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É por estas razões que devemos preferir produtos de agricultura biológica

É por estas razões que devemos preferir produtos de agricultura biológica

Ouve-se falar cada vez mais de alimentação biológica, o que pressupõe que os alimentos têm origem em agricultura biológica, orgânica, ecológica e natural. São várias as denominações, mas quais os benefícios reais deste tipo de alimentação?

Por Ago. 31. 2018

Além das suas vantagens em termos ambientais, que são indiscutíveis, podemos encontrar inúmeros benefícios para que comece a consumir alimentos biológicos. “Os produtos agrícolas e os géneros alimentícios obtidos através deste modo de produção têm geralmente excelentes características organoléticas e nutritivas”, refere o Guia dos Produtos de Qualidade, editado pelo Ministério da Agricultura.

Os alimentos biológicos não têm resíduos de adubos nem pesticidas, os principais focos de perigo quando procuramos alimentos frescos e inteiros (com casca). Porém, destacam-se também por terem melhor perfil de micronutrientes (vitaminas e minerais) e melhores qualidades organoléticas (paladar e olfato), uma vez que são colhidos no seu ponto ótimo de consumo, ou seja, na época certa.

A agricultura biológica pode ser cara

A procura de alimentos biológicos tem vindo a aumentar consideravelmente. Por isso, numa tentativa de se adaptarem a esta realidade e procurarem responder às novas necessidades impostas pelos consumidores, a maioria dos supermercados tem já disponíveis alguns produtos de origem biológica.

Apesar de a procura e, consequentemente, a oferta se centrarem sobretudo em produtos hortícolas, a verdade é que todos os alimentos podem ser produzidos de modo biológico. Além disso, consumir alimentos biológicos aumenta o grau de satisfação na alimentação que vai sendo transmitida, gerando um passa-palavra que leva ao aumento do consumo.

É um facto que os alimentos de agricultura biológica têm um custo mais elevado do que os convencionais – custam, em média, o dobro –, mas há uma explicação para isso. O preço reflete o verdadeiro custo de produção, porque inclui a limpeza da água, os custos de produção, colheita, transporte e armazenamento. Por outro lado, a gestão e o trabalho que o modo de produção biológico exige é quase sempre mais dispendioso do que a aplicação de produtos fitofarmacêuticos.

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As rotações de culturas que são feitas para manter a fertilidade dos solos, os custos para garantir o bem-estar animal e a restrição do uso de químicos também implicam custos elevados. Outro dos custos que faz com que os produtos biológicos cheguem ao consumidor a um preço alto está relacionado com o processo de distribuição, devido à baixa quantidade de produtos transacionados.

Mas a procura está a crescer e, se esta tendência se verificar, os preços dos produtos tenderão potencialmente a descer sem afetar em grande medida o rendimento do produtor. Podemos manter uma alimentação biológica ‘seletiva’, isto é, é possível continuar a consumir alimentos convencionais e incluir alguns de produção biológica, dando primazia aos hortícolas, sobre os quais já foram feitos vários estudos.

Sabia que…

Ao consumir alimentos biológicos com selo da U.E. terá sempre a garantia de que não houve manipulação genética em nenhuma fase na produção dos alimentos biológicos. As substâncias químicas presentes nos alimentos convencionais vão-se acumulando a longo prazo no sangue e urina. E estes químicos danificam os sistemas hormonal, nervoso e imunológico, aumentando a possibilidade de desenvolver determinados tipos de cancro, problemas de infertilidade e doenças autoimunes, como a asma ou a fadiga crónica.

A porção ideal

Deve ingerir diariamente três a cinco porções de hortícolas por dia. Uma boa regra de bolso seria ingerir uma sopa de hortaliças, uma salada colorida (alface, tomate, cenoura, pimento, etc.) e uma chávena almoçadeira de verduras cozinhadas num estufado, no forno ou cozidas.

Este cuidado implica que ingira hortaliças ao almoço e ao jantar, essencial para satisfazer as necessidades de vitaminas e minerais; mesmo assim pode não garantir uma ingestão suficiente, motivo pelo qual já encontramos algumas recomendações que sugerem aumentarmos a dose para sete porções de hortícolas e três de fruta, precisamente para assegurar uma ingestão suficiente de vitaminas A e C, de cálcio, magnésio e potássio, mas também de fitonutrientes com elevada importância na saúde.

