Numa época em que se multiplicam os conceitos alimentares, vamos falar de um dos mais recentes, o seagan (seafood + vegan), “uma dieta inteiramente baseada em alimentos vegetais, incluindo algas, com uma exceção: a adição de peixe sustentável, duas ou três vezes por semana (tal como é recomendado pela Associação Americana do Coração)”, explicam Amy Cramer e Lisa McComsey, chef vegan e copywriter, respetivamente, e as criadoras do conceito.
Cinco anos depois de deixarem de consumir alimentos de origem animal, como nos contam em entrevista, “começaram a sentir falta dos ácidos gordos essenciais ómega-3 que só são fornecidos pelos alimentos vindos do mar”. A primeira opção foi “tomar óleo de peixe como suplemento, mas depois de muitas pesquisas” perceberam que “o organismo absorvia melhor os nutrientes diretamente do peixe”.
Voltaram a comer este ingrediente e partilharam a sua experiência no livro Seagan Eating: The Lure of a Healthy, Sustainable Seafood + Vegan Diet (TarcherPerigee).
Vegan vs. seagan
Mas serão os seagans diferentes dos piscitarianos ou dos flexitarianos? Em comparação com os primeiros (vegetarianos que comem peixe), a grande diferença “é que estes consomem produtos lácteos e, muitas vezes, ovos, e os seagans não consomem nem um nem outro”, dizem Amy Cramer e Lisa McComsey.
Por sua vez, a dieta seagan aproxima-se muito da flexitariana, porque ambas “encorajam uma alimentação baseada nos alimentos vegetais e permitem alimentos animais com moderação, mas a segunda inclui carne, ovos e lacticínios”, referem Amy Cramer e Lisa McComsey, que também não comem alimentos processados.
Em termos nutricionais, será a dieta seagan mais benéfica do que a vegan? “Uma dieta que tenha como base uma alimentação vegetal tem a vantagem de ser muito rica em fibra, vitaminas e minerais, o que favorece o funcionamento do intestino, regula a pressão arterial, ajuda no controlo da diabetes e é muito rica em antioxidantes”, afirma Diana Baião, nutricionista do Instituto Teresa Branco.
Contudo, a especialista em Nutrição lembra que “o consumo exclusivo de alimentos de origem vegetal tem como principal desvantagem a falta de vitamina B12, existente maioritariamente em alimentos de origem animal. Para colmatar um possível défice, é fundamental utilizar e alternar fontes proteicas de origem animal (principalmente lacticínios e ovos) e proteínas de origem vegetal, como as leguminosas, os frutos oleaginosos, as sementes e os cereais não refinados, para se obterem fontes proteicas completas”.
Portanto, a dieta seagan tem o melhor de dois mundos ao “dar ênfase ao consumo de alimentos vegetais de boa qualidade, sazonais, à escolha de produtos sustentáveis e de produção local, mas também permitir o consumo de proteínas de origem animal de boa qualidade, como é o caso do pescado e marisco, ajudando no combate a possíveis défices nutricionais”, garante Diana Baião.
Mas isso não quer dizer que uma dieta vegan não seja saudável, como explica a nutricionista, terá é de ser bem estruturada e recorrer a suplementação.
Dieta sustentável
A sustentabilidade é uma preocupação adjacente à dieta seagan. “Encorajamos a comer apenas peixe local e capturado de forma sustentável, rico em ómega-3 e pobre em contaminações”, afirmam Amy Cramer e Lisa McComsey.
E isso traz vantagens não só para o ambiente como para a saúde. Consumir produtos da época, diz Diana Baião, “minimiza a utilização de coadjuvantes de crescimento, pesticidas, corantes (como é o caso de alguns peixes de aquacultura)”.
Deve-se ainda evitar o consumo de peixes que estão no final da cadeia alimentar, “pois contêm níveis de mercúrio mais elevados, que é tóxico para o organismo, como é o caso do peixe-espada, cavala e atum, que simultaneamente são ótimas fontes de ómega-3, tal como o salmão e as sardinhas, que não têm níveis de mercúrio preocupantes”, descreve a nutricionista.
“A regra para os produtos vegetais é a mesma: sempre que possível, devem ser orgânicos”, realçam as autoras de Seagan Eating.
Um exemplo
Foi depois de ler este livro que a chef vegan Sarah Maraval pensou em introduzir o conceito em Portugal. “Como o peixe faz parte da nossa cultura gastronómica, pensei que seria bem aceite”, conta. E se assim o pensou, melhor o fez e foi apresentar o conceito ao chef Eddie Melo, do Akla, restaurante do hotel InterContinental Lisbon, com quem já tinha colaborado na elaboração de um menu vegan.
Ideia aceite. Sarah Maraval – ela que já foi 100 por cento vegan e crudívora – começou, assim, a cozinhar peixe. Desde setembro que no menu executivo de almoço (16,50€) do Akla existe, então, um prato seagan que muda semanalmente.
Até hoje não houve nenhum que se repetisse, o que implica um trabalho constante de pesquisa. “A inspiração muitas vezes começa num ingrediente ou numa forma de confeção”, descreve Sarah Maraval.
“A proteína do mar nunca é a estrela do prato, mas um complemento. A parte vegan tem de sobressair”, diz a chef, sendo que alguns pratos são vegan, porque em vez de peixe, usam apenas algas. Os conhecimentos do chef Eddie Melo acerca do peixe, de onde vem e de como é pescado, tem sido essencial para desenvolverem o conceito, pois só trabalham com peixes locais e de mar.