A profissão do nutricionista tem vindo a ganhar cada vez mais importância. O crescente aumento de doenças provocadas por maus hábitos alimentares e as alterações do padrão alimentar têm levado cada vez mais pessoas a procurarem um nutricionista. O problema é que muitas não sabem como fazê-lo, nem se o profissional que têm em mente é de confiança.
Será que o nutricionista deve ser escolhido de acordo com o objetivo do interessado (perda ou aumento de peso, aumento de massa muscular ou por alguma doença específica)? E uma pessoa saudável deve procurar um profissional da nutrição? É possível e em alguns casos até recomendável.
Mas o mais importante a reter é que o nutricionista selecionado tem de estar inscrito na Ordem dos Nutricionistas.
O primeiro passo na escolha de um nutricionista
“A partir do momento que a pessoa já tem ideia do nutricionista que pretende, o mais importante é verificar se este está registado na Ordem dos Nutricionistas”, alerta a Bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento.
“Os nutricionistas têm o registo profissional obrigatório por lei na ordem”, explica. “Se não tiver, não é nutricionista e não pode exercer. Caso o faça, é crime, sendo punido por lei”. Para proceder à confirmação da idoneidade do nutricionista, o interessado só tem de ir ao site da Ordem e procurar pelo nome do profissional.
Se ainda não souber a que nutricionista específico recorrer, o ideal é consultar o currículo de vários profissionais e verificar qual o que se adequa ao seu objetivo.
“Há uns mais especializados no emagrecimento e outros na área desportiva. Se tiver algum familiar ou colega que esteja já a ser seguido e tenha o seu objetivo, pode recorrer ao mesmo profissional, na medida em que já terá uma referência”, informa Sónia Marcelo, autora do blogue Dicas de uma Dietista e do livro Guerra ao Açúcar (Chá das Cinco, 2017).
Para lá das clínicas
É também essencial tomar consciência que não são as clínicas o mais importante a procurar, mas sim um profissional específico.
“Hoje, existem nutricionistas com grande nome e resultados junto do público”, continua Sónia. Mas por vezes a fama do nutricionista não significa que este seja melhor ou pior que um colega menos conhecido.
As pessoas devem procurar as referências do nutricionista por quem gostariam de ser acompanhados, tentando perceber onde tirou a licenciatura, quantos anos tem de prática clínica, feedback de outros pacientes e se se identificam com o tipo de trabalho que o mesmo desenvolve.
Esta opinião é partilhada por Cláudia Viegas, dietista da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e co-autora do livro Prazer sem Pecado (Esfera dos Livros, 2017), que coloca o profissional à frente da clínica onde trabalha. “É que a Ordem intervém sobre os profissionais, não sobre a clínica”, explica.
Só isso prova a importância da instituição e dos mecanismos que esta tem para certificar a idoneidade de cada profissional. “A Ordem tem feito um trabalho muito importante na prevenção de casos ilegais”, conclui.
Que razões nos levam à procura de um nutricionista?
“No que diz respeito ao setor privado, as razões principais que levam as pessoas a procurarem um profissional da nutrição prende-se com o aumento de peso ou obesidade”, informam as entrevistadas.
Mas também há aqueles que pretendem aumentar a massa muscular, emagrecer ou simplesmente aprender a comer bem, mesmo que não tenham nenhuma necessidade específica.
Essas pessoas (ditas) saudáveis, devem procurar, sim, um profissional de nutrição. Mas tal como Cláudia Viegas diz, “não tem de o fazer ad aeternum”. O importante é ser saudável e ter o estilo de vida adequado. Para o efeito, não devemos (nunca) recorrer apenas às redes sociais, nem à opinião de leigos.
Sónia Marcelo completa o raciocínio, afirmando que as pessoas saudáveis, mesmo que só vão esporadicamente a um nutricionista, beneficiarão de dicas nutricionais, perfeitamente adaptadas às mudanças na sua vida (rotinas, emprego, filhos, entre outras).
