Quando falamos de macrobiótica, a primeira coisa que nos vem à cabeça é a alimentação, mas na verdade é muito mais do que isso. Mais do que dizer que é um regime alimentar, deve falar-se de uma filosofia de vida, se bem que os alimentos ingeridos têm nela uma grande importância.
O objetivo deste modo de vida é encontrar o equilíbrio entre o que é benéfico para o corpo, mente e planeta. E se formos à etimologia da palavra (do grego macro + bio), esta significa ‘grande vida’, que podemos traduzir como viver de uma forma grandiosa.
E quem não quer ter uma vida magnífica? Foi para perceber como tudo se processa que estivemos à conversa com Paula Azevedo, professora de macrobiótica e que há alguns anos trocou a engenharia para fazer do estilo de vida que adotou também a sua profissão.
Como é a alimentação macrobiótica
A alimentação macrobiótica dá primazia aos cereais integrais, vegetais (incluindo algas) e leguminosas – alimentos que foram a base alimentar da Humanidade durante muito tempo, com exceção dos polos e trópicos.
“Num só prato devem constar os cinco sabores: doce, amargo, salgado, picante e ácido”, realça Paula Azevedo.
Apesar de não haver alimentos proibidos, “a macrobiótica evita o uso de carne, ovos, produtos lácteos, gorduras de origem animal, açúcar, alimentos refinados e com químicos, mas tudo depende da condição de cada pessoa, do local onde vive, da estação do ano, da sua atividade profissional… Quem trabalha num escritório não tem as mesmas necessidades de quem trabalha, por exemplo na agricultura”, explica a professora de macrobiótica.
O equilíbrio é um conceito muito importante para este estilo de vida. “Antes de começar a andar, uma criança procura o equilíbrio, quando o encontra, avança. Passa-se o mesmo connosco e a mensagem da macrobiótica é igual, para avançarmos na vida temos de aprender a encontrar esse equilíbrio, diariamente, na nossa casa, que é o nosso corpo, e assim avançamos, em busca dos nossos sonhos, de uma forma mais eficiente. ‘Mente sã, corpo são’ como nos lembrava também Francisco Varatojo”, diz Paula Azevedo.
Geografia e clima
Esse equilíbrio só se atinge se a nossa alimentação for um reflexo do ponto geográfico onde estamos e do clima. “Não só porque nos faz melhor comermos local e sazonalmente, mas também para que as nossas escolhas não tenham um impacto negativo noutros povos. Por exemplo, quando todos comemos quinoa, há um impacto brutal para a economia de vida desses povos, que têm, hoje em dia, dificuldade em comprar e alimentar-se do cereal que os alimentou desde sempre. Temos de estar alerta para a nossa pegada ecológica e, claro, para o impacto no planeta de tudo isto”, alerta Paula Azevedo.
Quando for às compras, é importante fazer as melhores escolhas, neste caso, por exemplo, comprar a quinoa de origem portuguesa. Leia sempre as embalagens, origens dos produtos e os ingredientes e evite alimentos que vêm do outro lado do mundo, como as frutas tropicais, já que não fazem parte do nosso ambiente.
Como descreve Paula Azevedo, “existe uma relação entre o nosso bioma interno e o externo. As raízes do nosso corpo, os intestinos, estão ligadas ao sítio onde vivemos, tal como uma árvore”.
“Se comermos o que é da estação, estamos em harmonia com a Natureza. Se comermos o que cresce no inverno, em princípio esses alimentos dão-nos tudo o que precisamos para passarmos melhor a estação”, diz a especialista em macrobiótica.
“Quando comemos morangos nas estações frias, sentimos frio”, exemplifica, isto “porque são uma fruta de primavera-verão e, como tal, têm a qualidade de nos refrescar internamente, algo que não queremos quando está frio. Existe uma inteligência na ordem natural das estações, que podemos seguir, como se fazia tradicionalmente. Desse modo, cuidamos do corpo e da terra ao mesmo tempo”.
Inverno na cozinha
Nesta altura do ano, aconselha Paula Azevedo, além dos cereais integrais, estufados de leguminosas, como os feijões azuki com abóbora, devemos preferir os legumes de raiz, como as cenouras, por exemplo, legumes de folhas verdes mais escuras, como a kale, couve-portuguesa e castanhas.
No que diz respeito aos métodos de confeção, a especialista diz que podemos usar todos eles, mas dar preferência aos que geram mais calor. Exemplo disso são os alimentos cozinhados na panela de pressão, estufados longos, pratos no forno e tempura, porque ajudam a subir a temperatura interna.
“Na macrobiótica, cozinha-se mais no inverno do que no verão, porque, no primeiro, queremos aquecer e, no segundo, arrefecer. Quando usamos os métodos culinários a nosso favor, é como se gerássemos sol dentro de nós e o nosso sistema digestivo agradece. Podemos cozer, saltear, usar o forno, o vapor, escaldar fritar e fermentar”, descreve Paula Azevedo.
Mexer o corpo
Outro fator importante para a macrobiótica é exercitar o corpo. “Temos de fazer a nossa máquina andar. Podemos comprar tudo do melhor para a nossa despensa, mas, se não nos mexermos, ficaremos aquém de resultados realmente extraordinários.
Andar, pelo menos, 30 minutos por dia ou escolher um exercício que tenha significado para nós é fundamental. O exercício também é uma fonte de prazer e a vida é alegria”, realça Paula Azevedo.
“Não se esqueça também de respirar e fazê-lo bem, pela barriga como quando era bebé. Respirar é a principal comida do nosso corpo”, lembra a especialista.
É por tudo isto que a macrobiótica vai além de uma dieta alimentar. “É transversal à nossa vida, é tentar viver seguindo princípios que não são apenas da macrobiótica, mas princípios de ecologia e de justiça social. Todos eles ajudam-nos a sermos mulheres e homens melhores e a pensar no mundo que queremos em vez de fecharmos os olhos ao que acontece à nossa volta. Temos o poder da escolha e podemos fazê-lo, cuidando de nós e de tudo o que nos sustenta, simultaneamente”, remata Paula Azevedo.