Um alerta para comer, outro para beber água, uma aplicação para contar calorias, aparelhos para medir a glicemia que são usados por pessoas que não sofrem de diabetes, aplicações para ler rótulos…. E o rol podia continuar.
A tecnologia entrou definitivamente na área da nutrição, mas será que pode ajudar-nos a comer melhor e a emagrecer ou poderá estar a contribuir para uma excessiva preocupação com a alimentação e para distúrbios alimentares? Foi esta a pergunta que fizemos a Rita Fonseca Silva, nutricionista Celeiro, que nos tirou todas as dúvidas.
Uso q.b.
Nos últimos anos, tem surgido um sem-número de aplicações, dispositivos tecnológicos, sites e até redes sociais associadas à nutrição e, como em tudo, há vantagens e desvantagens. Rita Fonseca Silva defende que essas ferramentas “podem fornecer informação e algumas estratégias práticas e simples para mantermos o foco numa dieta saudável e na manutenção de um peso corporal adequado”.
No entanto, também aponta algumas desvantagens, como o facto de “as sugestões não serem individualizadas nem específicas para cada situação, e, em alguns casos, acabarem mesmo por nos fazer passar demasiado tempo ao telemóvel, promover hábitos mais sedentários ou ter uma preocupação excessiva com o tema da alimentação”.
Na verdade, esse cuidado exagerado poderá ter um efeito contrário ao esperado, provocando o desenvolvimento de distúrbios alimentares. “Especialmente em pessoas ou em fases da vida em que a imagem corporal se torna determinante para a autoestima, pode levar a uma preocupação em excesso e até a uma obsessão por tudo o que se come diariamente”, alerta a nutricionista. O ideal para evitar esse perigo é associar o uso da tecnologia ao acompanhamento médico ou de um nutricionista.
Falta de personalização
Existem aplicações para contar calorias, ajudar a ler os rótulos, que falam de alergias alimentares e até que ajudam a fazer um registo alimentar, entre muitas outras. Se forem boas, podem ser uma ferramenta educacional importante.
“É sempre positivo aprendermos algo sobre alimentação e como podemos torná-la mais saudável e equilibrada, contudo, as aplicações de contar calorias e de registo alimentar, no caso de serem utilizadas para um objetivo de ganho ou perda de peso ou em situação de saúde, devem ser aconselhadas e acompanhadas em ambiente de consulta por um médico ou nutricionista”, frisa a nutricionista. Já no que diz respeito aos alertas para beber água, Rita Fonseca Silva não tem dúvidas de que podem ajudar aquelas pessoas que se esquecem de beber água e não conseguem atingir a hidratação diária adequada.
Nos Estados Unidos da América, empresas como a Levels, Nutrisense e January criaram novos dispositivos que rastreiam os níveis de glicose no sangue em tempo real com o intuito de se maximizar a dieta e o exercício físico, mostrando o que acontece quando se come vários tipos de alimentos ao longo do dia. Mas serão benéficos para os não diabéticos? “Não vejo necessidade de pessoas saudáveis e sem necessidades específicas monitorizarem a glicose regularmente. É importante, no entanto, realizar periodicamente análises à glicose em jejum e a outros valores sanguíneos, de acordo com as indicações do médico e tendo em conta as características pessoais a condição de saúde de cada um”, responde Rita Fonseca Silva.
Ler os rótulos
Mais do que toda a tecnologia (se bem que esta também possa ajudar nesta tarefa), talvez seja importante aprender a ler os rótulos para saber se os alimentos contêm os nutrientes que não deve consumir em excesso que, como nos lembra a nutricionista, são a gordura saturada, os açúcares e o sal.
O semáforo nutricional já usado por algumas empresas da área alimentar “pode ajudar a perceber de uma forma rápida o conteúdo dos alimentos em alguns nutrientes-chave e permitir uma escolha mais acertada. Contudo, e, porque este semáforo ainda não existe em todos os alimentos, podemos indicar que um alimento sólido tem teores altos das substâncias anteriormente referidas (logo, deve ser consumido esporadicamente) se contiver mais de 5 g de gordura saturada, mais de 22,5 g de açúcares ou mais do que 1,5 g de sal por 100 g”, explica Rita Fonseca Silva.
Ter uma alimentação equilibrada não é tão difícil como se pensa.
“Uma alimentação saudável é fácil e descomplicada, tem de ser completa, variada e equilibrada. Uma das características imprescindíveis é de facto ser variada, logo, em cada dia temos de colorir o nosso prato de refeição com legumes diversos e no total do dia consumir cerca de três peças de fruta fresca de tamanho médio. Caso exista um objetivo a atingir ou uma situação em específico, o plano alimentar deve ser adaptado, de preferência num contexto de acompanhamento individual de consulta”, realça a nutricionista.