Mas também há grupos em risco que devem consultar um nutricionista. Na opinião desta dietista, “se uma pessoa foi mãe há cerca de 12 meses e ainda não conseguiu voltar ao seu peso anterior à gravidez, deve procurar ajuda de um profissional. Se alguém é diabético e os valores da glicemia começam a ficar alterados, deve também procurar um nutricionista. Se vai iniciar a prática de um desporto de forma regular, deve também ajustar a alimentação aos horários do treino e objetivos que tenha ao praticar determinada modalidade”.
A lista não fica por aqui. Ainda há os hipertensos e pessoas com problemas do comportamento alimentar – como a bulimia, anorexia e alcoolismo – ou aqueles que tenham alterado o seu padrão alimentar – como os vegetarianos, lembra a Bastonária da Ordem dos Nutricionistas.
Neste último caso, “os indivíduos vão ao nutricionista, porque pretendem ter um acompanhamento saudável, para não ficarem com carências nutricionais”.
Alexandra Bento chama ainda a atenção para as alergias alimentares que têm levado muita gente a procurar profissionais da nutrição, e, nos grupos alvo, as grávidas.
“De forma determinante, as grávidas com diabetes gestacional. Depois, há cada vez mais o hábito de as mães levarem as crianças a nutricionistas.” Esta consciencialização dos pais é muito positiva, pois quanto mais cedo os miúdos tiverem noção da importância de comer bem, mais facilmente conseguirão manter um estilo de vida saudável, sem sacrifícios.
A bastonária aproveita ainda para lembrar que dentro da nutrição clínica, há nutricionistas em Hospitais públicos ou privados, em centros de saúde e misericórdias, e em todos esses sítios, é possível realizar uma consulta de nutrição.
“No setor público, as questões são tratadas de outra maneira. Desde logo há a obrigatoriedade de se fazer um rastreio ao estado nutricional da pessoa para ver se o indivíduo deve ou não ter suporte profissional”, explica.
E há determinadas patologias em que é mandatório o acompanhamento de um nutricionista. Acontece, por exemplo, no caso das anemias ou diabetes. Nessas situações, a pessoa tem de ser vista por uma equipa multidisciplinar.
Atuar na prevenção mais do que em dietas
Toda esta questão remete-nos para a prevenção, tão defendida pela autora do livro Prazer sem Pecado. Ou seja, Cláudia Viegas considera que o mais importante é evitar o “problema”, mudando alguns paradigmas.
“No caso específico da obesidade, é de lembrar que esta afeta uma fatia considerável da população, e que as pessoas não devem preocupar-se apenas quando o problema surge. Deve haver prevenção. Os indivíduos devem preocupar-se antes dos problemas surgirem”, alerta Cláudia Viegas.
É por isso que devem informar-se e pedir ajuda de profissionais. Mas não é com dietas que se resolve o problema. A nutricionista é, aliás, contra as dietas.
O importante é mudar estilos de vida. Não de forma radical, mas progressiva. Assim os resultados serão muito mais eficientes.
Ou seja, o ideal é o obeso estipular dois a três anos para emagrecer e, durante esse período, ir mudando alguns maus hábitos, aos poucos. Se quiser mudar de silhueta drasticamente, em por exemplo, seis meses – altura de ir a banhos – a coisa não vai funcionar… pelo menos para sempre.
“Se a perda for rápida, perde-se muita massa muscular e isso não interessa. Pode acontecer o peso voltar e, às vezes, o que perdemos em massa muscular, recuperamos em gordura”. O pior é que há pessoas que estão sempre numa espécie de círculo vicioso: emagrecem, recuperam peso e depois voltam a emagrecer. Esse efeito sanfona é péssimo para a saúde, nomeadamente para o metabolismo.
Por isso, se a pessoa tinha o hábito de comer bolos todos os dias, deve passar a comer dia sim, dia não, até perceber que não precisa deles. Não vale a pena eliminá-lo de uma vez, porque, mais tarde ou mais cedo, o hábito enraizado de “comer bolos diariamente” volta.
