© Unsplash
A dieta GAPS desintoxica o organismo para o bom funcionamento do cérebro

A dieta GAPS desintoxica o organismo para o bom funcionamento do cérebro

O restabelecimento da flora intestinal através da nutrição e de um estilo de vida saudável pode ser a solução para doenças autoimunes, autismo e problemas de aprendizagem, entre outras. Conheça mais sobre a dieta GAPS.

Por Dez. 1. 2020

Há alguns anos, os intestinos ganharam uma importância que nunca tinham tido até então. Foram até apelidados de segundo cérebro e a ligação entre estes dois órgãos está mais do que provada.

Mas, já em 2004, Natasha Campbell Mcbride, médica e especialista em Neurologia e Nutrição Humana, acreditava na ligação entre os problemas de aprendizagem, o que se comia e bebia e o sistema digestivo.

O ponto de partida para a sua investigação foi o diagnóstico de autismo do filho e a falta de respostas da medicina para a doença.

Natasha Campbell Mcbride reuniu uma equipa de médicos, cientistas e nutricionistas e, em conjunto, identificaram a GAPS (Gut and Psychology Syndrome – Síndrome do Intestino e da Psicologia, em português), “um conjunto de sintomas físicos e psicológicos que têm a sua origem no intestino e que são causados por comida mal digerida e toxinas presentes no organismo”, explica Carolina Norton de Matos, psicóloga e terapeuta GAPS.

Flora intestinal

Autismo, diabetes tipo 1, esclerose múltipla, anemia, infeções urinárias, otites e infeções respiratórias, fadiga crónica, artrite, eczema, psoríase, problemas de aprendizagem, alergias, anorexia, problemas digestivos são algumas das doenças que podem ser geradas pela ligação entre o intestino, o microbioma e o cérebro.

A resposta para estes problemas está no restabelecimento da flora intestinal através da alimentação e de um estilo de vida saudável.

A dieta GAPS tem como objetivo desintoxicar o organismo, excluindo as toxinas que impedem o correto desenvolvimento e funcionamento do cérebro.

E para quem é esta dieta? “Se pensarmos que a nossa flora intestinal e o seu estado são a resposta para a maioria das doenças existentes atualmente, poderemos dizer que é benéfica nos casos que apresentem qualquer tipo de sintomas”, diz a psicóloga e terapeuta GAPS.

A dieta GAPS é personalizada

Geralmente, a dieta GAPS é feita em três fases diferentes: eliminação, manutenção e reintrodução e é adaptada a cada pessoa, de acordo com a sua idade e condição de saúde.

Grávidas, bebés a partir do momento em que começam a ingerir sólidos, crianças, adultos e idosos – todos podem beneficiar deste regime. Uma das principais regras é ingerir alimentos frescos e evitar todos os que são processados.

Os grãos, os vegetais amiláceos (batata e batata-doce, por exemplo) e os hidratos refinados são alimentos proibidos neste regime, bem como o leite, no entanto, os lacticínios fermentados, como iogurtes e kefir, e até queijo de cura prolongada podem ser ingeridos.

O café, por ser irritante para o trato digestivo e bebidas já prontas, que geralmente têm muitos açúcares, também devem ser evitados.

Ingerir alimentos fermentados em todas as refeições ajudará à digestão, tal como é importante comer vegetais (crus e cozinhados), porque fornecem as enzimas necessárias e substâncias desintoxicantes que ajudam a digerir, por exemplo, a carne.

Idealmente, a fruta deve ser ingerida entre refeições. No entanto, salienta Carolina Norton de Matos, só em consulta se consegue perceber que alimentos se devem comer e quais se devem evitar. “Depende do estado do aparelho digestivo da pessoa, pois certos alimentos podem ser muito bons para uma pessoa e causar irritação noutra”, explica Carolina Norton de Matos.

Os neurotransmissores que nos dão alegria e motivação (serotonina e dopamina) não estão a ser produzidos em quantidades suficientes, causando tristeza, apatia… E onde é que estes neurotransmissores são fabricados? No intestino – Carolina Norton de Matos, psicóloga e terapeuta GAPS

Cérebro e intestinos

É importante perceber a ligação entre o cérebro e os intestinos. “Tudo o que comemos e todas as toxinas que entram no nosso corpo (seja através de produtos de limpeza que respiramos, perfumes, champôs, cigarros, poluição, tintas, antibióticos, pílula contracetiva, entre outros) acabam por ir parar à nossa corrente sanguínea. O nosso sangue é distribuído por todo o corpo e, por isso, o que vai parar ao intestino acaba por ir para o cérebro. O nosso cérebro precisa de alimento para funcionar e desempenhar as suas funções e aquele vem do intestino”, esclarece a psicóloga e terapeuta GAPS.

No caso do autismo, no qual “as capacidades de comunicação, aprendizagem e comportamento social são afetadas, isto acontece porque o corpo está muito tóxico e não consegue reagir e eliminar essa grande quantidade de toxinas. É como se houvesse uma nuvem de toxinas a vir do intestino e que se instala no cérebro. Quando se trata o intestino, essa nuvem desaparece e a criança pode voltar a aprender, comunicar, etc.”, refere Carolina Norton de Matos.

A psicóloga dá ainda os exemplos da depressão e ansiedade. Nesses casos, “os neurotransmissores que nos dão alegria e motivação (serotonina e dopamina) não estão a ser produzidos em quantidades suficientes, causando tristeza, apatia… E onde é que estes neurotransmissores são fabricados? No intestino”.

No mínimo, dois anos

E será a dieta GAPS uma dieta para a vida? “Depende. Em algumas condições mais severas, é aconselhável que se mantenha ao longo de toda a vida. Noutras, o tempo ideal são dois anos. O objetivo é restabelecer a flora intestinal danificada com alimentos nutritivos que vão prevenir uma série de doenças no futuro”, realça a psicóloga e terapeuta GAPS.

Normalmente, as crianças recuperam de forma mais rápida do que os adultos. Sabe-se que uma alimentação desequilibrada está associada a várias doenças com alta prevalência, tais como problemas cardiovasculares e diabetes, “logo, se podemos cuidar da nossa saúde através da alimentação e viver uma vida saudável, penso que adotar esta dieta para a vida não custa”, afirma Carolina Norton de Matos.

No entanto, não é fundamentalista: “Na minha opinião, é importante haver um balanço saudável e claro que também é importante comermos de vez em quando alimentos menos saudáveis, em alturas de festa, por exemplo. Se na maioria do tempo seguirmos uma alimentação saudável, há espaço para esses momentos”, remata.

A versão original deste artigo foi publicada na revista Saber Viver nº 245, novembro de 2020.
Mais sobre dietas