Mais 365 dias volvidos e cá estamos de novo a mudar de ano. E é nesta altura que muitos fazem o balanço: o que viveram, o que fizeram e o que ficou por fazer. Mas estes tempos de pandemia foram um enorme desafio para todos, com muitas mudanças drásticas no dia a dia, principalmente com o trabalho e a escola à distância.
No que ao estilo de vida diz respeito, para uns, foi o melhor que lhes aconteceu, pois acabaram por poupar horas de transportes, comer refeições caseiras e passar o dia perto dos seus entes queridos. Mas, outros notaram um desequilíbrio entre o tempo de trabalho e de descanso, com dificuldade em desligar, nomeadamente para parar para comer. Houve ainda quem sentisse que a proximidade física da cozinha os levou a baralhar as horas das refeições, tendo sempre um petisco à mão.
Se tem andado a pensar fazer mudanças para o próximo ano e uma delas for ‘limpar’ os excessos que acumulou, lembre-se que pode passar alguns dias a tentar fazer um reset metabólico, mas se não mudar os hábitos dos outros dias, irá voltar ao que era num instante.
A ideia de detox poderá ser perigosa, pois não sendo legalmente identificada nas alegações de saúde ou de tratamento, muitas vezes deixa a falsa verdade de que podemos fazer oscilações erráticas alimentares entre excessos e com uns detoxs a coisa ficará resolvida. Não, o impacto da alimentação é crónico, pelo que devemos cuidar sempre deste comportamento.
Desconstruindo um dos grandes mitos das dietas detox, de que permite deitar fora líquidos indesejados, evitando a sensação de inchaço: para isso não precisamos de fazer uma dieta detox, basta deixar o rim funcionar convenientemente!
Os alimentos que nos dão potássio (hortícolas, frutas, cereais integrais, frutos secos gordos, leguminosas, entre outros) são essenciais para o equilíbrio dos líquidos do organismo, pois as membranas das células têm bombas que só deitam fora o sódio se, ao mesmo tempo, entrar potássio. Esta bomba sódio-potássio é muito importante, por exemplo, no controlo da pressão arterial, ajudando a controlar o volume de sangue em circulação.
Assim, a riqueza em potássio das formulações detox vai ao encontro das recomendações nutricionais da Direção Geral de Saúde, descritas pela Roda dos Alimentos. O que se pretende é que metade dos alimentos consumidos num dia sejam frutas e hortícolas, e cerca de 1/3 cereais integrais e tubérculos, como a batata, além da presença diária de leguminosas (feijão, grão, favas, ervilhas…).
Outra regra habitual nas dietas detox é a preferência por alimentos líquidos, ricos em água, por serem de fácil digestão. No entanto, a verdade é que quanto mais água tem uma refeição, menos energia e macronutrientes (proteínas, hidratos de carbono e lípidos) fornece, obrigando a usar as reservas de energia do fígado.
Estas reservas existem na forma de glicogénio, que é equivalente ao amido nos animais, e que exige a presença de água nesses tecidos: à medida que se gasta, deixa de ser necessária a presença da água, que pode ser expelida pelos rins, tornando o indivíduo mais leve, dando até a ilusão que emagreceu.
Além disso, uma dieta de muito baixo valor calórico, líquida, exige que o organismo procure usar fontes de energia alternativas, levando à perda de massa magra e a um emagrecimento ilusório – mais uma falsa vantagem.
Alerto ainda que as formulações detox são, muitas vezes, de alto índice glicémico, ou seja, com muita fruta, o que causa um impacto metabólico negativo. Desejamos sempre refeições de baixo índice glicémico!
Um efeito desta prática é ter um baixo resíduo intestinal, reduzindo o volume de fezes em trânsito, além de conter alimentos pouco fermentáveis, o que diminui a produção normal de gás. Consequência? Um menor volume abdominal, com uma barriga mais lisa, menos distendida. Mas assim que retomar a alimentação normal, o intestino irá retomar o seu funcionamento.
O que é desejável: uma flora intestinal abundante e variada tem uma enorme importância para a nossa saúde, e a dieta detox pode não fornecer substrato suficiente para que os microorganismos se desenvolvam na quantidade necessária.
Concluindo, melhor do que tentar limpar o corpo durante alguns dias, será evitar ‘poluí-lo’ no resto da vida. Faça boas escolhas alimentares e verá que não sentirá necessidade de desintoxicar.
Para começar a mudar os seus hábitos, escolha uma alteração que consiga fazer e manter. Os estudos mostram, claramente, que o sucesso das decisões de mudança do estilo de vida está na capacidade de as cumprir, na adesão ao processo: a solução está dentro de cada pessoa.
Experimente nesta época de reflexão fazer uma lista de meia dúzia de pequenas mudanças que se vê capaz de pôr em prática. Veja se são possíveis no seu ambiente (vai mudar de hábitos, não de casa, de família, de trabalho, de passatempos…) e calendarize-as, colocando na agenda em que data vai começar cada uma.
De forma flexível, uns dias melhor que outros, verá que devagar conseguirá caminhar para uma vida mais saudável, não precisando de dietas muito restritivas. E se precisar de orientação, esclarecimentos e apoio, não hesite em procurar ajuda junto de um nutricionista.