Em suma, devemo-nos reeducar, com tempo e sem pressas, para depois permitirmo-nos pequenos prazeres, mas não sempre.
Como garantir o sucesso de um plano alimentar?
O principal fator de sucesso de um plano alimentar é o rigor com que o protagonista o cumpre. “A sua motivação e uma excelente relação com o nutricionista – que deve ser empática e acompanhar de perto o paciente – são outros fatores chave”, enfatiza Sónia Marcelo.
De forma geral, o plano alimentar deve adaptar-se ao objetivo. Tome nota das dicas de Sónia Marcelo.
1. Para perder peso: apostar em alimentos ricos em fibras para que se sinta mais saciado;
2. Para ganhar peso: incluir alimentos com elevada densidade calórica, mas ricos em nutrientes (ou seja, alimentos de qualidade). Por exemplo: abacate, frutos secos, cereais (arroz, quinoa, bulgur);
3. Para aumentar a massa muscular: ingerir alimentos ricos em proteína – ovos, carne magra e pescado, hidratos de carbono de qualidade – batata-doce, arroz basmati. Se comer hidratos de carbono de qualidade e treinar adequadamente, não irá aumentar massa gorda de forma considerável;
4. Para seguir uma alimentação saudável: deve comer de acordo com a nova pirâmide alimentar e a roda dos alimentos – indicam as porções diárias a consumir de cada grupo alimentar; deve comer de tudo com moderação e privilegiar sempre alimentos de boa qualidade nutricional que nos forneçam a energia e as vitaminas e minerais que precisa. Deve ingerir 1,5 a 2L de água.
5. Para quem faz desporto: é um pouco a junção de todas as dicas anteriores. Ou seja, comer de forma saudável, com alimentos de qualidade, e ajustar as refeições antes e após o treino para ter os nutrientes certos para essa altura do dia.
Para além de ficar com uma ideia do que deve consumir, consoante o seu objetivo, é importante que tenha em mente que, de forma geral, a alimentação (para qualquer um) deve ser 75% de base vegetal.
Apesar de Cláudia Viegas não defender o vegetarianismo, chama a atenção para este dado e preocupa-se com o facto de ainda não estar a ser seguido pela maioria da população.
A autora alerta ainda para os perigos dos alimentos processados. “A indústria ainda não nos consegue fornecer alimentos processados saudáveis. O ideal é comer tudo no seu estado mais natural. E não as refeições que estão prontas”.
“As pessoas andam muito preocupadas com a questão proteica, mas é errado só comer proteínas”, diz. A nutricionista explica que as pessoas acabam por consumi-las em mais do dobro do que precisam. Isso só vai sobrecarregar o organismo de forma hepática.
Por isso, aqueles que têm como objetivo aumentar a massa muscular devem perceber que é preciso proteína para alimentar os músculos, mas nunca mais do que o organismo precisa. Até porque “todos os nutrientes que comemos a mais, acabam por se transformar em gordura.”
É importante, sem dúvida, consumir proteína depois do treino, no máximo até duas horas horas após o mesmo. Um pacote de leite com chocolate, um iogurte e uma peça de fruta ou um sumo de fruta são suficientes, sugere Cláudia Viegas.
Futuras especialidades na área da nutrição
“Na profissão de nutricionista há especializações, mas sobretudo vai haver especialidades”, garante Alexandra Bento. Recentemente foram aprovadas as especialidades nos estatutos da Ordem dos Nutricionistas e já foi aprovado um processo que requer a aprovação do Ministério da Saúde e a consequente publicação em Diário da República.
Essas áreas novas são a nutrição clínica; nutrição comunitária e saúde pública; e a alimentação coletiva e restauração.
Em 2019, as especialidades estarão ativas. Os nutricionistas não são obrigados a seguir estas especialidades, mas podem ser uma mais-valia à sua formação de base.