos pontos de interesse. Se possível, deixe o carro longe. Só para estacionar, demorei quase uma hora.
A cinco quilómetros do reboliço urbano, junto à marina, a Villa Igiea (a partir de 320€) é o hotel perfeito para dormir e recuperar forças. Foi o que fiz antes de pegar na mala e regressar a Portugal com uma certeza: não tarda muito, estou na Sicília outra vez.