O caos está instalado na baixa do Porto. Assim que chegamos, é impossível não reparar que as obras para a expansão da linha do metro dominam a cidade e movimentar-nos pelas ruas da Invicta é um desafio digno de um nível elevado de um qualquer jogo de computador.
Porém, assim que chegamos ao Saboaria, no número 564 da Rua do Bonjardim, a poucos metros da estação da Trindade, essa confusão fica para trás. Entramos num mundo à parte, em que a tranquilidade é a protagonista.
Com um aroma delicado a sabão, que paira pelos corredores e quartos, este boutique hotel de 5 estrelas que abriu no final do ano passado, não quer estar, contudo, isolado do mundo.
“A ideia não é criar um espaço totalmente separado do que acontece lá fora. Muito pelo contrário”, afirma Nuno Silva, diretor de operação do grupo Tamar, em entrevista à Saber Viver, explicando que o objetivo é criar um “sentido de comunidade”, um dos pilares da unidade hoteleira.
Em comunidade
Não é difícil perceber os passos dados nesse sentido. Afinal, no lounge deste hotel que já foi, em tempos, uma fábrica de sabão, está disposto um enorme armário repleto de peças de joalharia, cerâmica, cestaria de autor ou produtos de beleza orgânicos disponíveis para venda.
Destes, cerca de 95% são portugueses, artesanais e produzidos manualmente e todos foram cuidadosamente selecionados por Filipa Alves, responsável pela marca Flórida, para o projeto.
Mencionar a curadora da montra e saber quem é esta portuense é crucial para o grupo. “Queremos que as pessoas saibam que a Flórida tem uma loja na Avenida da Boavista, o que é a Flórida, que possam comprar aqui os produtos”, sublinha Nuno Silva.
E acrescenta: “não queremos tomá-los [os produtos] como nossos. Queremos dá-los a conhecer”.
Isto não acontece, como seria expectável, apenas neste local. Também nos quartos vemos esta vontade de partilhar o que há e se faz de bom no nosso país. Numa mesa, é possível encontrar chocolates e drageias da Dubon, uma insígnia nacional.
“Estes chocolates são produzidos pela Karen, que tem uma fábrica chocolateira, um bar de chocolate, e nós queremos que os nossos hóspedes saibam quem ela é e que possam ir conhecer a loja local, no centro do Porto, onde os produtos são produzidos”, destaca, com entusiasmo, o diretor de operação do grupo Tamar.
Pôr as mãos na massa
Por falar em “produzir”, as manhãs de terça-feira são reservadas para dar vida a sabões, num workshop dirigido por Juliana, uma portuense que trocou o litoral pelo interior do país, em busca de uma vida mais calma.
É ela, fundadora do Atelier 7Artes, quem mostra como desenvolver este cosmético de raíz, com recurso a materiais naturais.
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Todavia, não é apenas expositivo. Juliana convida – e encoraja – os curiosos a escolher os aromas, mexer a cera ou adicionar flores secas para decoração. No final, levam as suas criações para casa.
Ainda sem um espaço definido o projeto está, para já, destinado apenas aos hóspedes. Contudo, Nuno Silva confessa que a meta é alarga-lo a quem não tem noite reservada no Saboaria.
Pausa para relaxar
O mesmo objetivo aplica-se ao spa. Inserido num antigo anexo da unidade industrial, que mantém a traça original, este espaço de bem-estar oferece uma experiência sensorial que valoriza as práticas naturais e ancestrais.
Por isso mesmo, os óleos, azeites e manteigas utilizados são todos vegetais. Estes são os preferidos para as massagens, tratamentos corporais, com óleo de massagem, velas ou pedras quentes, e tratamentos de assinatura disponíveis, mediante reserva.
Este spa localiza-se num pequeno jardim ao ar livre, na zona interior do hotel. Aí, brilha também uma piscina exterior aquecida, assim como um jacuzzi. São perfeitos para um fim de dia a caminhar pelas ruas sinuosas do Porto.
O conforto do Saboaria
Tudo isto pode ser feito depois de uma noite descansada num dos 28 apartamentos de dimensões generosas do Saboaria.
Equipados com kitchenette – onde pode cozinhar uma refeição com ingredientes frescos comprados no Mercado do Bolhão, a apenas cerca de 450 metros do hotel -, cómodos sofás e espaço para pousar o seu tapete de ioga (disponível em todos os quartos), os espaços primam pelo conforto e tranquilidade.
São as luzes e materiais preferidos, além dos tons esverdeados (curiosamente, não azuis, como o clássico sabão offenbach, anteriormente aí produzido), beges e crus, que criam esse ambiente.
Assim, a vontade de ficar no quarto apenas a descansar é gigante, garantimos-lhe.
Sempre a pensar além
Inspirados pelas histórias que os espaços contam, Uri Maeir, Hillel Gassenbauer e Amir Madeson, os três amigos por trás do grupo Tamar, que detém o Saboaria, nunca querem ficar parados.
Deste modo, depois do Laranjais, o primeiro hotel que nasceu pelas mãos destes israelitas na Rua do Almada, e do Saboaria, já têm na manga novos projetos.
Em breve, também no Porto, poderá ficar hospedado em mais dois hotéis de 5 estrelas do grupo. O Arnaldo, com 50 unidades de alojamento, ficará nos Guindais, e junto ao túnel de Ceuta, a Fábrica, com 44 quartos.
Mas não se ficam por aí. Posteriormente, chegarão a sul, com projetos em Lisboa e Tentúgal. “Queremos conquistar o mundo”, conclui Nuno Silva.
