Viagem ao Japão: tudo o que precisa de saber antes de ir à terra da gentileza
Omotenashi, ou seja, hospitalidade em japonês, é algo do qual todos os cidadãos do país do Sol Nascente se orgulham. Uma viagem ao Japão pode ser revigorante. Nós dizemos-lhe o que deve visitar.
Esta nação praticamente inventou o turismo quando, nos alvores do período Edo (século XVII), Xogum passou a exigir que os governadores regionais (daimyo) visitassem frequentemente a sede do Governo, criando assim uma rota de norte a sul do país, sendo especialmente importante o troço entre Quioto e Edo (atual Tóquio).
Criaram-se assim estalagens e casas de chá, estabelecimentos para entretenimento e descontração, e lançou-se o que viria a ser o hábito de adquirir omiyage (lembranças, geralmente de comida) para depois compartilhar com a família e amigos no regresso.
Hoje, o Japão proporciona uma variedade considerável de experiências em perfeita comodidade, permite vislumbrar as tecnologias mais visionárias e também desfrutar de património com milénios de antiguidade, é um país seguro, não é extraordinariamente caro e tem uma rede de transportes muito desenvolvida.
Difícil será escolher onde ir, pois o Japão é aproximadamente quatro vezes maior do que Portugal e tem mais de seis mil ilhas. Uma viagem talvez não chegue para ver tudo, mas serve para começar a desbravar território e criar boas memórias, basta seguir as nossas indicações.
O que visitar no Japão?
A espantosa região de Kansai
KIX, aeroporto internacional de Kansai, é a melhor porta para o Japão, pois está muito bem localizado e tem voos de e para a Europa tão ou mais baratos do que aqueles que voam de e para Tóquio. A principal vantagem do KIX é a versatilidade, pois está às portas de Osaca, a um pulinho de Quioto, de Nara e de tantas outras paragens obrigatórias.
Se desejar visitar áreas mais remotas, como por exemplo a verdejante ilha de Hokaido ou as regiões tropicais a sul de Kyushu, aproveite as ofertas da companhia aérea Peach, a operar a partir do KIX, e que de low cost só tem os preços, pois nada foi poupado no seu conforto.
A região de Kansai divide efetivamente o Japão a meio, entre a parte Sudoeste (com fortes influências do continente asiático) e a parte Nordeste (onde fica o monte Fuji, a megametrópole de Tóquio, a área em recuperação de Fukushima, a poderosa região de Sendai, etc.), sendo, por isso, a zona onde se concentrou o comércio e onde se reinventaram tradições, o que frequentemente dá muito bons resultados na gastronomia e na cultura.
Não surpreende, portanto, que Osaca seja a melhor cidade para mergulhar de cabeça no Japão.
Castelos encantados
Aventure-se pela Dotonbori, a movimentada área comercial do centro de Nanba, onde se sucedem as grandes marcas e os vendedores de rua numa cacofonia fascinante, com néones de cortar a respiração, à beira dos canais que outrora ditaram o sucesso comercial desta cidade-mercado.
Sem medos, prove a comida de rua e não se esqueça de experimentar o saboroso okonomiaki (panqueca de couve, massa, vegetais e – na verdade – tudo o mais) e as famosas takoyaki (bolinhas de polvo feitas na chapa). No parque do castelo de Osaca, vai ver-se no meio de uma fortaleza seiscentista e ao mesmo tempo rodeada de arranha-céus do século XXI.
Em que outro país do mundo poderia acontecer isto senão no Japão? E, por falar em castelos, não podemos deixar de mencionar o de Himeji, património mundial da UNESCO, que fica a apenas uma hora de Osaca. É um dos raros castelos autênticos que restam no Japão e permite a entrada na muralha e visitar todas as praças e edifícios, subindo mesmo ao topo, com um guia virtual multilingue de fazer inveja a qualquer cidade europeia.
Cidade dos templos
A verdadeira ‘joia’ de Kansai é Quioto, literalmente a ‘cidade capital’, pois efetivamente foi a capital imperial entre 794 e 1869. A profusão de templos é uma das características pelas quais é mais conhecida, mas não se fique pelo centro da cidade.
Uma breve viagem de autocarro ou comboio urbano leva-o a Arashiyama, onde pode desfrutar do panorama das montanhas ou perder o céu de vista numa densa floresta de bambu. Ou então siga para a parte Sul de Quioto, que até ao século XIX estava ligada a Osaca por canais, e visite o santuário Fushimi Inari Taisha, onde filmaram o filme As Memórias de Uma Gueixa.
Quioto está cheio de recantos lindíssimos, lembrando ao viajante que o Japão não são só cidades modernas e que num pequeno jardim, no mais simples lago com carpas, se pode encontrar a tranquilidade de todo um mosteiro zen.
Kobe, a Paris nipónica
Ainda em Kansai, a cidade de Kobe também vale uma visita. Pode aproveitar na ida ou vinda de Himeji ou então fazer um tour de dia completo. Terá oportunidade para constatar como as cidades japonesas têm tão marcadas as características que as diferenciam, e como também ao nível da cultura e da sociedade são tão distintas umas das outras.
Kobe foi a Paris do início do século, o local onde os japoneses iam ‘colher’ a música, moda e hábitos que se inventavam na Europa e Estados Unidos, e que ali chegavam com rapidez devido às embaixadas e consulados. Depois, devido à guerra e, mais tarde, ao terramoto de 1995, Kobe voltou a reinventar-se com energia, sempre voltada para a grande baía e sobretudo para o seu sentido muito próprio de bom gosto e cosmopolitismo. Se o que procura é um retiro de tranquilidade, o monte Koya fica a menos de duas horas de KIX.
