Nos tempos que correm, temos à nossa disposição uma vasta lista de opções ao nosso dispor para comer. Basicamente, se queremos tomate mesmo estando no inverno, temos tomate! Se queremos ovos moles de Aveiro e estamos em Évora, conseguimos comprar os ditos.
E, cada vez mais à distância de um click, como por exemplo das aplicações de entrega de comida em casa, podemos ter o croissant que tanto nos apetece…
Mas será que estes impulsos que temos serão sinónimo de fome? O que é isto da fome real e fome emocional?
Fome real vs Fome emocional
A fome fisiológica (vulgo real) é a sensação que percecionamos quando existe um período mais ou menos prolongado sem nos alimentarmos. Seja os “barulhinhos” que ouvimos da barriga, seja a sensação de dor de estômago ou, até com maior intensidade, fraqueza, tonturas, dificuldade de concentração, irritabilidade, dor de cabeça,…
Costumo dizer para se ouvirem. Sim, porque o corpo dá-nos sinais. É uma fome que, de forma gradual, nos vai dando sensações que nos pedem alimento para suprir as necessidades energéticas do organismo.
Já a fome psicológica (vulgo fome emocional), é independente de termos comido à 5 minutos ou 5 horas. É uma necessidade de comer em função do estado emocional. Ou seja, comemos as nossas emoções e não porque estamos realmente com fome.
Seja por tristeza, frustração, raiva, medo, ansiedade… Seja porque motivo for, a nossa necessidade é imediata e geralmente por um alimento específico. Alimento esse que, normalmente, é rico em açúcares e gordura.
Digo em jeito de brincadeira que nunca vi ninguém pegar num brócolo numa situação dessas e comer.
Prazer momentâneo
De certa forma, é uma forma de sentirmos algum conforto, prazer, sensação de plenitude. Mesmo que seja momentâneo.
E porque refiro o momentâneo?
Porque, geralmente, na fome emocional, existe uma culpabilização e uma sensação de angústia que nos assombra, uma vez que o que comemos não foi pensado.
Foi de forma automática e quase que, genericamente, compulsiva, ao invés de quando ingerimos um alimento por termos fome. Nessas alturas, sentimo-nos mais felizes, porque a silenciamos com o que comemos.
Por isso, devemos sempre perguntar: Sinto fome ou vontade de comer? Dói-me o estômago ou a alma?
Há estudos que referem que até com emoções positivas, esta fome emocional, pode acontecer. E eu acredito, pois na nossa sociedade tudo gira em torno da mesa. Seja para combinarmos algo com um amigo ou familiar, seja por motivo de celebração.
A forma (negativa) como vemos a comida
Já sabendo diferenciar a fome real e a fome emocional, como podemos então evitar comer as nossas emoções?
Enquanto nutricionista, acredito ser fundamental mudarmos o nosso mindset em relação à comida. O problema não é comida, mas o que fazemos com ela.
Por outras palavras, acredito que devemos promover a mudança dos hábitos alimentares e de estilo de vida para ganhar mais saúde. Por isso mesmo, não acredito que quem pense em “fazer dieta” chegue a bom porto e que pode mesmo ter uma péssima relação com os alimentos.
E porquê?
Porque, se fizermos dietas demasiado restritas, em que cortamos vários grupos alimentares em prol do peso, claramente não aprendemos nada a não ser: se cortar no que como, emagreço.
E o que acontece depois? E quando chegar ao objetivo? Não deveríamos pensar em comer bem para nutrir o organismo, ter saúde e, consequentemente, se esse for o objetivo, então perder peso?
Como evitar comer as nossas emoções?
Refiro muitas vezes em consulta que isto não é um sprint, mas sim uma maratona com muitos quilómetros de aprendizagem.
Ainda assim, deixo aqui algumas estratégias que podem ajudar a controlar, de alguma forma, a fome emocional.
Oiça o seu corpo
Se tem fome, coma. Se não tem, para que vai comer? Só porque ouviu dizer que se deve comer de 3h em 3h, pode não se aplicar a si. Salvo se chegar ao momento da refeição em modo aspirador, claro.
Coma devagar e mastigue bem os alimentos
Quando come, pensa no que está a comer? Saboreia? Sente as texturas? Devemos focar-nos no momento sem distrações! Ao realizar a refeição de uma forma mais calma, o estômago consegue informar o cérebro de que está saciado, cessando a sensação de fome.
Evite ir às compras com fome
Quando o faz, acaba, geralmente, por fazer escolhas que não são ponderadas. São apenas um misto de fome com vontade de comer.
Tente reduzir o stress
Uma das formas de o conseguir é procurando atividades de que gosta. Seja exercício físico regular, sejam atividades mais holísticas como yoga, meditação ou até uma simples caminhada ao ar livre na companhia da sua playlist favorita.
Planeie as refeições
Organize-se em casa! Faça uma lista de compras e compre exatamente aquilo que precisa para a sua semana. Assim, é mais fácil resistir a tentações e sabe exatamente o que tem para comer.
Hidrate-se
Muitas das vezes a perceção da sede e da fome é semelhante e acabamos por comer em vez de beber água. Experimente sempre beber um copo de água. Se passar, não era fome de todo!
Tenha regras de sono
Dormir é fundamental para reparar e regenerar o organismo, mas também para a regulação da fome e da saciedade pela regulação hormonal.
Se sozinha já faz tudo isto e mesmo assim não está a conseguir, de forma racional, controlar o apetite que surge de forma voraz, sugiro que procure a ajuda na psicologia, que tem profissionais capazes de identificar o porquê dessa fome e dar-lhe estratégias para se conhecer melhor e perceber como a evitar.
Formada em Ciências da Nutrição, pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, Inês Soares possui ainda uma pós-graduação em Nutrição Pediátrica, pelo Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa. Neste momento, está a fazer formação em Microbiota, sendo que as áreas que mais estuda são a microbiota intestinal e o sistema gastrointestinal, no geral. Porém, costuma dizer que é uma apaixonada nata pela nutrição. Podem encontrá-la na clinica IaraRodrigues, onde é nutricionista e dá consultas, desde 2017.