Para que servem os pré e os probióticos? Uma nutricionista responde
Uma ingestão apropriada de ambos pode melhorar a saúde da microbiota intestinal, algo fundamental para a saúde e para o bem-estar. Saiba o que os prebióticos e probióticos podem fazer por si.
De quase ignorado a apelidado de segundo cérebro, o intestino tem ganho importância e, sabe-se hoje, que, quando é saudável, contribui (e muito) para nossa saúde e bem-estar. Por outras palavras, o sistema digestivo vai muito além de processar a comida que ingerimos, e a microbiota intestinal tem uma palavra a dizer em tudo isto e, quanto mais diversa for, melhor.
Qual será o papel dos prebióticos e probióticos no bom funcionamento do trato gastrointestinal? Foi esta a pergunta que fizemos a uma nutricionista.
O que são os prebióticos e os probióticos
No nosso organismo, vivem cerca de 40 mil milhões de micróbios e muitos deles têm um papel preponderante na preservação da saúde do intestino e na absorção dos nutrientes que ingerimos por via alimentar.
Na verdade, prosperam com a ajuda de diferentes alimentos, por isso, não é de estranhar que a alimentação seja uma das formas mais eficazes de estimular a diversidade da microbiota intestinal.
Portanto, quanto mais diversificada for, melhor funcionará o seu intestino, que agradece a presença de alimentos ricos em fibras (cereais integrais, leguminosas, fruta, frutos secos, hortícolas).
O equilíbrio entre bactérias boas e más no intestino é fundamental. E é aqui que entram os prebióticos e os probióticos.
Os primeiros são um tipo de fibra alimentar que, como nos diz Sónia Sá, nutricionista Celeiro, “são componentes alimentares que não são digeríveis pelo organismo humano e, no intestino, servem de substrato de crescimento (alimento), aos microrganismos probióticos. O seu benefício exerce-se ao permitirem a proliferação dos probióticos que, por sua vez, limitam o crescimento dos microrganismos patogénicos, que é a principal vantagem para o hospedeiro (ser humano)”.
De fibra
Os prebióticos mais conhecidos são a inulina, os frutooligossacáridos e os galacto-oligossacarídeos e estão presentes “na fruta, nos produtos hortícolas, nas leguminosas e nos cereais”, destaca a nutricionista, que dá como exemplos a banana verde, a cebola, o alho, as ervilhas, a soja, a cevada.
No livro Super Digestão (Lua de Papel), Megan Rossi, nutricionista, com doutoramento em Saúde Intestinal, escreve que as vantagens dos prebióticos vão “desde melhorar o controlo da glicose e a regulação do apetite a fomentar a saúde óssea e dérmica. Há também vários ensaios clínicos que demonstram os benefícios dos prebióticos para a imunidade, com evidência bastante convincente de que os prebióticos podem reduzir a necessidade de tomar antibióticos em particular nas crianças e nos idosos”.
Flora intestinal
Já os probióticos, como vimos atrás, são microrganismos ‘bons’ que vivem na nossa microbiota, ou seja, são os que queremos preservar e alguns alimentos ajudam-nos nessa tarefa.
“Os probióticos são microrganismos vivos que, quando ingeridos em quantidade suficiente, contribuem para um efeito benéfico no hospedeiro. Consistem em determinadas espécies de bactérias dos géneros Lactobacillus, Bifidobacterium e de outras bactérias ácido-lácticas, bem como alguns fungos do género Saccharomyces, presentes em alguns alimentos, bebidas ou suplementos alimentares, que vão contribuir para um equilíbrio microbiano benéfico da ¢ora intestinal. Este benefício lato tem repercussões muito específicas sobre a homeostasia do ser humano (hospedeiro), sobretudo ao nível da saúde do sistema digestivo”, explica Sónia Sá.
Podemos, então, encontrar probióticos “nos leites fermentados, iogurtes, queijos, bebidas, produtos fermentados diversos (à base de soja, à base de frutos secos, etc.) e, em forma doseada e concentrada, em suplementos alimentares”, refere a nutricionista.
A fermentar
A fermentação, processo no qual bactérias e leveduras transformam e preservam alimentos e bebidas, é usada há milénios.
“Os alimentos e as bebidas fermentados contribuem para a ingestão de microrganismos probióticos, mas não nos devemos esquecer de que os probióticos são os microrganismos vivos utilizados para a sua produção e os que se multiplicam durante o processo de fabrico e mantêm vivos, no momento do consumo desses alimentos e dessas bebidas”, esclarece Sónia Sá.
Para a nutricionista, “os benefícios do consumo de alimentos e bebidas fermentados assentam na sua riqueza em microrganismos probióticos vivos e na sua ação sobre a colonização benéfica do intestino, em detrimento da proliferação de microrganismo patogénicos. O efeito mais sentido com o seu consumo incide sobre o sistema digestivo, por exemplo na promoção da regularização do trânsito intestinal, combatendo os estados de desequilíbrio (diarreia ou obstipação)”.
Várias vantagens
A ingestão de prebióticos e probióticos deve, de acordo com Sónia Sá, “ser realizada no contexto de uma refeição”.
A nutricionista refere ainda que, “atualmente, desconhece-se que existam recomendações diárias para o consumo específico de probióticos, prebióticos e fermentados. Contudo, a evidência a hipótese de que a inclusão de alimentos e bebidas fermentados na alimentação quotidiana ou de suplementos alimentares que contenham probióticos isoladamente ou probióticos com prebióticos poderá ser vantajosa para o equilíbrio da flora intestinal“.
“De forma geral, será aceitável que um produto à base de probióticos tenha um mínimo de 106 UFC (Unidades Formadoras de Colónias)/mL ou /g e que, no total, por dia, exista um consumo diário de 108 a 109 microrganismos probióticos vivos, para que o efeito probiótico (colonização benéfica do intestino) seja alcançado”, remata.
A investigação nesta área é muito recente, mas, como realça Megan Rossi, no livro já citado, até à data, uma microbiota desequilibrada está associada a mais de 70 problemas diferentes, que podem contribuir para o aparecimento de várias doenças.
Os benefícios de ter uma alimentação amiga do intestino vão além de melhorar os sintomas gastrointestinais que poderá ter, pois “aumenta também a capacidade de resistir à gripe, os níveis de felicidade, a velocidade do seu metabolismo e até a saúde de outros órgãos, como o coração e o fígado (que é o principal desintoxicante do corpo)”, escreve Megan Rossi.