Aquilo que comemos influencia não só a nossa saúde como o ambiente do planeta, afinal 20% a 30% da emissão de carbono advém da agricultura. E foi a pensar nisso que surgiu a dieta climatarian pela mão de Mark Pershin, fundador da organização Less Meat Less Heat.
Apostar na comida produzida localmente para reduzir a energia gasta em transportes, usar os alimentos inteiros para evitar desperdícios e preferir a carne de aves e de porco à de vaca, para limitar a emissão de gases, são as três grandes premissas deste regime alimentar que faz bem a nós e ao Planeta.
Sustentabilidade alimentar e ambiental
Tudo começou em 2012, quando Mark Pershin, australiano – a Austrália é o maior consumidor de carne a nível mundial -, decidiu fazer uma pós-graduação em ambiente e descobriu o quão devastadora pode ser a agricultura para o ambiente e para as mudanças climáticas que se têm vindo a sentir.
Dentro deste setor, os holofotes estão virados sobretudo para a indústria pecuária, associada à criação de gado ruminantes (vaca, ovelha, cabra e veado), visto que usa 28 vezes mais terra, 11 vezes mais água e emite cinco vezes mais gases de efeito estufa do que a produção de porcos, aves, laticínios e ovos.
Posto isto, Pershin pôs as mãos à obra e ‘desenhou’ a nova dieta, que “se reflete numa alimentação baseada nos princípios da sustentabilidade do Planeta, pois a indústria alimentícia é responsável por 20% a 30% do dióxido de carbono (CO2) emitido para a atmosfera com consequências óbvias no aquecimento global. Por cada quilo de carne de animal ruminante são emitidos entre 60 a 70Kg de CO2, enquanto de animais não ruminantes, como porcos, galinha, peru ou peixe são emitidos entre 5 a 10Kg de CO2”, descreve a nutricionista Patrícia Costa.
“O seu princípio fundamental diz respeito à pegada de carbono e de uma alimentação mais consciente nessa questão, ou seja, cada um de nós deverá ter uma alimentação com uma pegada de carbono menor possível”, reforça a especialista.
Pequenas mudanças, grandes resultados
Para Patrícia Costa, ter “maior consciência do quanto a nossa alimentação tem consequências a nível ambiental”, faz com que fique ao nosso alcance fazer pequenas mudanças para um objetivo global que é o de um clima estável e também seguro para gerações futuras.
“Alimentarmo-nos com responsabilidade ambiental traduz-se em procurar consumir alimentos locais (para redução de energia despendida no transporte), hortofrutícolas da época (com o maior aproveitamento possível de cascas e talos para redução do desperdício alimentar), preferencialmente biológicos, ingerir mais aves e porco (menor emissão de gases) ao invés de carne de animais ruminantes (vaca, ovelha, cabra e veado) e lácteos, e comprar no comércio local”, ensina a nutricionista.
Sempre que possível, opte também “por refeições vegetarianas igualmente saudáveis e nutritivas”. De acordo com um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) de 2011, alerta Patrícia Costa, “cada pessoa consome uma média diária de 116 g de carne, sendo que a redução do consumo para 90 g (recomendação do The Healthy Eating Plate da Universidade de Harvard) seria o suficiente para reduzir a emissão de mais de 2 mil milhões de toneladas de CO2 nos próximos 15 anos”.
Regime saudável
Esta dieta, diz a nutricionista, “é promotora de saúde, pois privilegia na sua grande maioria (cerca de metade) a ingestão de hortofrutícolas, cereais integrais (cerca de 1/4) e de carne branca, peixe e queijo (o outro 1/4), e como fonte de gorduras o azeite extravirgem e oleaginosas”.
Do ponto de vista nutricional, “não é uma ‘revolução’, ou seja, uma alimentação saudável e equilibrada pode ser é provavelmente climatarian, ou ser pelo menos, uma boa aproximação a ela. Com uma diferença, quem segue uma dieta climatarian sabe que as suas escolhas alimentares não só trazem um maior bem-estar físico e mental enquanto indivíduo como também proporcionam um melhor bem-estar para todos no geral” acrescenta.
Assim, “quer viva no campo ou na cidade, a preocupação com o bem-estar da Natureza reflete-se nas escolhas alimentares do dia a dia e no poder que cada um de nós enquanto consumidor final tem para impulsionar mudanças”, conclui Patrícia Costa.
Regime universal
A dieta climatarian “pode ser seguida por qualquer pessoa” garante a nutricionista Patrícia Costa, com a vantagem de que pode ser “ajustada a cada indivíduo, pois o foco é a redução da ingestão de carnes de animais ruminantes não a sua restrição total”.
Isto diferencia este regime de outras ideologias alimentares como o vegetarianismo ou o veganismo. Neste caso, “não existe o compromisso do ‘tudo ou nada’ e uma das maiores diferenças que qualquer pessoa pode fazer para limitar as alterações climáticas do planeta é reduzir o consumo de carne vermelha”, realça a nutricionista.