Crónica. Como pode o yoga ajudar a combater o stresse?
Nos momentos de maior stresse, o yoga pode ser a ferramenta que necessita para aprender a lidar com o mesmo. Descubra aqui de que maneira é que esta prática a pode ajudar no dia a dia.
Quando nos sentimos constantemente em estado de stresse, pode ser difícil recuperar o controle do nosso sistema emocional e nervoso e, mais ainda, dar-nos o tempo para o fazer, pois todos passamos por experiências em que o próprio stresse nos impede de encontrar alguma perspetiva de melhoria.
Stresse? O que é isso afinal?
Mesmo que se fale muito do stress, o mesmo acaba por ser um tema subjetivo por ser vivenciado de forma diferente por cada um de nós. Onde todos podemos concordar é no facto de desencadear diversas reações químicas, as necessárias para conseguirmos dar resposta às ameaças que nos surgem no quotidiano e que, por fim, vão interferir com o bom funcionamento geral do nosso sistema nervoso e emocional.
Quando o cérebro reconhece que estamos perante alguma ameaça, ele comunica com o resto do corpo através do Sistema Nervoso Autônomo (SNA), composto pelos Sistema Nervoso Simpático (SNS: lutar, fugir ou “ficar parado”) e Sistema Nervoso Parassimpático (SNP: descanso e digestão).
Quando estamos em modo de “alerta” é quando precisamos de mais energia para poder lidar de forma eficiente com a situação em que nos encontramos. A adrenalina entra em ação, o nosso coração acelera e bombeia mais sangue pelo corpo; respiramos mais rapidamente para obter mais oxigénio e os açúcares e as gorduras são enviados das nossas reservas para as partes do corpo que precisamos mobilizar.
Ficamos mais alerta, os nossos sentidos ficam mais aguçados e, temporariamente, somos como uns super-heróis prontos para a luta.
Quando estamos em stresse, enquanto o corpo está ocupado em dirigir todos os nossos recursos energéticos para sair do perigo, os outros sistemas vitais (como os sistemas digestivo e imunológico) são postos em segundo plano de funcionamento.
Os nossos recursos energéticos são mobilizados para garantir a nossa sobrevivência. Claro, trata-se de uma resposta muito útil quando o stress é provocado por estarmos a ser perseguidos por um animal salvagem, mas provavelmente não tanto quando estamos parados no trânsito, stressados por estar impedidos de cumprir com os nossos compromissos.
Para podermos continuar a funcionar normalmente precisamos de voltar a sentir-nos em situação de controle e num estado relaxado. Se nos sentirmos em constante estado de stress, ficaremos rapidamente exaustos e com vários sintomas físicos, fisiológicos e sociais, comprometendo assim a nossa saúde mental.
Uma pesquisa demonstrou que, em tempos de stresse, as células cerebrais são produzidas de maneira diferente, interferindo no equilíbrio da comunicação entre o cérebro e o corpo, levando a efeitos negativos na memória e na capacidade de aprendizagem.
4 formas de lidar com o stresse através do yoga
Por meio de uma metodologia completa, composta por quatro pilares, o yoga leva-nos a considerar o mundo que nos rodeia com mais perspetiva, permitindo-nos, desta forma, afastar-nos dos pensamentos redutores, como algumas das nossas crenças limitadoras que nos levam ao sofrimento, e ajudar-nos a direcionar a nossa atenção para as capacidades humanas que nos podem levar a considerar a vida de forma mais positiva.
Aqui, apresento-vos muito resumidamente as quatro ferramentas propostas pelo yoga dos dias de hoje.
1. O movimento
Todos sabemos que o exercício ajuda a libertar endorfinas, substâncias químicas produzidas naturalmente que ajudam a aliviar a dor e nos fazem sentir felizes. Praticar yoga também leva a libertar endorfinas.
As diferentes sequências de posturas estimulam o fluxo sanguíneo – os órgãos vitais vão obter assim todos os nutrientes e a energia de que precisam para o seu bom funcionamento.
Uma prática de yoga também pode ajudar a identificar mentalmente zonas de tensão corporal e permite trabalhar de forma mais específica para libertá-las.
Ao libertar estas tensões físicas, principalmente criadas pelas nossas emoções, a flexibilidade desenvolve-se e não é incomum este processo levar algumas pessoa até às lágrimas. Esta é a abordagem holística do movimento no yoga que leva ao alívio do stresse e promove uma maior sensação de bem-estar geral.
2. A respiração
Existem no yoga vários tipos de exercícios respiratórios (os Pranayamas) que visam a obtenção duma resposta mais consciente aos momentos específicos que podem desencadear a produção de hormonas ligadas ao stress.
Alguns exercícios podem não parecer relaxantes no momento, mas vão ajudar a treinar o cérebro para conseguir desenvolver a capacidade de controle quando são detetadas as ameaças potenciais e assim permitir uma resposta comportamental mais controlada e adequada.
Por exemplo, quando praticamos exercícios de respiração lenta e profunda, estamos de facto a ativar o sistema parassimpático, aquele que permite direcionar a nossa energia para onde o corpo mais precisa no momento.
3. A meditação
Meditar é uma parte fundamental do yoga; não apenas a meditação sentada tradicional, mas também aquela que ocorre durante a prática mais física, quando as sequências de movimentos fluidos e coordenados são meditação em movimento ou, também, quando estamos focados na respiração e com a atenção voltada para dentro.
Meditar permite esvaziar e acalmar a mente, viver o momento presente (ou seja, afastar-se dos pensamentos aleatórios criados pela mente), trazer a sua consciência para o relaxamento do corpo, para o foco na sua respiração.
O seu sistema nervoso simpático, responsável pelo stress, irá então dar lugar ao sistema nervoso parassimpático, responsável pela sua capacidade de relaxar.
4. A filosofia
O yoga nem sempre foi uma prática tão física como prevalece na cultura ocidental hoje. Na sua base existe um principio de reflexão, de não causar sofrimento em si mesmo ou nos outros. E o que será o stress senão um sofrimento autoinfligido?
Existe, na cultura do yoga, um conhecimento que se expande para a consciência da mente do ser humano através de códigos de ética e moral, os Yamas e os Nyamas. Estes códigos são as bases desta prática e são propostas para um trabalho de reflexão interno e individual de evolução pessoal.
Jean-Pierre de Oliveira é professor de yoga, autor e um earth activist. A sua inspiradora abordagem ao yoga adapta esta sabedoria antiga à vida dos ioguis modernos como um estilo de vida além das aulas. É conhecido pelo seu estilo genuíno de ensino e instrução técnica profissional reconhecida que o tem levado a participar em diversos eventos.