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Intolerância alimentar: o que é, quais os sintomas e como gerir as mais comuns

Intolerância alimentar: o que é, quais os sintomas e como gerir as mais comuns

Não tolere uma intolerância alimentar. Saiba como se comporta e o que fazer quando certos tipos de alimentos entram em ‘conflito’ com o seu organismo.

Por Out. 21. 2019

A discussão sobre as intolerâncias alimentares não é nova. De certeza que conhece alguém que é intolerante à lactose ou que de repente deixou de poder comer pão ou fruta. Não há conversa sobre má-disposição e inchaço abdominal que não vá parar ao tema das intolerâncias e alergias alimentares.

O problema é que ainda existe uma certa confusão entres estes dois conceitos, que são efetivamente diferentes. E é por aqui que vamos começar.

Intolerância alimentar ou alergia?

“A intolerância alimentar pode definir-se como uma reação adversa a determinado alimento, sem existir um envolvimento do sistema imunológico. Normalmente, está associada a um distúrbio da digestão e do metabolismo de compostos presentes nos alimentos, sendo comum a dificuldade na digestão de certos componentes alimentares, que se reflete numa reação física desagradável frequentemente a nível gastrointestinal”, diz-nos Catarina Roquette Durão, nutricionista no hospital CUF Infante Santo.

Por outro lado, “a alergia alimentar é a resposta excessiva do sistema imunológico aos alergénios, partículas estranhas ao organismo, mas habitualmente inofensivas. A alergia alimentar mediada por anticorpos IgE é a mais comum e é uma reação imediata com início geralmente nos primeiros 30 minutos e até duas horas após a exposição ao alimento (ingestão, contacto, ou inalação de partículas do alimento)”, explica Célia Costa, imunoalergologista e coordenadora da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica.

Sintomas mais comuns

Claramente que as alergias alimentares têm consequências piores para a saúde do que as intolerâncias. Os sintomas da primeira podem manifestar-se através de simples manchas vermelhas na pele até à anafilaxia, que “é a reação alérgica mais grave, na qual ocorre a rápida evolução de sintomas envolvendo dois ou mais órgãos ou sistemas”, refere Célia Costa.

De uma forma geral, e de acordo com a nutricionista Lillian Barros, os sintomas associados à intolerância alimentar são:

Distensão abdominal
• Diarreia
• Náuseas
• Azia
• Refluxo
• Dor de estômago
• Vómitos
• Gases
• Dores de cabela (às vezes)

Os principais culpados deste mal-estar generalizado são, normalmente, o leite e os seus derivados, cereais que contenham glúten, banana, carnes processadas, vinho e aditivos alimentares.

A intolerância alimentar pode surgir a qualquer momento da nossa vida, mas também existe a possibilidade (rara) de se nascer com uma deficiência de determinada enzima e não se conseguir digerir corretamente determinado alimento.

Normalmente, a intolerância que se desenvolve ao longo da vida “resulta de quadros de desnutrição, uso de antibióticos a longo prazo, quimioterapia ou lesões no intestino ou colite ulcerativa”, sublinha Lillian Barros.

Saiba como gerir

Não existe um tratamento específico para a intolerância alimentar. Por isso, “uma vez existindo um diagnóstico clínico, o tratamento passa – na maior parte das vezes – por reduzir ou eliminar (dependendo da tolerância de cada doente) o componente alimentar ofensivo”, explica Catarina Roquette Durão.

Lillian Barros, também é da mesma opinião e afirma que “o ideal será sempre observar os sinais do organismo para cada alimento e procurar consumir o mínimo possível e sempre em poucas quantidades”.

Outra das soluções pode ser eliminar os alimentos que contêm o composto a que o doente é intolerante, passando, após um período, à sua reintrodução em pequenas quantidades para se saber qual será a dose tolerante.

No entanto, este diagnóstico, deverá ser feito com ajuda de um nutricionista, “de modo a não fazer uma dieta restritiva que possa ter riscos nutricionais”, remata Catarina Roquette Durão. Além disso, na gestão da intolerância, é muito importante que esteja atenta aos rótulos dos alimentos.

Intolerâncias alimentares mais comuns

Apesar de os sintomas serem semelhantes, as intolerâncias alimentares não são todas iguais. Saiba quais são os sintomas e como gerir as mais comuns.

