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Costuma ter ataques de fome noturna? Saiba como se controlar

Costuma ter ataques de fome noturna? Saiba como se controlar

Os ataques de fome noturna podem ser sinal de que tem uma alimentação deficitária ou que não está a conseguir gerir o stresse e as emoções.

Por Abr. 12. 2021

É frequente acordar durante a noite, abrir os armários e o frigorífico e comer tudo o que lhe aparece à frente? Se respondeu ‘sim’, é uma das muitas pessoas que sofre da chamada fome noturna, que é bem mais comum do que se possa pensar e pode até ser considerada um distúrbio alimentar. Além disso, é muito provável que esteja a afetar o seu sono ou até a ser provocada pela falta dele.

Fome ou tristeza?

Os ataques de fome noturna estão “usualmente associados à ingestão de alimentos sem que haja necessidade de ingerir calorias. São alimentos de conforto, tranquilizantes e que normalmente são muito ricos em gordura, açúcar e muito processados. Esta ingestão pode estar associada ao facto de ter existido uma alimentação deficitária durante o dia, mas nem sempre isso acontece, ou seja, as pessoas podem comer porque estão tristes, ansiosas e não porque têm fome fisiológica”, explica Teresa Branco, fisiologista na gestão do peso.

As causas dos ataques de fome dependem de pessoa para pessoa, como diz a fundadora do Instituto Teresa Branco, e podem estar associados às emoções e ao stresse.

“As pessoas utilizam essa comida para se acalmarem, até para tentarem dormir melhor, o que nem sempre acontece. Esta ingestão de alimentos está muitas vezes relacionada com uma sensação de vazio emocional”, continua a especialista.

Comer à noite é prejudicial, porque sobrecarrega o organismo, que devia estar a descansar – Teresa Branco, fisiologista na gestão do peso

Fome emocional

Os ataques de fome noturnos podem estar associados a estados emocionais e podem ser resultado daquilo a que se chama fome emocional. Esta caracteriza-se por uma vontade repentina e incontrolável de comer, sobretudo, alimentos hipercalóricos, ou seja, ricos em açúcar e gordura.

Muitas vezes, o resultado dessa fome emocional são os quilos a mais e um grande sentimento de culpa, que agravam o estado emocional debilitado, ligado à ansiedade, frustração e desânimo.

Aumento de peso

“Dependendo de algumas características, estes ataques de fome noturna podem ser considerados um distúrbio alimentar”, realça Teresa Branco.

A síndrome da ingestão noturna é, então, diagnosticada quando as pessoas “comem de forma compulsiva, pelo menos três vezes por semana e durante seis meses”.

Geralmente, essas pessoas ingerem a maioria das calorias depois do jantar, têm problemas de sono e acordam para comer durante a noite. Dormir pouco ou mal faz com haja um défice na produção de leptina, a hormona que controla a saciedade, e um aumento da grelina, hormona responsável pelo apetite, ou seja, isso faz com que se coma mais e se tenda a escolher alimentos menos saudáveis.

Ingerir alimentos durante a noite é quase sempre prejudicial, na opinião de Teresa Branco. “Só em situações de défice de peso é que poderá ser benéfico. Mas, como a maioria das pessoas não tem peso a menos, comer à noite é prejudicial, porque sobrecarrega o organismo, que devia estar a descansar”, refere a fisiologista na gestão do peso.

E são vários os estudos que demonstram que comer à noite pode provocar aumento de peso. Por exemplo, uma investigação da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos da América, provou que a comida consumida à noite engorda mais do que a mesma consumida mais cedo devido simplesmente aos nossos ritmos circadianos, que nos fazem queimar mais calorias de manhã, ou seja, o metabolismo vai desacelerando à medida que o dia avança.

Outro fator importante é que à noite temos picos mais altos de glicose e insulina.

É importante adotar uma alimentação anti-inflamatória e saciante para que a pessoa tenha menos fome à noite – Teresa Branco, fisiologista na gestão do peso

Se comer durante a noite…

Idealmente não deveria comer nada durante a noite, mas, se por acaso existir essa necessidade, escolha opções mais saudáveis como:

  • 1 ovo cozido;
  • 1 punhado de frutos secos;
  • 1 iogurte de coco.

A solução

Posto isto, o ideal é acabar com estes ataques de fome noturna. Teresa Branco revela que o “processo de controlo é muito complexo e, por isso, requer acompanhamento de uma equipa que ajudará a controlar os mecanismos fisiológicos que estão por trás deste aumento de fome”.

É, pois, essencial fazer um “controlo do perfil hormonal, dos défices de vitaminas e minerais para que tenhamos um maior controlo da fome”. Importante ainda é adotar “uma alimentação anti-inflamatória e saciante para que a pessoa tenha menos fome à noite”, garante a especialista.

Convém lembrar que uma dieta anti-inflamatória e saciante elimina os alimentos ultraprocessados e é baixa em gorduras adicionadas, açúcar, carne, sal e cereais refinados, dando primazia às fibras.

Igualmente importante é saber gerir “as emoções que podem dar origem a este vazio que leva a comer, através do acompanhamento de um psicólogo especializado nesta área”, sublinha Teresa Branco.

Por fim, a fisiologista na gestão do peso lembra que a “prescrição do exercício também é relevante, sendo realizado com o objetivo de diminuir a inflamação que normalmente associamos a esta necessidade de ingestão noturna”.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 250, abril de 2021.