Devido às secas, provocadas pelas mudanças climáticas, e ao esgotamento dos solos, há alguns alimentos que vão ganhar importância para fazer face a possíveis carências alimentares. O bambu é um deles.
O seu cultivo já há muito deixou de ser um exclusivo da Ásia, de onde provém, pois dá-se bem em climas cujas temperaturas não sejam muito frias, que com o aquecimento global são cada vez mais.
O bambu tem a vantagem de crescer muito rápido, até um metro por dia, e é uma planta autofertilizante, não necessitando de pesticidas e fertilizantes para o seu cultivo.
Além disso, tem uma capacidade de absorção de CO2 muito superior à de uma floresta tradicional e liberta 35 por cento mais de oxigénio do que outra árvore qualquer.
É usado para fazer mobiliário e na indústria têxtil, mas centremo-nos na sua versão alimentar, talvez a menos conhecida no Ocidente.
A parte comestível do bambu são os rebentos e a gastronomia asiática já há muito que os usa. Como nos diz Rita Almeida, nutricionista nas Clínicas CUF Leiria e Mafra e no Hospital CUF Torres Vedras, “são apreciados, não apenas pelo seu sabor e textura, mas também pelos benefícios nutricionais”, acrescenta.
Nutricionalmente ricos
Olhemos, então, para essa riqueza nutricional.
“Os rebentos de bambu constituem uma excelente opção para quem procura alimentos com poucas calorias, mas ricos em nutrientes. Fornecem vitaminas essenciais, como a vitamina A, vitamina E e vitaminas do complexo B, além de minerais como potássio, cálcio e ferro“, explica a especialista em Nutrição.
Já as fibras, que contêm em grande quantidade, “tal como na grande maioria dos vegetais, promovem o bom funcionamento gastrointestinal“, afirma ainda.
“O consumo regular de fibras é ainda recomendado para auxílio da regulação dos níveis de açúcar no sangue e na prevenção de picos de glicose após as refeições”, acrescenta Rita Almeida.
‘Devido ao baixo teor calórico e ao alto teor de fibras, os rebentos de bambu podem ser aliados na perda de peso, pois proporcionam maior saciedade’, Rita Almeida, nutricionista
Os rebentos de bambu são ricos ainda em compostos antioxidantes, “como flavonoides e polifenóis, que ajudam a combater o stresse oxidativo no organismo. Isso contribui para a proteção das células e diminuição do risco de doenças crónicas“, afirma a nossa entrevistada.
Por sua vez, o potássio presente nos rebentos de bambu “é benéfico para a saúde cardiovascular, podendo desempenhar um papel relevante na regulação da tensão arterial e da função cardíaca”, explica Rita Almeida.
Este alimento é ainda um aliado nas dietas de emagrecimento. “Devido ao baixo teor calórico e ao alto teor de fibras, os rebentos de bambu podem ser aliados na perda de peso, pois proporcionam maior saciedade”, confirma a nutricionista.
Crus, não!
Há um aspeto muito importante quando se fala do uso de rebentos de bambu na cozinha: não devem ser ingeridos crus por dois motivos em particular.
“Alguns tipos de bambu podem conter compostos naturais chamados cianoglicosídeos, que podem converter-se em substâncias tóxicas quando ingeridos. Através do processo de cozedura adequado, como fervura ou a vapor, é possível reduzir significativamente os seus níveis para valores seguros para consumo”.
“Depois, devido ao seu teor elevado de fibras, apresentam alguns compostos antinutrientes na sua forma crua. Os antinutrientes, tal como o nome indica, são substâncias que impedem a absorção de alguns nutrientes pelo nosso organismo. Estas substâncias são facilmente “quebradas” com a cozedura (em particular em água a ferver)”, esclarece Rita Almeida.
Como cozinhar
Os rebentos de bambu podem ser comprados frescos, secos ou em conserva.
Rita Almeida lembra que “os rebentos de bambu são bastante versáteis na culinária e podem ser adicionados a uma variedade de pratos, tais como sopas, saladas, refogados e até mesmo pratos grelhados”.
A gastronomia asiática usa-os, por exemplo, nos ramens, na sopa tom kha kai, no gulai (caril indonésio) e nos famosos spring rolls.
Para que não percam os seus benefícios nutricionais, “a fervura ou a cozedura a vapor são as opções mais recomendadas para a sua preparação”, refere a especialista.