Glúten

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Presente no trigo, centeio, cevada ou malte, o glúten é um conjunto de proteínas insolúveis às quais muitas pessoas são intolerantes. Isto não significa sofrerem de doença celíaca, que é uma doença autoimune do intestino, causada por uma sensibilidade permanente ao glúten .

Sintomas: Dores de estômago, azia, distensão abdominal, gases, fadiga e dor de cabeça.

O que fazer: Deve evitar as preparações e alimentos que contenham trigo, centeio, cevada e malte. “Outra opção também será consumir produtos sem glúten e, nas preparações, substituir a farinha de trigo por outros tipos de farinhas com de arroz ou linhaça”, diz-nos Lilian Barros.

Aditivos

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São compostos adicionados a alguns alimentos e bebidas para aumentar a sua durabilidade, como é o caso dos sulfitos. Os alimentos mais comuns que podem conter este tipo de aditivos “são cerveja, vinho, refrigerantes, frutos secos, biscoitos, conservas, enchidos e molhos”, explica Lillian Barros.

Sintomas: Dores abdominais, náuseas e diarreia são os sintomas principais associados a esta intolerância.

O que fazer: Quando existe um quadro de intolerância, deve evitar-se qualquer tipo de alimento que contenha esta aditivo.

Trigo

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Esta intolerância pode ser confundida com a intolerância ao glúten, uma vez que o trigo contém glúten. No entanto, são intolerâncias diferentes. “Algumas pessoas, têm dificuldade na digestão de alimentos à base de trigo”, alerta a imunoalergologista.

Sintomas: “Podem manifestar-se sintomas Gastrointestinais (vómitos, distensão abdominal, dor gástrica e diarreia) após comer, por exemplo, pão”, diz-nos Catarina Roquette Durão.

O que fazer: Nesta situação, opte por comer pão que não contenha trigo, como é o caso do que é feito apenas de centeio, por exemplo. O melhor é ler sempre o rótulo ou perguntar ao padeiro se não contém trigo.

Lactose

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A intolerância à lactose é uma das mais frequentes. “Vários são os alimentos que têm lactose, sobretudo os lacticínios, a não ser que lhe tenham retirado esta enzima, que é o açúcar naturalmente existente no leite”, explica a imunoalergologista Célia Costa. A lactose pode estar não só em alimentos, mas também em medicamentos.

Sintomas: “São normalmente diarreia, distensão abdominal, gases e algumas vezes dores de estômago”, diz-nos a nutricionista Lillian Barros. Mas nem toda a gente tem a mesma sintomatologia e com a mesma intensidade. A reação do organismo vai depender “do limiar de cada doente e da gravidade da deficiência da enzima lactose”, afirma Célia Costa.

O que fazer: Deverá optar por produtos sem lactose ou substituí-los por outras opções, como, por exemplo, iogurtes de coco ou bebidas de soja, aveia, arroz ou amêndoas. Outra opção, que deve ser orientada por um profissional, “é a ingestão da enzima lactose antes de consumir os produtos com lactose”, ensina Lillian Barros.

Frutose

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A intolerância à frutose ocorre devido “à dificuldade de o organismo digerir e absorver alimentos que contenham este açúcar na sua composição, como é o exemplo das frutas, alguns legumes, mel e produtos processados que contenham estes ingredientes ou adição de frutose”, explica Lillian Barros.

Sintomas: Os principais sintomas são vómitos, diarreia, enjoo, náuseas, suor e inchaço abdominal.

O que fazer: Caso seja intolerante à lactose, deverá evitar comer frutas, geleias, doces de frutas, mel, melaço, xarope de ácer, farinha de soja, muesli e cereais feitos com açúcar ou mel, batata-doce, beterraba, pepino, couve, tomate, cenoura, beringela, repolho, espargos e pimentão.

Tenha ainda especial atenção aos produtos industrializados que contenham frutose, como por exemplo, refrigerantes, ketchup, bolos, sumos em pó ou em pacote.

Em alternativa à frutose, “consuma de forma variada as verduras que não contêm este açúcar, como brócolos, alface, espinafres e cogumelos”, diz-nos Lillian Barros.

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