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Como tornar a alimentação das crianças mais saudável?

Como tornar a alimentação das crianças mais saudável?

Esta é uma questão para a qual muitos pais não têm (ainda) resposta. Carla Laranjeira, pediatra do Hospital CUF Porto, desvenda o essencial a saber para que possa proporcionar às suas crianças uma alimentação mais cuidada e saudável.

Por Ago. 17. 2020

A ciência vem demonstrando, que os primeiros anos de vida constituem um período de excelência para a educação alimentar, pois as crianças são mais adaptáveis a novos comportamentos, comparativamente aos adultos.

Uma vida adulta saudável começa nos primeiros anos de vida. Efetivamente, os primeiros anos de vida são importantes na aquisição e sedimentação de hábitos alimentares saudáveis e vão determinar os comportamentos alimentares na idade adulta.

A alimentação durante a infância tem ainda um papel determinante na programação da nossa saúde futura e na prevenção de doenças crónicas do adulto, nomeadamente doenças cardiovasculares, diabetes e cancro.

Qual o papel da família na promoção de uma alimentação saudável?

Os pais, a família e os educadores em geral desempenham um papel fundamental na aquisição dos melhores hábitos alimentares, pois são modeladores das preferências das crianças.

Os comportamentos alimentares dos pais e das mães, nomeadamente as suas preferências, escolhas e práticas, influenciam o tipo e as quantidades de comida disponibilizadas às crianças, o que contribui para moldar as suas preferências e consumos.

As crianças aprendem pelo exemplo e o modelo parental é extremamente importante, sendo o momento da refeição (em família) muito valioso para educar e transmitir valores relativos à alimentação saudável.

A infância e a adolescência são fases de necessidades nutricionais acrescidas, e os efeitos de uma alimentação desequilibradas nestas idades, têm consequências para a saúde a médio e longo prazo
Carla Laranjeira, pediatra

10 dicas para uma alimentação saudável em idade pediátrica

1. Tomar o pequeno-almoço

Estudos demonstram que as crianças que não tomam o pequeno-almoço poderão apresentar menores níveis de atenção e concentração, podendo mesmo resultar num menor sucesso escolar.

Além disso, estas crianças tendem a ingerir mais alimentos com elevada densidade energética e nutricionalmente desequilibrados nas outras refeições do dia.

Esta refeição deverá ser variada e equilibrada, incluindo alimentos do grupo dos laticínios, do grupo dos cereais (idealmente pão) e do grupo dos frutos.

2. Escolha merendas saudáveis

As merendas devem ser refeições de menor volume e ajustados às necessidades da criança e aos intervalos entre refeições.

Devem incluir lácteos (leite/iogurte/queijo, num volume máximo de 400-500 ml/dia), hidratos de carbono complexos (pão de cereais variados), frutos ou hortícolas.

3. Reduza a adição de sal e açúcar

Numa investigação baseada em dados do projeto Geração XXI, aos quatro anos, mais de 90% das crianças ultrapassa já “os valores toleráveis de sal” para a sua idade, com a sopa e o pão a destacarem-se como os alimentos que mais contribuem para este consumo elevado.

E cerca de 65% das crianças consome bolos e doces pelo menos uma vez por dia.

Este consumo antecipa graves riscos para a saúde, nomeadamente excesso de peso/obesidade, diabetes, hipertensão arterial e elevação dos triglicerídeos.

4. Envolva a criança na escolha e na preparação das refeições

Este envolvimento aumenta a probabilidade de aceitarem os alimentos que prepararam e confecionaram.

5. Sopa para todos

Permite a ingestão de um conjunto vasto de hortícolas de forma simples, conseguindo-se assim um bom aporte de vitaminas e minerais.

Diversifique o tipo de sopa, experimentando diferentes sabores e cores e insista no seu consumo.

6. Refeições em família, sem TV ou outros dispositivos eletrónicos

Faça das refeições um momento divertido, descontraído e de convívio da família.

7. Atenção às porções

Lembrar que as crianças possuem um estômago pequeno e que sacia rapidamente. É importante oferecer porções pequenas, ingeridas sem pressa.

É importante não forçar a criança a comer ou a deixar o prato completamente sem comida. As crianças têm apetites diferentes entre si e em diferentes fases de crescimento que importa respeitar.

 8. Água

Esta é a bebida de eleição. Cerca de 17% das crianças ingere diariamente bebidas açucaradas (particularmente néctares e refrigerantes sem gás). Reserve estas bebidas açucaradas para ocasiões esporádicas.

9. Um prato cheio de cor

Procure diversificar o tipo e a cor dos alimentos, aproveitando assim os benefícios de todos os nutrientes, nunca esquecendo os alimentos sazonais e produzidos localmente.

Misturar cores e sabores significa que se está a colocar no prato alimentos com um perfil nutricional diferente. Seja criativa e apresente pratos atrativos.

10. Seja o exemplo

Os pais deverão ser o exemplo daquilo que querem que os filhos sejam. Seja um modelo e seja persistente!

É importante monitorizar periodicamente o crescimento e maturação de forma a intervir atempadamente e promover o adequado desenvolvimento físico e cognitivo
Carla Laranjeira, pediatra

Alimentos a privilegiar no verão

O verão é uma excelente época para promover a variedade alimentar, dando a conhecer às crianças novas frutas e legumes, aumentando a experiência a novos sabores. Contudo, respeite a sazonalidade dos alimentos.

Reforce a hidratação! Ofereça água várias vezes ao dia, mesmo que a criança não peça, pois a sua sensação de sede é inferior à do adulto.

Promova a ingestão de saladas coloridas na dieta e incentive o consumo de sopa diariamente.

Os gelados são uma constante durante o verão. Opte por gelados mais pequenos e os caseiros são sempre uma alternativa mais equilibrada.

Opte por alimentos bem cozinhados, sobretudo carne, peixe e ovos, devido ao risco aumentado de contaminação alimentar nesta altura do ano.

Atenção redobrada em idade pediátrica

O crescimento e a maturação característicos da infância e adolescência exigem uma atenção redobrada no que diz respeito à alimentação. Estas são fases de necessidades nutricionais acrescidas, e os efeitos de uma alimentação desequilibradas nestas idades têm consequências para a saúde a médio e longo prazo.

Assim, é importante monitorizar periodicamente o crescimento e maturação de forma a intervir atempadamente e promover o adequado desenvolvimento físico e cognitivo.

Atendendo a isto, as crianças deverão manter as rotinas de vigilância e prevenção, não adiando as consultas regulares ao médico.