Nutrição

Decidir o que comer tornou-se numa engenharia complicada. Descomplique e regresse às origens

Construímos o nosso corpo no dia a dia. Fazemo-lo desde o dia em que nascemos, cerca de três vezes por dia.

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Decidir o que comer tornou-se numa engenharia complicada. Descomplique e regresse às origens Decidir o que comer tornou-se numa engenharia complicada. Descomplique e regresse às origens
© Getty Images
Paula Azevedo, cronista
Escrito por
Fev. 29, 2020

A verdade é que somos criadores de nós próprios, quer queiramos quer não. Temos ao nosso serviço um sistema altamente complexo e eficaz que aspira constantemente à manutenção da ordem natural que nos anima: o corpo tende sempre para a homeostasia.

Quem nunca se deparou com este mesmo cenário: sentir-se doente, cansada e sem apetite; depois, sem procurar outro remédio, para, descansa e respeita a fome que não sente, deixando de sobrecarregar o sistema digestivo com os abusos e excessos alimentares que andava a cultivar. E eis que, passados um ou dois dias se restabelece, ganha novas cores, os níveis de energia regressam e sente-se bem.

O que aconteceu? Gerou uma simplicidade interna tal respeitando os desígnios do corpo que o organismo conseguiu restabelecer a ordem perdida.

Também, segundo a perspetiva oriental, tudo começa no sangue. Criamos sangue novo a cada garfada. É através do que comemos que alimentamos a nossa estrutura
Paula Azevedo Paula Azevedo

A propósito, já nos dizia Voltaire: “a arte da medicina consiste em distrair o paciente enquanto a natureza cuida do resto”. Em muitas das nossas manifestações de fraqueza, sem dúvida que assim é.

Para George Ohsawa, um dos principais difusores da macrobiótica no ocidente, a doença representa isso mesmo: uma quebra na ordem natural, mas que uma vez recuperada, dá lugar, novamente, a um estado de saúde. E assim começa a dança: a saúde é pois um movimento, uma pesquisa, uma oportunidade de acertarmos o passo, dia após dia.

Segundo a perspetiva oriental, tudo começa no sangue. Criamos sangue novo a cada garfada. É através do que comemos (para além do que pensamos, fazemos e sentimos) que alimentamos a nossa estrutura.

Criando e recriando o sangue – esse líquido tão fundamental que circula dentro de nós, nas células, órgãos e em todos os sistemas – construímos um ambiente interno que anima não só a vitalidade do corpo físico, como a qualidade do nosso sistema nervoso, alicerce e motor do tipo de vida que temos vindo a experienciar até aqui.

A nossa escolha é fácil: dar ao corpo o que ele quer. E o que ele quer? Quer natureza! Simples, mas nem sempre é fácil porque complicamos.

7 passos para se aproximar da natureza

1. Escolha alimentos verdadeiros

Podemos comer de tudo mas dos efeitos no corpo não escapamos. Eleja, por isso, os alimentos que estejam o mais próximo possível do seu estado natural. Alimentos íntegros, inteiros e completos, como cereais integrais, legumes, vegetais, feijões, algas (legumes do mar), frutas, sementes, oleaginosas.

2. Evite comprar (tanto quanto possível) produtos ou alimentos empacotados

Altamente processados, com químicos, cheios de aditivos e de substâncias impronunciáveis, estes produtos encontram-se, em menor ou maior escala, distantes da força do alimento natural.

Se tiver de ler os ingredientes para perceber o que está a comprar é já um mau prelúdio; mas não deixe, claro, de os ler, para fazer uma escolha informada.

3. Coma produtos frescos e da estação do ano em que se encontra

O que comemos torna-se parte integrante do nosso sistema, pelo que alimentarmo-nos de produtos frescos e viçosos, dá-nos vitalidade acrescida. Lembre-se de que um alimento natural perece ao final de uns dias.

Longe dos campos, das árvores e do mar, o alimento estraga-se se não for consumido rapidamente e isso é um ótimo sinal. Não é por acaso que na história das civilizações se desenvolveu a arte de conservar alimentos para o ano inteiro, fermentando, conservando em sal e secando ao sol.

4. Cozinhe as suas próprias refeições

Tanto quanto possível, dedique-se a orquestrar o que alimenta a sua estrutura. Com as suas mãos, inteligência e discernimento, cozinhe o que alimenta o seu corpo.

Entenda que ao cozinhar o que come, com os alimentos que adquiriu, aumenta exponencialmente a qualidade das suas refeições e dos seus efeitos, mas principalmente desenvolve um auto-conhecimento sobre o que lhe faz melhor ou pior, uma vez que esteve evolvida em cada passo.

Fazer é poder! Não sabe cozinhar? Aprenda e simplifique.

Sinta o que os orientais chamam de ki, a força/sopro da vida presentes em todas as coisas animadas. Desenvolva essa sensibilidade, toque, cheire, observe todos esses produtos da terra que crescem e expandem tão naturalmente
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5. Dias excecionais são dias excecionais

A saúde constrói-se dia a dia. Transformar situações excecionais num problema de restrições alimentares ou transformar todas as refeições num banquete de casamento só lhe tiram liberdade e oportunidades.

Um sistema digestivo saudável adapta-se facilmente a tudo (especialmente se mastigar bem), mas claro, a outra face da mesma moeda é que isto só funciona se no dia a dia nos alimentarmos convenientemente.

6. Se tiver oportunidade, não deixe de passear

Pode juntar-se mesmo a um grupo de amigos ou conhecidos que cultivem uma horta, um pomar ou que tenham campos cultivados. Sinta o que os orientais chamam de ki, a força/sopro da vida presentes em todas as coisas animadas.

Desenvolva essa sensibilidade, toque, cheire, observe todos esses produtos da terra que crescem e expandem tão naturalmente.

Cultive esse sentido de satisfação por estar em contacto com a força das coisas que come. Isso mudará a sua perspetiva sobre o que comprar e como escolher. Um pouco diferente de comprar embalagens etiquetadas num corredor de supermercado, não?

7. Um corpo saudável vive em pleno quando a sua função está em pleno

Mexa-se e mexa-se mais.

Vida gera vida. Coma e cozinhe a sua paisagem, esta é a direção!

Paula Azevedo é consultora, professora e chef de Macrobiótica. Para mais informações, contactar através do e-mail p.narciso.azevedo@gmail.com.

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