Com a quantidade de informação relativa à alimentação com que somos bombardeadas quase diariamente, é normal que tenhamos algumas dúvidas sobre o tema. Por vezes, pode tornar-se difícil perceber o que devemos (ou não) comer, que alimentos são ‘saudáveis’ e quais aqueles de que devemos fugir a sete pés.
Começam a surgir opções sem glúten nos menus de muitos restaurantes, e há quem se sinta tentado a escolher esses pratos, ainda que não tenha qualquer tipo de intolerância.
Seja por falta de conhecimento ou por tentativa de seguir “a nova dieta da moda”, abdicar de certos alimentos apenas porque pensamos ser esse o caminho certo não é benéfico e pode mesmo, em raros casos, ser prejudicial.
Decidimos criar um pequeno guia sobre o glúten e clarificar alguns dos mais famosos mitos sobre esta proteína. Para tal, recorremos à ajuda da imunoalergologista Cristina Arêde, do Centro de Alergia CUF, que nos explicou a diferença entre as várias condições de saúde associadas ao glúten. Mas, antes, vamos responder à pergunta mais importante de todas.
Afinal, o que é o glúten?
É um conjunto de proteínas vegetais insolúveis que conferem estrutura a vários alimentos. O trigo é uma das suas principais fontes, mas também o encontramos no centeio, na cevada e na aveia. Pão, massas, bolos e bolachas, cereais de pequeno almoço e cerveja são alguns dos alimentos que contêm glúten.
Será que sou intolerante? Poderei ter doença celíaca?
Há que saber distinguir entre a alergia ao trigo, a intolerância e a doença celíaca. Apesar de todas estarem relacionadas com o glúten, manifestam-se de forma diferente de pessoa para pessoa.
• A alergia ao trigo consiste numa doença que se manifesta com reações alérgicas (por exemplo, rinite, eczema, asma, urticária, eczema, dor abdominal ou diarreia) quando a pessoa ingere trigo.
• A intolerância ao glúten verifica-se quando existe uma dificuldade na sua digestão. A especialista explica que, atualmente, se admite a existência de “sensibilidade ao glúten não-celíaca”, isto é, algumas pessoas têm sintomas intestinais quando ingerem alimentos com glúten, no entanto não têm doença celíaca nem alergia.
Esta intolerância ou sensibilidade manifesta-se com a presença de sintomas extraintestinais (como mal-estar, irritabilidade, cansaço, dores de cabeça e ansiedade). Pode gerir-se “reduzindo a ingestão de alimentos com glúten, tanto em frequência como em quantidade”.
• A doença celíaca afeta apenas 1% a 3% da população portuguesa e consiste numa doença autoimune que leva a que, quando em contacto com o glúten, o intestino perca a sua capacidade de absorção de nutrientes (como o ferro, o ácido fólico, o cálcio e as vitaminas).
Quem tem esta doença deve evitar por completo a ingestão de glúten, visto que mesmo quantidades muito reduzidas podem ter efeitos negativos ou até mesmo causar danos irreparáveis.
6 mitos sobre o glúten clarificados
O glúten engorda
De acordo com a especialista, “retirar o glúten da alimentação não emagrece e não é mais saudável”. A possibilidade de emagrecer após a sua eliminação está relacionada com a redução do consumo de alimentos como bolos, massas e pão, que são, naturalmente, mais calóricos.
O glúten faz mal à saúde
Este mito está associado à ideia de que, por norma, os alimentos que contêm glúten são aqueles que são mais pobres no que toca aos nutrientes (bolos, bolachas, cereais de pequeno almoço, massas e pão). No entanto, a especialista afirma que “o glúten só faz mal à saúde a quem tem alergia ou intolerância”.
Eliminar o glúten da dieta ajuda a ter mais energia
Esta ideia também é errada. Um indivíduo saudável, sem alergia ou intolerância, não sentirá qualquer diferença eliminando o glúten da sua dieta. Pode ser verdade, no entanto, para quem tenha doença celíaca.
Mesmo não sendo intolerante, devo eliminar o glúten da minha dieta
A imunoalergologista não recomenda que pessoas saudáveis, sem alergia ou intolerância ao glúten, o eliminem da sua dieta.
Quem tem doença celíaca pode consumir um bocadinho de glúten de vez em quando
As pessoas que têm doença celíaca devem fazer uma dieta exclusivamente sem glúten, já que o seu consumo, mesmo em quantidades muito reduzidas, causa inflamação do intestino.
Não é possível ter doença celíaca se não existem sintomas
Por vezes, o que acontece é que “os sintomas da doença celíaca podem passar desapercebidos e muitos casos são diagnosticados só na idade adulta por se confundirem com outras doenças ou serem flutuantes no tempo”.