Porque é que deve preferir a agricultura biológica?

A nutricionista Filipa Vicente dá-nos um panorama geral do mundo da alimentação biológica

Alimentos biológicos mais consumidos

Os dados que existem sobre o mercado português indicam que a carne e os hortofrutícolas no geral são os produtos em que a menção biológica é mais procurada.

Razões para preferir biológico

Os alimentos provenientes de uma produção biológica são especialmente interessantes pela ausência de substâncias com efeito potencialmente tóxico, pela sua acumulação e utilização em doses elevadas na produção convencional, ou seja, pesticidas e adubos no caso da agricultura, mas também de hormonas e antibióticos no caso da produção animal.

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Por outro lado, a agricultura biológica é mais amiga do ambiente e favorece um ecossistema sustentável. No caso das frutas e hortaliças, pode existir uma vantagem adicional no seu teor nutritivo uma vez que a forma de produção promove uma rotação de culturas adequada para pousio do solo e a preferência por alimentos no seu ponto ótimo de consumo, ou seja, quando o teor de micro e fitonutrientes é mais elevado.

Como podemos saber se o alimento é biológico

É importante ter em conta que a designação bio nem sempre é de um alimento biológico. A agricultura e produção animal biológicas estão regulamentadas pelo Reg (CE) 834/2007 e exibem um selo específico aprovado pela UE.

O estabelecimento que os vende tem de ter uma licença própria para o efeito e toda a documentação dos produtos vendidos, por isso não basta dizer que é biológico, tem de comprovar estes parâmetros. Infelizmente, acredita-se que não é possível fazer uma fiscalização adequada pelo que cabe ao consumidor procurar junto das autoridades os produtores autorizados na sua área de residência. É importante também ver a origem, não se pode defender uma agricultura biológica sem a salvaguarda de que os solos estão suficientemente afastados de zonas possivelmente contaminadas.

Benefícios reais de consumir produtos biológicos

Há um benefício claro em consciencializar o consumidor para a preferência por alimentos produzidos de acordo com boas práticas agrícolas e de bem-estar animal. Por vezes, não é necessário ser biológico com certificado, mas basta procurar melhor e preferir hortofrutícolas e mesmo carne de explorações em que seja dada preferência a uma produção não extensiva e na época certa.

No caso da carne e dos ovos, já é possível preferir carne de animais alimentados preferencialmente a pasto e ovos de galinhas criadas ao ar livre. São boas apostas na qualidade e no valor nutritivo. Resumindo, temos de ir alterando os nossos hábitos de colocar a carne ou peixe em maior quantidade no prato, substituindo os alimentos de origem animal por vegetal.

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Existe um consenso generalizado e bem fundamentado de que as dietas que privilegiam os produtos de origem vegetal aumentam a longevidade e a qualidade de vida, mas a verdade é que a maioria das pessoas continua a seguir uma dieta baseada em carne. Deveríamos fazer dos vegetais a refeição principal e os produtos de origem animal o acompanhamento.

As principais vantagens de consumir bio

Os alimentos biológicos apresentam em média 63% mais cálcio, 73% mais ferro, 118% mais magnésio, 178% mais molibdénio, 91% mais fósforo, 125% mais potássio e 60% mais zinco.

Ricos em fitonutrientes com ação antiinflamatória e antioxidante, fundamentais na prevenção do cancro, estimulam o sistema imunológico e retardam o envelhecimento. Muitos deles são fabricados pelas plantas em resposta ao stresse ambiental e a sua produção é prejudicada com a utilização de pesticidas e herbicidas.

Ovos biológicos analisados continham em média quatro vezes mais vitamina A e estavam isentos de resíduos de substâncias químicas.

Contêm seis vezes mais ácido salicílico, substância responsável pela ação anti-inflamatória da aspirina e que combate o endurecimento das artérias e o cancro do intestino.


Costuma investir em alimentos provenientes de agricultura biológica? Saiba ainda como desinfetar frutas e legumes.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 218, agosto de 2018
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