Contudo, não se iluda com a proximidade em relação aos transportes nacionais e internacionais: o Koya-san é o centro da espiritualidade budista shingon, preservada em dezenas de templos, que estão isolados de qualquer cidade com vida própria. A única maneira de ficar por estas paragens é mesmo aderir a um programa de alojamento no interior dos templos, que inclui também as refeições budistas e a obrigatoriedade de moderação no ruído e nos horários. Restrito? Talvez, mas seguramente inesquecível!
A grande capital
Tóquio não é uma cidade, é uma megalópole. Tem tantos habitantes como Portugal inteiro e inclui não só as 23 cidades que já se tinham aglutinado para formar a super-capital como as outras 26 que a ela se juntaram depois da Segunda Guerra Mundial. Além disso, nas imediações de Tóquio existem pontos tão interessantes como a baía de Yokohama ou a ancestral e bonita Kamakura. Para uma visita a Tóquio que a faça sentir-se orgulhosa das suas capacidades de exploração, comece o dia bem cedo no santuário Meiji. Depois, percorra o parque e saia pelo lado de Harajuko.
O contraste é incrível: depois de um santuário no meio da floresta dará por si num bairro comercial cheio de exemplos da estética kawaii. Não sabe o que é? Harajuko é o melhor sítio de todo o Japão para ficar a saber, mas podemos adiantar-lhe que tem a ver com a anime japonesa e toda a cultura que anda à sua volta, por isso, não estranhe quando começar a ver pessoas vestidas como os bonecos de banda.
Museu especial
A espetacular estação de Nagoia é, em superfície, a maior estação do mundo. Com efeito, existem dezenas de centros comerciais, hotéis, torres de negócios e serviços, todos conectados num grande hub futurista. E, se a visita à estação em si já é uma atração, não se fique por aí, que esta cidade tem muito para lhe oferecer. Quase ninguém pensa em ir a Nagoia, mas, nesta metrópole multicultural, pode desfrutar de um dos melhores museus de todo o Japão, especialmente adequado a quem viaja com crianças ou tem um gosto especial por máquinas.
Trata-se do Museu Comemorativo da Indústria e Tecnologia, inteiramente montado pela Toyota, mas que abrange muito mais do que a história desta empresa. Sabia que a Toyota começou por ser uma marca de produção de máquinas de fiar? O museu fica a uma distância curta da estação e no caminho provavelmente ainda vai ouvir falar português na rua, já que Nagoia é uma das cidades do Japão com mais falantes de língua portuguesa!
De Kamakura a Shizuoka
Daibutsu, ou o Grande Buda, é a principal razão para visitar Kamakura. Mas os trilhos de caminhada na montanha, apesar de menos conhecidos, são tão ou mais interessantes que a visita aos santuários.
Kamakura esconde ainda pequenos tesouros: casas de chá, livrarias, lojas de música, roupa vintage, workshops de criação de hanko (carimbo) e tantas outras atividades que podem fazê-la apaixonar-se irremediavelmente por esta pequena cidade que já foi sede de Governo.
Já a prefeitura de Shizuoka é famosa pela produção de chá verde, vindo dali 40 por cento de toda a produção de chá do Japão.
As suas encostas voltadas a sul, para a baía de Suruga e o oceano Pacífico, recebem a brisa do mar e o aroma das algas. Nesta prefeitura, pode aliar a sua estadia a uma experiência de ecoturismo ou mesmo colaborar em fases específicas do cultivo do chá, uma experiência única, da qual deve fazer parte.
3 dicas úteis para preparar a sua viagem ao Japão
1. Como deslocar-se dentro do país?
Para um percurso no qual preveja usar muito o comboio, pode adquirir o Japan Rail Pass, que só se vende a estrangeiros e fora do Japão.
É válido em toda a rede Japan Rail e para todos os tipos de comboios, incluindo os ultrarrápidos. A encomenda do passe deve ser tratada no site da empresa de transportes e custa 218€ (sete dias).
2. Como ir?
Há voos a partir de Lisboa e Porto, geralmente com escala em Frankfurt ou Dubai, a partir de 600€. A Landescape
tem uma viagem agendada ao Japão com partida prevista para 26 de outubro (até 10 de novembro), que inclui acompanhamento do líder, alojamento com pequeno-almoço e transportes locais (preço: 2190€).
Esta viagem tira partido de uma das épocas do ano mais belas para visitar o Japão: o outono.
3. Onde ficar?
As grandes cadeias de business hotel oferecem uma boa relação qualidade-preço e as unidades hoteleiras encontram-se sempre em localizações muito convenientes (perto das estações principais).
Uma das cadeias de referência é Toyoko-Inn, sendo uma das poucas nas quais se aceitam reservas em inglês. Para uma estadia mais especial e a experiência completa de um alojamento em instalações de estilo tradicional japonês, escolha um ryokan.
Esta designação corresponde a um alojamento que pode ter termas incluídas e no qual a qualidade da estadia reproduz as ancestrais estalagens japonesas. Consulte a lista de ryokans diretamente no site da respetiva associação.
Imagem de destaque: © JNTO
Inês Carvalho Matos é líder de viagens da Landscape.
Está nos seus planos uma viagem ao Japão? Veja ainda as viagens low-cost que a vão fazer sonhar alto.