Crónica. Pequenos hábitos que marcam o início de grandes mudanças
Acredita que manter e recuperar saúde é um bicho de sete cabeças? E se lhe disser que os nossos heróis estão nas coisas simples? Comece o ano com simplicidade.
Mantemos, desde sempre, esta relação íntima com o fim e o princípio das coisas. É sobre isso que nos falam os (princípios) orientais, que há mais de 2000 mil anos atrás acertavam os passos com esse pulsar que observavam da natureza: princípios e fins, movimentos e pausas, contrações e expansões.
É dessa polaridade que surge e ressurge, vezes sem conta, a vida tal como a conhecemos, tal como o dia dá lugar à noite, o inverno ao verão, um momento de fúria a um ataque de choro.
Na respiração, essa ordem repete-se, e a seguir a uma inspiração, há sempre uma expiração, é um movimento contínuo de opostos que se complementam. Mas agora, repare: por vezes, há uma breve, curtíssima e quase despercebida pausa entre o fim de uma expiração e princípio da inspiração seguinte.
Essa pausa tem a qualidade daquele suspiro, que se segue a um verão bem passado mas com fim à vista: é o que os chineses chamam, literalmente, de o “fim do verão”, que marca o fim de uma estação e o início da que se segue, o outono. Esse “entre coisas”, é fundamental para os orientais e está sempre no início de uma nova transformação.
Façamos então, deste crepúsculo do ano novo, ocasião para marcar o ritmo e redefinir as prioridades no plano de ação que se segue. A natureza faz o mesmo. Repare, estamos em pleno inverno, veja as árvores, voltaram-se para dentro, tomam forças e preparam o impulso da primavera.
As recomendações que se seguem são simples, fáceis de digerir, de pôr em prática e capazes de produzir efeitos extraordinários na maneira como se começará a sentir. Tem dúvidas? Ótimo, então experimente, ponha em prática durante 10 dias e tire as suas próprias conclusões; partilhe connosco, vamos gostar de saber.
Pequenos hábitos que marcam o início de grandes mudanças
Básicos
1. Respirar é o nosso primeiro alimento, o mais importante. O que acontece se não respirar?
Deixe a respiração superficial e entre pela caixa torácica adentro, respirando pela barriga. O corpo responde. Fomente uma boa qualidade sanguínea e fortaleça o seu sistema nervoso. Observe os bebés, eles sabem.
2. A saúde começa na boca. Recupere a arte de bem mastigar todos os alimentos. É na boca que a digestão começa e a saliva é um poderoso remédio natural que ajuda no processo digestivo e que acalma o sistema nervoso.
Quanto mais mastigar, menos fome sentirá, evitando excessos totalmente desnecessários. Cultive a regra de ouro dos 80%: ainda comia um pouco mais? Pare, espere 10 minutos e verá como se sentirá totalmente saciada.
3. Mexa o corpo, ponha tudo a circular, sangue, linfa e energia (ki). Escolha uma prática que tenha significado para si e que lhe dê prazer.
Se não conseguir, ande, caminhe, tanto quanto possível, 30 minutos por dia pelo menos, não se pasme se os seus níveis de energia começarem a subir de dia para dia e se começar a ficar viciada nessa prática tão simples e natural.
4. Cozinhe em casa, na sua cozinha, com o que sabe e com o que tem, dando sempre prioridade a alimentos frescos e verdadeiros.
Este pequeno gesto pode revolucionar a sua vida e é o primeiro passo para uma grande mudança (a que me dedicarei a contar-lhe mais ao longo deste ano).
Dorme, mas sente que não descansa?
5. Vá para a cama cedo, antes da meia-noite e idealmente antes das 23h, cultivando um sono reparador.
6. Antes de dormir, recupere a prática antiga de fazer um bom escalda-pés, que consiste em submergir os pés em água quente e com sal marinho.
Esta prática prepara o corpo para dormir, embala e ajuda a manter e a subir a temperatura, especialmente se tiver sempre os pés gelados. Há uma certa temperatura corporal que nos ajuda a cair em sono profundo.
7. Evite ir para a cama de barriga cheia; para isso, simplifique as refeições à noite, opte por algo mais simples e leve, e coma cerca de 2,5h a 3h antes de dormir. Ingira pequenas quantidades de líquidos à noite.
8. Momentos antes de adormecer, reveja o dia, o que aconteceu e aprendeu, e planeie o dia seguinte, o que quer fazer.
Cultive uma mente direcionada para o que quer concretizar. Um espírito tranquilo adormece profundamente em 5 minutos.
9. É inverno: vá para a cama mais cedo e levante-se um pouco mais tarde.
10. Evite longos banhos com água muito quente, poupe os seus minerais, o ideal é o oposto, banhos rápidos e mais frios.
11. Socialize e dê atenção aos outros. O contacto com os outros é uma fonte de inspiração e uma das formas mais antigas de cultivar a saúde e o bem-estar físico e mental.
12. Livre-se do excesso e ponha um ponto final a tudo o que já não lhe serve. Não se atrapalhe com acumulações.
Faça das suas próximas escolhas e compras um ato deliberado e informado, assente em valores humanitários e ecológicos, tanto quanto possível.
13. Cultive o espírito de uma mente aberta. Faça o que nunca fez, aprenda o que sempre quis. Aprender é por excelência a melhor coisa que podemos fazer por nós próprios.
14. Refaça a sua lista para 2020. É importante cultivar o sentido de direção, ponha o volante nas suas mãos.
Estas 14 recomendações que lhe deixo são simples, mas não as subestime.
“Uma viagem de 1000 léguas começa com o primeiro passo”, palavras sábias de Lao Tsé. Por essa razão, simplifique e comece com o que pode fazer já, porque a maior parte das vezes, menos é mais, e o que mais importa é a honestidade de mantermos a direção à velocidade do nosso ritmo interno.
Crie pausas entre os momentos de actividade para se reposicionar. A saúde é um exercício que se constrói dia a dia, com experiência.
Faça de 2020 um ano cheio de experiências.
Paula Azevedo é consultora, professora e chef de Macrobiótica. Para mais informações, contactar através do e-mail p.narciso.azevedo@gmail.com.